10 Junho 2025
Na conferência sobre oceanos da ONU, Guterres expressou sua preocupação após Trump abrir caminho para a mineração em águas profundas.
A informação é publicada por ClimaInfo, 09-06-2025l.
A 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC3), copatrocinada por França e Costa Rica, começou ontem (9/6) em Nice, na França, com quase 60 chefes de Estado e de governo, incluindo os presidentes Lula, que discursou ontem [leia mais aqui] e Javier Milei, da Argentina, além de Antonio Guterres, secretário geral da Organização das Nações Unidas.
Guterres expressou preocupação com o fundo do mar após o presidente dos EUA, Donald Trump, abrir caminho para a mineração em águas profundas. E disse que a exploração não regulamentada de metais não deve ser permitida, destaca a BBC. “O mar profundo não pode se tornar o Velho Oeste”, frisou.
Trump anunciou a aceleração da análise dos pedidos de exploração e extração de mineração fora da jurisdição de seu país em abril, aumentando assim a urgência do tema. A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), que tem jurisdição sobre os fundos marinhos em águas internacionais, se reunirá em julho para discutir a regulamentação da mineração em águas profundas.
Muitos países se opõem à mineração em águas profundas – e a França espera aproveitar esta oportunidade para conseguir apoio a uma moratória sobre a prática até que haja mais informações sobre seu impacto ambiental. Afinal, há um interesse crescente na extração de minerais preciosos dos chamados “nódulos” metálicos que ocorrem naturalmente no fundo do mar. Mas oceanógrafos estão preocupados com os danos ambientais.
“O oceano não está à venda. Estamos falando de um bem comum compartilhado”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, em seu discurso. “Acho uma loucura lançar ações econômicas predatórias que irão perturbar o leito marinho profundo, afetar a biodiversidade e destruí-la.”
Além de um “pé no freio” na mineração em águas profundas, o secretário-geral da ONU pediu que os líderes mundiais ratifiquem o Tratado de Alto-Mar, relatam AP e Reuters. Adotado em 2023, ele permitiria que os países estabelecessem parques marinhos em águas internacionais, que cobrem quase dois terços do oceano e são em grande parte não regulamentadas.
Guterres alertou que a pesca ilegal, a poluição plástica e o aumento da temperatura do mar ameaçam ecossistemas delicados e as pessoas que dependem deles. “O oceano é o recurso compartilhado por excelência. Mas estamos falhando com ele”, disse, citando o colapso dos estoques de peixes, a elevação do nível do mar e a acidificação dos oceanos.
Os oceanos também fornecem uma proteção vital contra as mudanças climáticas, absorvendo cerca de 30% das emissões de CO2. Mas, à medida que se aquecem, as águas mais quentes estão destruindo os ecossistemas marinhos e ameaçando essa capacidade de absorção. “Esses são sintomas de um sistema em crise, e eles estão se alimentando mutuamente. Cadeias alimentares estão se desfazendo. Meios de subsistência estão sendo destruídos. A insegurança está se aprofundando”, destacou o chefe da ONU.
A UNOC3 não é uma COP, não tem caráter deliberativo, destaca o Valor. “É uma conferência de mobilização, não de negociação”, esclareceu o embaixador Carlos Bicalho Cozendey, secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores. Chefes de Estado e demais representantes de governo participam em busca de um acordo sobre uma política comum e de fundos para a conservação marinha, explicam Folha e Correio Braziliense.
Ao fim da conferência haverá uma declaração, já negociada, que chama a atenção para a importância do oceano para o clima e a biodiversidade. O documento fará referência aos vários processos em curso (como a exploração de minerais no fundo do mar e a convenção sobre o fim da poluição plástica) e tentará mobilizar os países a desenvolverem políticas, detalhou Cozendey.
O Brasil promoverá a ideia que surgiu durante sua presidência do G20, a de estimular os países a colocarem em seus compromissos climáticos [NDCs] metas ligadas aos oceanos.
Africa News, France24, IstoÉ Dinheiro e France24 também repercutiram o início da UNOC3.
Um grupo de bancos de desenvolvimento planeja investir pelo menos € 3 bilhões até o final da década no combate à poluição plástica no mar. Ao lançar a segunda iteração da Iniciativa Oceanos Limpos (COI, sigla em Inglês), no início da UNOC3, a líder do projeto do Banco Europeu de Investimento (BEI), Stefanie Lindenberg, disse que o valor poderá aumentar à medida que outros parceiros se juntarem, informa a Reuters. Incluindo credores franceses, alemães, espanhóis e italianos e o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento, a iniciativa original implementou € 4 bilhões em investimentos prometidos entre 2018 e maio de 2025, acima da meta do final do ano, disse o vice-presidente do BEI, Ambroise Fayolle.