15 Julho 2025
Na paisagem devastada de Gaza, onde a guerra transformou a vida cotidiana em uma crise contínua, as mulheres se tornaram sobreviventes na linha de frente, forçadas a arriscar tudo para obter o mais simples alimento. Todas as noites, elas partem na escuridão. Uma escuridão mais perigosa que a luz do dia dos bombardeios. Uma escuridão rasgada por tiros de franco-atiradores e os bombardeios dos drones. Uma escuridão caracterizada pela escolha aterradora entre arriscar a vida ou ver os filhos morrerem de fome. Para muitas mulheres, essas missões começam em tendas improvisadas que oferecem pouca proteção contra o calor escaldante ou o frio congelante.
A reportagem é de Majd al-Assar, publicada por La Stampa, 13-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Outras saem dos abrigos superlotados da UNRWA, alvos recorrentes nos últimos dezenove meses. Todas têm o mesmo objetivo: os pontos de distribuição das ajudas humanitárias, que milhares de pessoas aqui chamam de "os grandes matadouros humanos". No posto de controle de Netzarim — um dos centros mais importantes do sul da Faixa de Gaza — as pessoas se reúnem na escuridão, sem horários ou garantias. As mulheres esperam, muitas vezes a noite toda, por um sinal que pode nunca chegar. Tahreer Siyam, de 38 anos, mãe de oito filhos, descreve como acomoda os filhos antes de sair em busca de comida. "Coloco-os cedo para dormir e me despeço como se nunca mais fosse vê-los novamente. Saí em busca de comida por oito noites e só uma vez consegui trazer uma caixa. A parte mais difícil, apesar de tudo, é voltar de mãos vazias. Escondo o rosto, porque faço de tudo para não mostrar minhas lágrimas." Kifah Al-Sayed explica a confusão e o terror que caracterizam cada tentativa de obter algo para comer: "Ninguém sabe quando a distribuição de ajudas começará ou quantas pessoas realmente receberão algum alimento. É por isso que fazemos o possível para chegar cedo. Muitas vezes, enquanto esperamos, drones e aviões sobrevoam e podem nos atingir a qualquer momento. Se a multidão calcula mal o momento de se aproximar, os soldados abrem fogo, atiram, usam tanques e drones. Muitas vezes achamos que chegou a hora da distribuição das ajudas e eles nos atacam." Essas missões não são realizadas apenas por jovens. Suad Mohammed Obeid tem 57 anos e todas as noites parte para o posto de controle, deixando sozinhos seus cinco netos que ficaram órfãos. "Saio da tenda à meia-noite. Há dezenas de milhares de pessoas esperando, jovens, velhos e até crianças. Nos aglomeramos, rezamos, nos escondemos atrás das dunas de areia para nos proteger de atiradores e bombas. Finalmente, quando os portões se abrem, é puro caos. Você é esmagado por todos os lados e, se cair, ninguém ajuda. Você morre, pisoteado por aqueles que tentam de todas as maneiras sobreviver." Para os que sobrevivem, o calvário não acabou. Sem combustível para as ambulâncias, os feridos precisam caminhar por horas ou ir para o hospital em carroças puxadas por burros.
No Hospital Al-Awda, a equipe médica exausta faz o que pode para cuidar deles, sem ter os recursos necessários. Apesar do perigo que enfrentam, as mulheres retornam aos centros de distribuição noite após noite, porque as caixas pelas quais arriscam suas vidas são a única salvação para as suas famílias. Suad descreve o conteúdo assim: "Elas contêm quatro quilos de farinha, dois litros de óleo para fritar, uma lata de margarina, anchovas e atum em lata. O que os meus netos mais gostam são os biscoitos."
Quando lhe perguntam se homens e mulheres recebem a mesma quantidade de ajudas, ela abaixa a voz e responde: "Não, as caixas dadas aos homens são maiores". Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de quinhentas pessoas foram mortas tentando encontrar comida desde que a controversa Fundação Humanitária de Gaza (GHF) entrou em operação em maio.
Pelo menos outras quatro mil ficaram feridas. A GHF desmente ter havido qualquer morte, mas as Nações Unidas e mais de 130 ONGs a criticaram. Para agravar a controvérsia, o jornal israelense Haaretz noticiou que soldados israelenses receberam ordens de abrir fogo contra a multidão mesmo quando não há ameaça imediata. O exército negou. Na segunda-feira, no entanto, Israel admitiu ter havido vítimas civis palestinas perto dos centros de distribuição e anunciou novas diretrizes para os soldados destacados junto a esses.