10 Julho 2025
"Poderia reduzir pelo menos um pouco a expectativa, pesada como uma pedra, de que o padre não precisa de cuidados, ele é apenas um dispensador. Que pedir ajuda é sinal de pouca fé. Nada poderia ser mais falso. Sozinhos estamos perdidos. Todos nós precisamos aprender a pedir ajuda, a dizer quando estamos desesperados ou precisamos de um abraço. É preciso uma formação para a vulnerabilidade".
O artigo é de Chiara D'Urbano, publicado por Avvenire, 08-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Chiara D'Urbano é psicóloga e psicoterapeuta; há muitos anos acompanha, na área clínica e formativa, os processos vocacionais de seminaristas, sacerdotes, religiosos e religiosas. É consultora do Dicastério para o Clero, perita da Rota Romana, do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano e do Vicariato de Roma. Colabora com seminários e institutos religiosos.
O funeral de Matteo Balzano, o padre de 35 anos que tirou a própria vida, será celebrado esta manhã às 10h20 em Canobbio (Vb) pelo bispo de Novara, Franco Giulio Brambilla.
“Eu te protegerei dos medos das hipocondrias, das perturbações que a partir de hoje encontrarás em teu caminho [...] dos fracassos que por tua natureza normalmente atrairás. Eu te aliviarei das dores e de tuas oscilações de humor, das obsessões das tuas manias...” é o conhecido texto de Franco Battiato. "La Cura".
Belíssimo. Todos nós gostaríamos de alguém que nos salvasse dos nossos abismos, do medo de sermos esquecidos, de nos tornarmos insignificantes e, acima de tudo, que nos permita ser o que somos, ponto final. Alguém a quem possamos dizer, sem vergonha e sem medo de perder o respeito, que nos sentimos "um lixo" ou à beira do vazio. Cada vez que lemos uma notícia dramática sobre um feminicídio, sobre atos de violência contra si mesmo e contra os outros, as perguntas se acumulam. Eram pessoas sozinhas? Tinham dito o quanto se sentiam mal? Tinham encontrado escuta? Aqueles ao seu redor perceberam seu desconforto? Será que não havia alternativa àquele ato dramático? A morte de alguém por causas não naturais sempre nos choca. Mas quando o caso se refere a um padre, é como se o impacto fosse amplificado.
Um sacerdote pode se sentir desesperado e sem recursos interiores? Uma religiosa pode perder o sentido de sua própria existência? Sim, e essa possibilidade é ainda mais assustadora, porque é como dizer: então ninguém está fora de perigo. É verdade, é isso mesmo. No entanto, não podemos simplesmente nos render a essa evidência.
Do ponto de vista das ciências humanas, podemos fazer algumas considerações específicas. Por específica não entendo o caso isolado – estou afirmando uma obviedade, mas que precisa ficar clara –, mas é dirigida aos percursos vocacionais de "pertencimento especial". Os sacerdotes. Como comunidade de fé, nós os vemos como dotados de uma humanidade especial, e isso não é um elogio! Queremos que sejam prestativos, em perfeito equilíbrio emocional, disponíveis e eficientes, capazes de socorrer aqueles que precisam de conforto, prontos a deixar aquele serviço para assumir outro porque "nada é deles", e eles estão "a serviço do povo de Deus". Escandalizamo-nos facilmente quando temos a sensação de que o padre Paulo ou o padre Francisco dedicam tempo a si mesmos, porque "com tudo o que há para fazer...", e se surgir alguma amizade, o alarme interno dispara.
Consciente, portanto, de que essas poucas reflexões não são a chave para compreender e evitar tragédias como a morte autoinduzida, de enorme complexidade e de forma alguma redutíveis a uma lista realmente banal de causas possíveis, dou voz às observações de numerosos padres que encontro todos os dias. E vem tanto das novas gerações quanto de sacerdotes com anos de ministério. Histórias também bem-sucedidas e realizadas, mas que expressam unanimemente a importância de serem reconhecidas em sua singularidade. O que têm em comum é, de fato, a necessidade de serem vistos de acordo com seu próprio rosto e sua própria especialidade, para além de seu papel. Não "um padre". Parece um slogan, percebo isso, e sinto muito. Infelizmente, acontece com frequência que, uma vez terminado o período áureo da primeira formação, na vida "real" o recém-ordenado se torna uma estrela que finalmente reanima aquela paróquia, que reanima os grupos de jovens, dando assim razão àqueles que nele depositaram a sua confiança.
O jovem padre inicialmente presta-se a tudo isso, deixa-se levar, com grande entusiasmo. Mas o efeito-sucesso não dura muito. As emoções iniciais esmorecem, enquanto a necessidade de ser considerado pelo que se é torna-se cada vez mais intensa. Simplesmente. Toda essa prestatividade cansa. Anseia-se por "normalidade", por ser visto e amado como um pacote completo, o bom e o mau de cada um. Isso é transmitido na formação? Que a normalidade é boa? Elogia-se a fragilidade? É permitida ao padre? A comunidade está pronta para acolhê-la? Também pode fazer mal. Claro, é preciso intervir, não é isso que está em discussão, mas talvez seja necessária uma "cultura vocacional" que repense a figura do padre de uma forma mais realista e respeitosa da dimensão humana. Poderia reduzir pelo menos um pouco a expectativa, pesada como uma pedra, de que o padre não precisa de "cuidados", ele é apenas um dispensador. Que pedir ajuda é sinal de pouca fé. Nada poderia ser mais falso. Sozinhos estamos perdidos. Todos nós precisamos aprender a pedir ajuda, a dizer quando estamos desesperados ou precisamos de um abraço. É preciso uma formação para a vulnerabilidade.
Fr Matteo Balzano
— Fr Grant Ciccone (@UrbanHermit15) July 6, 2025
A tragic event has shaken the small town of Cannobio, overlooking the beautiful Lake Verbano. On the morning of July 5, 2025, Father Matteo Balzano, a 35-year-old priest of the Diocese of Novara, was found lifeless in his residence, he had taken his own life.… pic.twitter.com/APAwTUHGIm