11 Junho 2025
Mais quente, mais ácido, mais alto – mar dá sinais evidentes de seu estado de emergência, mostra revisão da literatura científica.
A informação é de Cinthia Leone, publicada por ClimaInfo, 10-06-2025.
As atividades industriais e econômicas adicionaram ao oceano o equivalente energético de quase dois bilhões de bombas atômicas desde a assinatura do Acordo de Paris. O conteúdo de calor do oceano em 2025 (até uma profundidade de 2000 metros) era cerca de 104 zettajoules maior do que em 2015 — o que equivale a aproximadamente 1,7 bilhão de bombas atômicas como as lançadas sobre Hiroshima em 1945. Cerca de cinco bombas por segundo.
Segundo dados do observatório europeu Copernicus mostram que a média diária global de gelo marinho atingiu um mínimo histórico em fevereiro de 2025. A extensão e o volume máximos do gelo marinho, tanto em 2023 quanto em 2024, também ficaram dramaticamente abaixo dos níveis dos anos anteriores.
O gelo marinho da Antártica pode ter entrado em um novo estado, consideravelmente menor, já que as extensões máximas de inverno em 2023 e 2024 ficaram muito aquém das registradas anteriormente. Em 2025, a extensão do gelo antártico também segue muito abaixo das médias históricas em termos de extensão e volume. As extensões mínimas de verão do gelo antártico de 2022 a 2025 foram as menores da história, cerca de metade da média histórica, e o valor mínimo registrado em 2023 foi calculado como algo que só ocorreria uma vez a cada 2650 anos sem mudança climática. O gelo do Ártico atingiu seu volume mais baixo já registrado em março de 2025, após décadas de declínio.
O nível do mar atingiu um recorde histórico em 2024 — e a taxa de elevação aumentou desde 2015. A reversão da elevação do nível do mar levaria centenas ou até milhares de anos, mesmo que começássemos agora. A Dra. Karen Filbee-Dexter, Universidade da Austrália Ocidental ressalta: “a mudança climática está empurrando nosso oceano para um território desconhecido, provocando colapsos e danos irreparáveis a muitos ecossistemas e espécies marinhas valiosas. O mais preocupante é que nossas emissões já nos condenaram a impactos que serão sentidos por gerações”.
Na média os oceanos vêm se tornando mais ácidos de forma constante e a taxas que não eram observadas há pelo menos 26 mil anos. Em média, os oceanos estão cerca de 4% mais ácidos do que em 2015. Em 2024, o “Planetary Health Check” do Instituto de Potsdam alertou que a acidez dos oceanos pode se tornar em breve o sétimo limite planetário a ser ultrapassado.
As temperaturas médias da superfície do mar atingiram um recorde histórico em 2024, ficando 0,84°C acima da média para a época do ano, superando o recorde anterior de 2023. As temperaturas médias da superfície do mar em 2023, 2024 e 2025 ficaram nitidamente acima dos anos anteriores. O oceano absorveu cerca de 90% do calor extra produzido pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento — mas sua capacidade de continuar absorvendo esse calor está diminuindo, o que faz com que mais calor permaneça na superfície.
Houve quase 3,5 vezes mais dias de ondas de calor marinhas nos verões de 2023 e 2024 do que a média histórica. Também ocorreram ondas de calor extremas e recordes em 2022. Metade das ondas de calor marinhas desde 2000 não teria ocorrido sem o aquecimento global, e essas ondas de calor hoje duram três vezes mais do que em 1940.
As ondas de calor marinhas causaram devastação nos últimos dez anos. Uma onda de calor marinha entre 2013 e 2016, apelidada de “The Blob”, provocou a morte por inanição de milhares de filhotes de leão-marinho na Califórnia, matou quatro milhões de airos ou murres-comuns (aves marinhas), e provavelmente causou uma redução de 34% na população de baleias-jubarte no Havaí. A onda de calor marinha no noroeste do Pacífico em 2021 causou perdas recordes de US$ 8,19 milhões para a pesca japonesa.
As ondas de calor marinhas de 2023-2024 fecharam as pescarias de anchova no Peru, com perdas estimadas em US$ 1,4 bilhão; alimentaram a Tempestade Daniel — a inundação mais mortal da história da África, com até 10 mil mortos — e causaram mortes em massa de peixes e moluscos em todo o mundo.
O aquecimento dos oceanos e as ondas de calor marinhas causaram branqueamento de corais sem precedentes. Durante o primeiro evento global de branqueamento de corais em 1998, 21% dos recifes sofreram estresse térmico suficiente para causar branqueamento — no terceiro evento, entre 2014 e 2017, esse número foi de 68%. De 2023 a 2025, o branqueamento já afetou 84% dos recifes do mundo (e ainda está em curso), e a intensidade deste evento foi tão severa que a NOAA adicionou três novos níveis (Níveis 3 a 5) à sua Escala de Alerta de Branqueamento para refletir a maior proporção de corais morrendo.
Por fim, há ainda o impacto direto da indústria do petróleo, que está expandindo sua atuação offshore. Esse avanço agrava a contaminação das águas, ameaçando a biodiversidade marinha e os modos de vida que dependem do oceano. No Brasil, os riscos já são evidentes: em 2024, foram registrados mais de 700 acidentes na exploração de petróleo no mar – o maior número da série histórica –, além de 1.375 quase-acidentes, muitos deles em instalações de produção e sondas offshore. Mesmo assim, o governo e a Petrobras seguem pressionando pela abertura de novas áreas sensíveis, como a foz do Amazonas.
Os sistemas oceânicos estão em rota de colapso. No momento em que a 3a. Conferência da ONU sobre os Oceanos (UNOC3) começa em Nice, na França, a Dra. Kathryn E. Smith, Associação Biológica Marinha do Reino Unido lembra que “todos esses impactos ocorreram antes mesmo de atingirmos o limite de 1,5°C. Uma década após o Acordo de Paris, é ainda mais importante evitar que esses limites sejam ultrapassados”.