04 Março 2024
Como uma bola de fogo lançada a toda velocidade, a extração global de matérias-primas recebeu uma aceleração vertiginosa. Mas esses recordes também levam a uma pulverização cada vez maior das esperanças de honrar os compromissos internacionais no desafio climático e ambiental. Quem reconstrói em detalhar essa corrida é um novo relatório da ONU, o Global Resources Outlook 2024, editado por um painel internacional de especialistas associados ao PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Embora criticada há tempo, a abordagem "extrativista" da economia mundial continua a dominar, a julgar pelos dados recentemente publicados. Isso também significa que o caminho virtuoso da sobriedade, em geral, continua sendo um ideal ainda distante da realidade.
A reportagem é de Daniele Zappalà, publicada por Avvenire, 02-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há meio século, destaca o estudo, todos os indivíduos do planeta consumiam, em média, anualmente 8,4 toneladas de materiais extraídos, enquanto hoje passou-se para 13,2. Considerando o crescimento em paralelo da população mundial, isso levou a uma aceleração das taxas das extrações, até uma taxa média de crescimento de 2,3% ao ano. Os dados não dizem respeito às culturas agrícolas, mas ao conjunto das matérias-primas retiradas do ambiente: biomassa, como a madeira, mas também minerais e metais de todos os tipos, ao lado dos combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás. Este 2024 deveria, portanto, registar um novo aumento, com 106 bilhões de toneladas de matérias-primas extraídas em todo o mundo. No geral, mais do triplo do que era retirado em 1970, ou cerca de 30 bilhões de toneladas.
Entre os setores que mais utilizam recursos extraídos, destacam-se a construção residencial, mas também as redes de energia, o setor automobilístico e os transportes em geral. Em termos sociais, o “boom” também está associado ao consumismo das novas classes médias, especialmente na Ásia.
Apesar da crescente atenção que recebem, os construtores que utilizam materiais reciclados hoje permanecem em grande parte minoritários em escala mundial. O mesmo se aplica à utilização de materiais de construção inovadores e com pouco impacto ambiental, como os cimentos de baixa densidade. Segundo Inger Andersen, diretora executiva da Pnuma, os métodos utilizados continuam sendo predominantemente marcados por uma inércia fundamental, com recursos “extraídos, tratados, consumidos e jogados fora de uma forma que provoca a tripla crise planetária das mudanças climáticas, da poluição natural e dos resíduos”. Entre 2020 e 2060, a extração de recursos poderia assim continuar a crescer 60%: uma aceleração projetada que irá ultrapassar o limiar de 2 graus de aumento na temperatura média planetária, ou seja, o limite máximo estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015 sobre o clima.
No cabo de guerra entre inércia extrativista e chegada de uma geração de “remendadores” do planeta, tornou-se, portanto, mais urgente do que nunca, em nível político e civil, ajudar estes últimos: “A questão chave já não mais se é necessária uma transformação para uma utilização global sustentável dos recursos, mas como realizar isso imediatamente”.
O destino, portanto, ainda não está “selado”, mas o tempo está se esgotando.
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“A corrida às matérias-primas está matando o clima global” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU