11 Junho 2025
Um estudo publicado nesta segunda-feira indica que esse indicador-chave das mudanças climáticas foi superado em algumas regiões do planeta em 2020. A acidificação representa um sério risco para a vida marinha e ameaça a sustentabilidade da pesca.
A reportagem é de Deva Mar Escobedo, publicada por El Salto, 11-06-2025.
Em 2009, um grupo de pesquisadores propôs uma nova maneira de medir as mudanças climáticas: eles usariam vários processos-chave para a vida na Terra, como a integridade da biosfera e da camada de ozônio, como indicadores. Esses especialistas descobriram em um relatório inicial que três desses indicadores já haviam sido excedidos e, em 2023, aumentaram o número para seis. Ou seja, dois em cada três limites planetários haviam sido atingidos. E emitiram um alerta: se a queima de combustíveis fósseis continuar, a acidificação dos oceanos logo se juntará aos principais indicadores da crise climática que já foram excedidos. Agora, um estudo mostra que esse limite também foi excedido. "É uma bomba-relógio", resume um dos pesquisadores.
A acidificação dos oceanos é um subproduto do aumento da presença de CO2 na atmosfera. O Grande Oceano Azul absorve dióxido de carbono, que reage com as moléculas de água, causando a queda do pH da água — tornando-a ácida. Esse aumento da acidez prejudica os corais e outros ecossistemas marinhos, conforme explicado no estudo publicado na segunda-feira por especialistas do Laboratório Marinho de Plymouth (Reino Unido), da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e da Universidade do Oregon, ambos nos Estados Unidos.
O limiar planetário para a acidificação dos oceanos é definido como uma redução de 20% no pH em comparação com os níveis pré-industriais, e a pesquisa publicada em 9 de junho explica que, em 2020, muitos oceanos já haviam ultrapassado esse limiar. E quanto maior a profundidade, maior a probabilidade de acidificação: há cinco anos, 40% das águas superficiais haviam excedido o limite seguro de saturação de aragonita; mas, além de 200 metros de profundidade, a porcentagem de áreas em todo o mundo em risco para seus ecossistemas aumenta para 60%.
Helen Findlay, pesquisadora principal do estudo, explica que a maior parte da vida marinha não vive na superfície e que águas mais profundas abrigam uma grande diversidade de plantas e animais. "Considerando que as águas profundas estão mudando tanto, os efeitos da acidificação podem ser muito piores do que pensávamos", afirma a especialista britânica.
The 2024 Planetary Boundaries report showed 6/9 boundaries breached with the 7th, Ocean Acidification, in danger. A new study shows that this too has now been crossed. The implications are huge! onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/... #climatechange #oceanacidification #planetaryboundaries #oceans
— Dr Tom Harris (@drtomharris.bsky.social) 9 de junho de 2025 às 10:22
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Steve Widdicombe, colega de Findlay no Laboratório Marinho de Plymouth, tenta quantificar o risco representado pela acidificação: "Não é apenas uma crise ambiental, é uma bomba-relógio para os ecossistemas marinhos e as economias costeiras." "À medida que a acidez dos nossos mares aumenta, estamos testemunhando a perda de habitats críticos dos quais inúmeras espécies marinhas dependem, o que, por sua vez, tem repercussões sociais e econômicas significativas", acrescenta o ecologista marinho.
Os principais indicadores da vida na Terra são nove processos que permitem que as condições de vida no planeta permaneçam as mesmas que permitiram que os humanos prosperassem há milhares de anos. Superá-los não implica mudanças drásticas, mas multiplica os riscos. Desde a sua medição, um dos limites foi revertido: o da camada de ozônio, que retornou a níveis sustentáveis após a proibição de substâncias nocivas a essa esfera protetora.
O declínio dos níveis de carbonato de cálcio ameaça uma ampla variedade de ecossistemas marinhos. A face visível da acidificação são as imagens de corais coloridos em fotografias de décadas atrás, que hoje estão muito mais acinzentadas. Esses tipos de estruturas, sejam tropicais ou de águas profundas, fornecem habitats "essenciais" e áreas de reprodução para muitas espécies, explica Findlay.
A acidificação também afeta ostras, mexilhões e pterópodes polares, pequenos moluscos mais conhecidos como borboletas-do-mar. À medida que os níveis de pH caem, essas espécies sofrem problemas crescentes, como enfraquecimento de suas conchas, crescimento mais lento, reprodução reduzida e taxas de sobrevivência reduzidas.
Jessie Turner, diretora da Aliança Internacional para o Combate à Acidificação dos Oceanos (OA Alliance), disse ao The Guardian que este relatório "deixa absolutamente claro: estamos ficando sem tempo". "Estamos diante da dura realidade de que grande parte do habitat adequado para espécies-chave já foi perdida. É evidente que os governos não podem mais se dar ao luxo de ignorar a acidificação em suas principais agendas políticas", acrescentou.
Este estudo foi publicado no mesmo dia do início da Conferência das Nações Unidas para os Oceanos (UNOC3), uma reunião trienal que este ano se concentra na sobrepesca. Durante a reunião, o Primeiro-Ministro Pedro Sánchez anunciou que a Espanha pretende atingir 25,7% de águas marinhas protegidas até o final do ano. "Sem um oceano saudável, não pode haver um planeta saudável", declarou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, na abertura da cúpula, copresidida pela França e pela Costa Rica.