Trocas sinistras. Um panorama da população em situação de rua no Brasil

Autores da pesquisa 'Trocas Sinistras: a vida na rua sob novo prisma' apresentam panorama nacional da população em situação de rua nesta quinta-feira, 10-07-2025, às 17h30min, em evento promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil

Por: Patricia Fachin | 09 Julho 2025

Por que o número de pessoas em situação de rua cresceu 1000% na última década apesar do aumento de investimentos na área social? Por que as cidades brasileiras não têm conseguido enfrentar esse problema a ponto de aproximadamente 300 mil pessoas viverem nas ruas? Essas questões conduziram a pesquisa Trocas Sinistras: a vida na rua sob novo prisma, coordenada pelos pesquisadores Igor Rodrigues, do Centro Universitário UNIFACIG, e Dimitri Fernandes, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A investigação foi realizada em parceria com pesquisadores de diversas universidades brasileiras ao longo da última década.

O resultado do estudo, divulgado no início do ano, rompe com mitos que associam pessoas em situação de rua a fenômenos como drogadição, vagabundagem ou dependência das políticas sociais. Segundo Rodrigues, a pesquisa teórica e empírica evidencia como “a situação de rua decorre dos processos de ruptura das trocas, simbólicas e materiais, e da fragmentação da reciprocidade com o social”. Resumido, explicou o pesquisador em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, “a sociedade tem tido dificuldades em absorver estes indivíduos com vínculos que garantam direitos e cidadania”.

Em 2020, quando a pesquisa estava em andamento e a pandemia de Covid-19 trouxe à tona as fragilidades da realidade social brasileira, Rodrigues explicou ao IHU que “o histórico das políticas públicas no Brasil é um histórico fracassado”, porque os programas sociais não atingiram essas pessoas. Um exemplo, menciona, são os albergues, pouco procurados pela população em situação de rua. “Às vezes, a política pública sugere que é preciso promover os laços afetivos e familiares, mas não percebe que é preciso criar albergues para casais. Falam que é preciso criar uma política pública para a promoção dos laços e vínculos afetivos, mas, na hora de dormir, essa população tem que se separar ou dormir na rua. De um lado, se diz uma coisa e, de outro, há uma contradição. Outra coisa é com relação ao animal: às vezes, eles têm um carinho pelo seu animal de estimação e não vão deixá-lo para trás. E, ainda, às vezes, o animal vai ficar na rua porque não tem lugar para ele dormir no albergue”, exemplifica. 

 

Os resultados da pesquisa de Igor Rodrigues e Dimitri Fernandes serão apresentados na videoconferência “Trocas sinistras. Um panorama da população em situação de rua no Brasil”, nesta quinta-feira, 10-07-2025, às 17h30min. Promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, o evento será transmitido na página eletrônica do IHU, nas redes sociais e no canal do IHU no YouTube. A atividade é gratuita.  

Boom da população de rua 

Segundo dados do Censo, de 2012 a 2020, o número estimado de pessoas em situação de rua no país subiu de 92.515 para 221.869. Esse era o número de pessoas vivendo nas ruas em março de 2020, quando a pandemia foi anunciada globalmente, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No decorrer dos meses seguintes e pós-pandemia, o país assistiu a um boom da população de rua. Famílias inteiras foram morar em barracas embaixo de viadutos, marquises e pontos de ônibus. Mais de 227 mil pessoas estavam registradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) em agosto de 2023. Antes da enchente que desabrigou milhares de pessoas em maio do ano passado no RS, quase 15 mil adultos viviam em situação de rua no estado, segundo levantamento do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS).

Na avaliação de Rodrigues, o aumento da população em situação de rua no país “é consequência direta” da informalidade. Nos últimos anos, contextualiza, milhões de brasileiros foram “empurrados para as atividades com baixíssimas recompensas materiais”, como catadores de lixo, vendedores ambulantes e entregadores. O fenômeno não é restrito ao Brasil; cresce mundialmente em países como França, EUA, Alemanha, Índia, Argentina, Portugal, China e África do Sul

Não é possível dissociar essa realidade da atuação do Estado e das diversas políticas públicas que, de um lado, assistem a população e, de outro, a fragiliza. Para o pesquisador, “o Estado é uma grande incógnita para quem vive nas ruas: às vezes um ponto de assistência, de auxílio e de apoio; por outras, fonte da própria humilhação e violação, isto é, o Estado não deixa de ser um agitador das trocas sinistras. Uma parte dos que vivem nas ruas já criou uma resistência ao Estado, tem medo, não quer proximidade ou relação – esse é um outro desafio a ser rápido e urgentemente considerado”.

Sobre o evento

Videoconferência: Trocas sinistras. Um panorama da população em situação de rua no Brasil. 

Quando: Quinta-feira, 10-07-2025.

Onde: Transmissão ao vivo na página do IHU, redes sociais e YouTube.

Horário: 17h30min.

Palestrantes:

Igor de Souza Rodrigues, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e em Direito pelo Instituto Vianna Júnior, mestre e doutor em Ciências Sociais pela UFJF. Foi editor-chefe da Revista Eletrônica de Direito Investidura e realizou pesquisas na Universidade de Humboldt, na Alemanha, entre 2015 e 2016. Leciona no Centro Universitário UNIFACIG.

Dimitri Fernandes, graduado em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), mestre em Direitos Fundamentais pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) e doutor em Ciência Jurídica pela UNIVALI. É Promotor de Justiça de Santa Catarina. Foi Defensor Público do Estado do Espírito Santo e de Alagoas. É docente na UFJF.

📌 Não é necessária inscrição para assistir à palestra.

📌O evento ficará gravado no YouTube e Facebook e poderá ser acessado a qualquer momento.

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