29 Julho 2025
A mineração no Brasil não traz os benefícios econômicos sustentados frequentemente alardeados, enquanto a mineração informal é um dos principais impulsionadores do desmatamento, especialmente na Amazônia.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 29-07-2025.
Um novo estudo oferece uma das avaliações mais abrangentes até o momento, combinando imagens de satélite e dados econômicos para analisar os impactos ambientais e econômicos da mineração em escala municipal em todo o Brasil.
Apesar de sua reputação como catalisadora do desenvolvimento econômico, há surpreendentemente poucas evidências sobre como a mineração afeta as economias locais ou como esses impactos se comparam aos custos ambientais. Essa questão é particularmente urgente no Brasil, um país que é um polo global de mineração e abriga alguns dos ecossistemas mais importantes do mundo.
O estudo, publicado na Nature Communications por pesquisadores do IIASA, da Universidade de Economia e Negócios de Viena (WU) e da Universidade de São Paulo, Brasil, comparou os efeitos das operações de mineração industrial em larga escala com a mineração informal de pequena escala, ou garimpo. Embora existam estudos de caso sobre minas individuais, este estudo teve uma visão nacional, abrangendo mais de 5.000 municípios, monitorando os efeitos econômicos e ambientais da mineração ao longo do tempo e em áreas vizinhas. Os autores combinaram dados de satélite com estatísticas econômicas oficiais para obter um panorama completo.
“A mineração é frequentemente promovida por líderes políticos e empresariais como um caminho para a prosperidade, mas descobrimos que a realidade na prática é muito mais complexa e frequentemente decepcionante”, explica o autor principal Sebastian Luckeneder, pesquisador do Instituto de Economia Ecológica da Universidade de Economia e Negócios de Viena (WU). “Nossos resultados mostram que, em muitos casos, o impulso econômico é de curta duração e acarreta danos ambientais duradouros.”
Embora a mineração industrial seja em larga escala e operada por empresas com maquinário pesado e licenças legais, a mineração de garimpo é frequentemente desregulamentada ou ilegal, sendo especialmente prevalente na região amazônica. Os resultados mostram que a mineração de garimpo está intimamente ligada ao desmatamento, enquanto a mineração industrial não demonstrou uma forte ligação com a perda florestal. No entanto, em termos de resultados econômicos, nenhum dos modelos apresentou melhorias constantes e de longo prazo.
“Embora a mineração industrial às vezes traga crescimento econômico de curto prazo, esses benefícios muitas vezes desaparecem em poucos anos. Em algumas regiões, observamos até sinais de declínio econômico, tanto em áreas de mineração quanto em municípios vizinhos”, afirma a coautora Juliana Siqueira-Gay, da Universidade de São Paulo.
“Ficamos surpresos ao ver a rapidez com que os benefícios econômicos da mineração industrial desapareceram com a queda dos preços globais das commodities”, acrescenta o coautor Victor Maus, pesquisador do Grupo de Pesquisa de Novos Ecossistemas de Dados para Sustentabilidade do Programa de Análise Avançada de Sistemas do IIASA. “Até mesmo regiões vizinhas mostraram sinais de declínio, o que levanta sérias preocupações sobre a dependência excessiva da mineração como estratégia de desenvolvimento.”
As descobertas desafiam a suposição predominante de que a mineração impulsiona automaticamente as economias locais.
“Nossas descobertas desafiam a ideia de que a mineração seja um motor confiável para o desenvolvimento local”, observa Tamás Krisztin, outro coautor e pesquisador sênior do Grupo de Pesquisa Futuros Integrados da Biosfera do Programa de Biodiversidade e Recursos Naturais do IIASA. “Os benefícios econômicos ocorreram principalmente antes de 2010. Os custos ambientais, especialmente da mineração informal, foram inicialmente altos, depois diminuíram temporariamente, mas ressurgiram nos últimos anos.”
Os autores enfatizam que a forma como a mineração é gerenciada faz uma diferença crucial. Eles instam os formuladores de políticas a regulamentar a mineração informal de forma mais rigorosa, a implementar salvaguardas ambientais e sociais robustas e a monitorar de perto as atividades, especialmente em ecossistemas vulneráveis como a Amazônia. Em regiões onde a supervisão responsável não é possível, eles sugerem que a mineração seja totalmente restringida.
“A mineração continuará sendo necessária para o fornecimento de matérias-primas, mas precisamos parar de tratá-la como uma solução milagrosa para o desenvolvimento econômico. Precisamos priorizar a eficiência dos recursos, investir em reciclagem e garantir que a mineração só aconteça quando servir claramente ao bem público mais amplo, econômica, social e ambientalmente”, conclui Michael Kuhn, Diretor do Programa Fronteiras Econômicas do IIASA, que também foi coautor do estudo.