17 Julho 2025
As acusações de antijudaísmo não são, na visão do judaísta de Lucerna Christian Rutishauser, um obstáculo à canonização de Carlo Acutis. Em sua coleção de milagres eucarísticos, Acutis não retomou o antijudaísmo dos séculos XIII e XIV, disse Rutishauser na quarta-feira à emissora Deutschlandfunk. Segundo ele, embora as lendas estejam marcadas por antijudaísmo, Acutis se refere em sua coletânea apenas a “incrédulos” que teriam tentado profanar as hóstias. “O elemento judaico foi retirado. Não é mais antijudaico nem antissemita, mas tornou-se assemítico”, explicou o jesuíta.
A informação é publicada por Katolish.de, 16-07-2025.
Acutis teria uma verdadeira piedade, afirma Rutishauser, e por isso ele se posiciona a favor da canonização. Acutis pode ser um exemplo para os jovens. Ao mesmo tempo, porém, ele pede que a Igreja se confronte com os conteúdos antijudaicos presentes nas narrativas dos milagres eucarísticos e os aponte explicitamente. Esse caráter das lendas ainda está muito vivo na memória da comunidade judaica. “Por isso é necessário que a Igreja se aproxime previamente da comunidade judaica e contextualize isso, para que a fé cristã não seja celebrada às custas da fé judaica”. Essa sensibilidade, diz ele, é uma exigência que faz como teólogo e judaísta — e que ainda falta. Frequentemente, ouve-se o argumento de que se deseja apenas celebrar a fé católica, sem problematizar tudo. “Mas isso é simplista”, acrescentou Rutishauser.
A maneira como Acutis, que tinha 15 anos ao morrer, tratou essas narrativas e o “entendimento mágico e naturalista” da Eucaristia nelas contido não pode ser considerado culpa sua. “Se vamos venerar Acutis, não deveríamos fazê-lo no nível de um jovem de 16 anos, mas como adultos e com uma abordagem reflexiva”, enfatizou Rutishauser. Ele expressou dúvidas sobre se houve sensibilidade suficiente no processo de beatificação e canonização em relação à dimensão antijudaica das narrativas de milagres eucarísticos. Ele gostaria que esses aspectos tivessem sido tratados de forma proativa.
Em meados de junho, o encarregado alemão para o antissemitismo, Felix Klein, manifestou-se de forma crítica sobre a canonização de Acutis. Ele lamentou que o antijudaísmo presente nas narrativas de milagres eucarísticos e suas consequências aparentemente não tenham desempenhado papel algum no processo de canonização. Para ele, é urgente que esse aspecto não seja abordado pelas autoridades da Igreja apenas mediante questionamentos externos: “Agora seria a oportunidade de se posicionar sobre isso”.
O liturgista Marco Benini, da Universidade de Trier, saiu em defesa de Acutis diante das críticas. Na avaliação dele, Acutis provavelmente nem sequer tinha conhecimento desses contextos: ele apenas reuniu, em uma lista, todos os milagres eucarísticos que conseguiu encontrar na internet. Benini destacou que a canonização planejada para o dia 7 de setembro não é a canonização dos milagres medievais, mas “a canonização de um adolescente de 15 anos que os compilou”.