17 Julho 2025
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) se manifestam sobre assassinato brutal de jovem Avá-Guarani no município de Guaíra, oeste do Paraná (PR). A vítima é Everton Lopes Rodrigues, filho do cacique Bernardo da Tekoha Yvyju Awary, Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá.
A informação é publicada por Cimi, 16-07-2025.
Conforme relatos, o corpo foi encontrado no último sábado (12), decapitado e abandonado em um milharal na entrada do tekoha. “O fato é acrescido de um bilhete encontrado junto ao corpo, onde constam ameaças à toda comunidade indígena da região, violando expressamente os direitos humanos inerentes à pessoa humana, bem como, àqueles reservados constitucionalmente aos povos originários”, destacou o CNDH, em nota de repúdio publicada no domingo (13).
O fato é acrescido de um bilhete encontrado junto ao corpo, onde constam ameaças à toda comunidade indígena da região.
“As comunidades indígenas do Oeste do Paraná enfrentam, diariamente, desafios vinculados à própria sobrevivência, seja por meio de ameaça direta à vida ou por ações que, indiretamente, inviabilizam suas condições de existência humana, decorrente da luta pelo território”, completa o Conselho no documento.
Em maio deste ano, o CNDH e Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), articulação política composta por 45 organizações da sociedade civil, estiveram em Missão Especial in loco ao território Avá-Guarani e atestaram a condição de vulnerabilidade social, negação de direitos, discurso de ódio e racismo contra indígenas devido à tensão dos conflitos de terra nas áreas de retomada dos municípios de Guaíra e Terra Roxa (PR).
Carta de ameaça encontrada ao lado do corpo do indígena Everton Lopes Rodrigues (Foto: Divulgação)
Em nota publicada no domingo (12), o Comitê revelou que a “a aldeia Tekoha Yvyju Awary está localizada na Terra Indígena Guasu Guavirá que está sobreposta por 165 fazendas”. Para o CBDDH, “a demarcação das terras dos Avá-Guarani é um tema central para a garantia do acesso a todos os demais direitos e esta é uma questão estrutural”.
Por sua vez, em nota à imprensa divulgada no sábado (12), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) manifestou “profunda preocupação com o bárbaro assassinato” e reiterou seu compromisso em “defender a vida, a dignidade e os direitos dos povos indígenas, certos de que nenhuma ameaça silenciará a luta ancestral por justiça e território”.
No documento, o MDHC também informou que acompanha o caso desde as primeiras horas por meio do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), em articulação com autoridades locais e federais, “a fim de assegurar a proteção das lideranças e das comunidades ameaçadas, bem como acompanhar as investigações para que este crime não permaneça impune”.
Segundo o Ministério, no Paraná, “o PPDDH acompanha 19 lideranças Avá-Guarani.”
Este não foi o primeiro caso em que um indígena é decapitado e exposto no Oeste do Paraná.
Além das manifestações de solidariedade, os três Órgãos cobram a investigação deste e dos demais crimes perpetrados contra o povo Avá-Guarani e responsabilização dos violadores. Também cobram agilidade na efetivação do acordo firmado entre os Avá-Guarani do Oeste do Paraná e Itaipu Binacional, a Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Ministério de Povos Indígenas.
Este não foi o primeiro caso em que um indígena é decapitado e exposto no Oeste do Paraná. No dia 22 de março deste ano, outro indígena Avá-Guarani foi encontrado morto e decapitado em uma estrada rural na cidade de Guaíra. Segundo relatos dos indígenas, que não foram identificados à época do crime, o corpo de Marcelo Ortiz, que atendia pelo apelido de Ku’i e morava no Tekoha Jevy, foi jogado na vegetação e a cabeça foi pendurada em uma estaca feita de galho de mamona.