10 Junho 2025
A arma usada pelo jovem de 15 anos para agredir o senador foi comprada no Arizona, Estados Unidos, em 06-08-2020. Quatro policiais e guarda-costas serão investigados para apurar se a equipe de segurança apresentou alguma irregularidade.
A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada por Página|12, 10-06-2025.
Ao norte de Medellín, em uma casa rural onde sofreu sequestro, Diana Turbay — jornalista e mãe de Miguel Uribe — foi assassinada pela máfia em 1991, quando forças do Estado tentaram resgatá-la, e os soldados do narcotráfico optaram por sacrificá-la. Horas amargas se repetem hoje para as famílias Uribe e Turbay, após o ataque ao político do Centro Democrático no último sábado. O senador Uribe Turbay permanece internado em uma clínica em Bogotá com prognóstico reservado, enquanto o país se deleita com fortes mensagens de rejeição à violência política e especulações sobre os possíveis autores do crime.
Sem fundamento, líderes políticos alegaram ter informações de que o grupo ilegal mais proeminente do país, o Clã do Golfo, era o responsável pelo atentado; por outro lado, o vulgo "Iván Mordisco" e seu grupo guerrilheiro dissidente também foram mencionados como possíveis autores. Outras vozes chegaram a sugerir, sem qualquer evidência, que o próprio presidente poderia estar por trás da tragédia. São conjecturas polarizadoras e culpáveis em meio a apelos para interromper a convocação da Consulta Popular do Governo da Mudança para promover a reforma trabalhista rejeitada no Congresso, e a sabotagem de reuniões de alto nível do governo para considerar medidas amplas para garantir o exercício da política nas eleições, que já estão afetando o clima e a ordem pública no centro e nas regiões do país.
A verdade é que a arma usada para atacar o congressista foi comprada no Arizona, Estados Unidos, em 06-08-2020, segundo boletim de ocorrência divulgado ontem. A polícia também investiga como a arma entrou na Colômbia e foi parar nas mãos de um menor de 15 anos, que também permanece internado em um hospital na capital colombiana. Soube-se também que quatro policiais e guarda-costas de Miguel Uribe Turbay serão investigados para apurar se a equipe de segurança apresentou irregularidades. Há também mais de 100 investigadores no caso do senador.
"Essas pessoas serão ouvidas para que possam prestar depoimento e apurar tudo o que fizeram antes, durante e depois do ocorrido", declarou o Ministério Público horas depois de a família da vítima anunciar que processará a Unidade Nacional de Proteção (UNP) por não ter aumentado o efetivo de nove homens que prestam proteção e, segundo eles, não ter fornecido as garantias necessárias ao senador. O diretor da Unidade, ex-membro do M-19 de confiança do presidente, afirmou que sua organização não possui registros de pedidos de reforços. "O que há são pedidos de apoio para os lugares para onde ele vai", disse ele, esclarecendo que, apesar de ter mais guarda-costas, o senador contava com apenas dois homens no dia do ataque devido a decisões internas de sua organização.
O próprio presidente Petro garantiu ontem que a segurança de Miguel Uribe havia sido estranhamente reduzida no dia do ataque, enquanto especialistas em segurança questionam por que nenhum de seus guarda-costas estava de costas para o candidato presidencial, cuja aspiração de chegar à Casa de Nariño havia sido aberta e constantemente criticada por seu próprio partido político, o Centro Democrático, e pelo líder do poderoso sindicato de pecuaristas e marido da senadora María Fernanda Cabal, José Félix Lafourie, que o repreendeu nas redes sociais por sua intenção de ser eleito como candidato do partido de direita nas próximas eleições, destacando que já havia investido 50 milhões de pesos colombianos (cerca de 13 mil dólares).
De seu leito hospitalar, ao cair da noite, o adolescente que atirou em Miguel Uribe Turbay reafirmou sua disposição em fornecer informações sobre o crime. Soube-se, graças a informações divulgadas por órgãos governamentais, que o jovem havia sido contatado por uma rede de assassinos. O Ministério Público afirma ter coletado mais de mil vídeos do dia do ataque, incluindo o trajeto do agressor de sua residência até o parque em Fontibón, Bogotá, onde o crime ocorreu. Às 17h, o noticiário de rádio informou que a audiência de indiciamento do jovem havia sido suspensa porque um grupo de promotores o entrevistaria primeiro para obter o máximo de informações possível. "Constatamos que ele coopera plenamente. É necessária proteção não apenas para as informações, mas também para ele", afirmou Astrid Cáceres, diretora do Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), que insistiu perante o público, juntamente com defensores de direitos humanos e constitucionalistas, que o assassino é um jovem de origem operária explorado por outros.
"Estou dando os números de telefone", "Fiz isso por dinheiro, para a minha família", repetiu o menino, deitado no chão após fugir e levar um tiro na perna. Sua mãe morreu, seu pai viajou para a Polônia para treinar como mercenário na guerra da Ucrânia e seus tios cuidavam dele em um bairro pobre da capital colombiana. "É importante ressaltar que não estamos falando de um processo comum, mas sim do sistema de responsabilidade penal juvenil... Menores não estão sujeitos às mesmas sanções, e é por isso que muitas vezes são explorados por organizações criminosas", lembrou o promotor do caso à imprensa, após receber inúmeras críticas públicas por não deixar "todo o peso da lei recair sobre o assassino". A identidade do autor do crime tem sido outro foco de debate em meio à tempestade desencadeada pelo atentado: na Colômbia, o terceiro país mais desigual do mundo, jovens da classe trabalhadora, especialmente aqueles em cidades com presença de máfias e organizações criminosas, têm sido historicamente protagonistas do crime: assassinatos como o de Bernardo Jaramillo, como candidato presidencial pela União Patriótica, têm sido lembrados nestas horas de convulsão porque seu assassinato foi causado por um menor de 15 anos. Segundo o ICBF, somente no ano passado, 541 casos de recrutamento infantil foram registrados no país.
Enquanto isso, a reunião convocada ontem pelo Ministério do Interior para acordar garantias para a oposição e a participação política não violenta foi ignorada pelos partidos da oposição, que argumentaram que essas são questões a serem discutidas com a polícia e as forças de segurança, não com o governo. O ministro Armando Benedetti respondeu que a reunião foi convocada como uma reunião institucional, de acordo com a lei, e não como uma celebração, especialmente considerando a gravidade dos acontecimentos. Nessa reunião, o presidente acolheu o apelo do Ministério Público para que sua linguagem fosse amenizada a fim de reduzir a atual polarização política. Ao encerrar a reunião sobre garantias eleitorais, que durou até a noite, Petro afirmou que a polícia está fortemente infiltrada por organizações criminosas e sugeriu que elas poderiam estar envolvidas no ataque.