14 Outubro 2020
"Ele tinha uma sutileza, uma elegância inata ... Vou lhe dar um exemplo: havia um porteiro, Mário, uma figura histórica do colégio Leone XIII. Carlo, como outros meninos, cumprimentava-o todas as manhãs na entrada. Mas às vezes ele entrava pelo lado da piscina. Mário disse-me que naqueles dias Carlo ia cumprimentá-lo no intervalo, quase a pedir desculpa por não o ter feito antes”. O padre jesuíta Roberto Gazzaniga era assistente espiritual dos alunos do colégio naquela época, figura semelhante à do guia dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio. E ele se lembra bem dele, Carlo Acutis, o jovem milanês de 15 anos que morreu em 2006 de leucemia fulminante e que ontem, na Basílica Superior de Assis, foi solenemente proclamado “beato".
A entrevista com Roberto Gazzanida é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 11-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que tipo de garoto era Carlo?
Um rapaz capaz de sorrir e de brincar, uma presença positiva. Uma daquelas pessoas que, quando estão presentes, você se sente melhor. Que te ajudam a viver, a nível humano e de fé. Eu o via e tinha vontade de dizer: ele é um pedacinho do céu para os outros meninos.
Todos dizem: um menino normal. É isso mesmo?
Sim, mas com uma normalidade, uma cotidianidade com profundidade. Carlo era talentoso. Muito. Tanto do ponto de vista intelectual – basta ver seus livros de informática: eram textos universitários - quanto espiritual. E sabe de uma coisa? Naquela idade existe muita competição. Há uma tendência a não tolerar aqueles que se destacam. No entanto, com Carlo não era assim. Ele tinha carisma. Também era um rapaz bonito, suas colegas o notavam ... E ainda assim não havia inveja. Nunca vi ninguém brigar com ele. Eles gostavam de Carlo. Uma habilidade rara de cultivar os relacionamentos humanos. Um dos colegas que mais tinha dificuldade na escola pediu-me para ajudar a missa no funeral, Carlo o havia ajudado.
Já se fala do primeiro santo dos "millennials" e patrono da internet. Que modelo é para seus pares?
O modelo de uma testemunha que evangeliza por sua própria forma de ser, com o seu exemplo. Não é um crente ‘militante’ que faz proselitismo. Conversando com seu pastor, fiquei sabendo que ele ia à igreja todos os dias, para a Eucaristia e a oração pessoal. Ele fazia voluntariado, ajudava os mais pobres e desfavorecidos. Tudo isso se notava porque ele estava ali e era visível, mas nunca era ostentado. Aos 13 anos ‘escrevia que a vida é bela e exigente e que não se constrói sobre o efémero’. A discrição ... Sim, alguém que vive a sua fé sem a esconder nem a jogar na cara, que não a faz pesar e não acende nenhum holofote sobre si mesmo. Mas estes são os santos: pessoas que vivem a realidade quotidiana com empenho e uma certa facilidade. Com um sorriso, com naturalidade. Para ele, era como respirar. E sempre estava disposto.
Por exemplo?
“Lembro-me de lhe ter pedido que preparasse um PowerPoint, ele que era tão engajado na caridade e habilidoso com o computador, para ilustrar as atividades voluntárias do Leone XIII, o pós-escola, o refeitório para os pobres, o ensino do italiano aos estrangeiros... Ele tinha acabado de iniciar o segundo ano, era uma tarefa que teria assustado a muitos, para se projetada em todas as turmas. Ele se jogou de cabeça no projeto. Não foi possível terminá-lo. Ele não veio na aula na sexta-feira. Febre forte, seu velho pediatra entendeu e disse que o levassem imediatamente ao San Gerardo de Monza. Mas não havia nada a fazer”.
Morreu em três dias...
Trouxeram ele de volta para casa. Ele estava vestido com um abrigo simples. Lembro-me de dizer à sua mãe: ela vai encontrar o que escreveu. Mais tarde, ela me mostrou um livrinho. Carlo, aos treze anos, escrevia que a vida é bela e exigente e não se constrói sobre o que é efêmero. Ele listava uma série de virtudes e desenhou uma montanha onde se elevavam gradualmente. Um menino de treze anos, você percebe?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Carlo, meu aluno beato. Ele era como um pedacinho do céu”. Entrevista com Roberto Gazzanida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU