06 Junho 2025
Os retoques finais dos rituais e do Missal do Rito Amazônico provavelmente serão concluídos em julho, segundo um dos responsáveis pelo processo.
A informação é de Eduardo Campos Lima, publicada por Crux, 05-06-2025.
Nas últimas semanas, comunidades católicas de toda a Amazônia vêm analisando e discutindo o marco teológico — uma compilação de propostas acompanhadas de justificativas teológicas, produzida pelas comissões do Rito Amazônico, formadas por teólogos e antropólogos que vêm trabalhando na elaboração das sugestões.
O marco teológico está sendo apresentado e debatido por grupos católicos — incluindo paróquias e organizações eclesiais — na região Pan-Amazônica, que abrange todos os países e territórios que compõem a Amazônia. Não apenas comunidades indígenas católicas foram consultadas, mas também grupos urbanos.
A ideia, segundo o padre Agenor Brighenti, teólogo brasileiro responsável pelo trabalho, é concluir essa fase em junho e, em julho, editar as sugestões finais referentes a um Rito Amazônico específico, com seu Missal e rituais próprios — incluindo aqueles relacionados aos sacramentos.
Segundo o bispo Eugenio Coter, nascido na Itália e responsável pela Diocese de Pando, na Bolívia — que coordena, junto com Brighenti, as comissões que elaboram o Rito Amazônico —, a fase atual tem sido marcadamente positiva.
“Podemos dizer que a recepção desse trabalho tem sido cheia de esperança. O povo entende que sua cultura e história foram realmente consideradas”, disse Coter ao Crux.
Ele afirmou que houve “plena aceitação por parte de pastores, catequistas e outros líderes”, que perceberam que “a Igreja tem assumido um rosto que reflete o deles”.
“Até agora, não recebemos objeções nem apontamentos relacionados a possíveis dificuldades teológicas. As pessoas entendem que esse trabalho de inculturação da fé é fruto de um Concílio ‘distante’ e do processo iniciado há [60] anos para se aproximar de sua história e modo de viver a fé”, disse Coter.
Ele explicou que a base para a compilação das várias sugestões que formarão o novo rito é a “história de [500] anos de presença católica e ação pastoral na Amazônia”.
De fato, os estudiosos envolvidos no trabalho têm consultado os antigos arquivos da Igreja e das congregações presentes na região para identificar as formas como os amazônidas conformaram sua fé católica às próprias culturas ao longo dos séculos.
“Por outro lado, as tradições religiosas populares estão sendo registradas e analisadas, especialmente no contexto urbano, que recebeu migrantes indígenas que trouxeram consigo sua religiosidade”, explicou Coter.
O frei franciscano Florencio Almeida Vaz Filho é um dos antropólogos envolvidos no esforço. Membro do povo indígena Maitapu e professor da Universidade Federal do Oeste do Pará, Vaz Filho explicou que o Missal será o mesmo para todas as comunidades do Rito Amazônico, por isso foi reunido um conjunto de referências gerais válidas para toda a região pan-amazônica.
“Apesar da diversidade amazônica, há vários elementos comuns na cultura regional, como a relação das pessoas com os ciclos de cheia e seca dos rios nas estações chuvosa e seca, algo que impacta os credos, memórias e formas de ser dos amazônidas”, disse Vaz Filho ao Crux.
Nesse sentido, as comissões do Rito Amazônico definiram alguns aspectos centrais que devem estar presentes no Missal.
“Um deles é a relação dos amazônidas com a natureza como algo vivo. A natureza é sujeito, não objeto. E ela fala. Foi criada por Deus e é, ao mesmo tempo, habitada por Deus, portanto, é sagrada”, disse Vaz Filho. Alusões a essa característica cultural estarão presentes em todo o Rito.
Outro elemento central é a reciprocidade. Não apenas as relações entre as pessoas devem ser recíprocas na Amazônia, mas também as relações com a natureza e com o mundo espiritual.
“As pessoas compartilham refeições, memórias e sofrimentos quando se encontram e celebram. Mas fazem isso também com os mortos — acendem velas e rezam por eles para manter viva a relação — e com tudo o que é sagrado, como quando cumprem promessas aos santos”, disse Vaz Filho ao Crux.
As celebrações poderão incorporar um momento especial para a comunhão em que as pessoas compartilham alimentos e comem juntas.
“Normalmente, nas festividades, as pessoas levam comida para oferecer aos vizinhos. Isso acontece depois da celebração, já que atualmente a Igreja não prevê um momento para isso no rito. Mas isso é sagrado para elas. Então, isso é algo que pode mudar”, afirmou.
Vaz Filho disse que a oralidade é outro aspecto fundamental da Igreja amazônica, por isso o rito deve lhe dar espaço adequado.
“É central para indígenas, quilombolas e pessoas urbanas amazônicas falar sobre suas dores, angústias, motivações. Não só os padres devem ter tempo para falar, mas as comunidades também”, explicou.
Vaz Filho também destacou que um traço cultural geral na Amazônia é que “os corpos das pessoas também comunicam, então gostam de dançar, de estar próximas, de abraçar”.
“No Rito Romano, as pessoas geralmente ficam distantes umas das outras. No Rito Amazônico, os abraços e as danças devem estar presentes”, argumentou. A dança faz parte dos rituais e festividades sagradas há séculos na Amazônia, acrescentou.
Coter explicou que “foi dada enorme atenção à dimensão teológica da Igreja Católica”. A forma e a substância dos sacramentos, por exemplo, não podem e não serão alteradas, afirmou.
“Mas sim, sua manifestação cultural e celebrativa pode mudar”, acrescentou o bispo.
Enquanto alguns elementos dependem de instâncias formais — como é o caso das línguas locais, que podem ser usadas em toda a celebração no caso de traduções oficiais —, outros podem ser assimilados mais facilmente, como o uso de vestimentas tradicionais amazônicas, explicou Coter.
O Rito Amazônico poderá mudar elementos tradicionais do ritual romano, disse Coter, citando o uso da fumaça como exemplo.
“Para os romanos, a fumaça do incenso é sinal de adoração e respeito à divindade. Na Amazônia, significa purificação. Incensar a cruz, portanto, é quase um escândalo na Amazônia, porque significa que se quer expulsar o espírito do mal dela”, afirmou.
As sugestões das comissões também incluirão elementos organizacionais, como a criação de novos ministérios — como o ministério dos guardiões da floresta — e a controversa ordenação de homens casados, os chamados viri probati. A criação de diáconas, uma controvérsia ainda maior, também será sugerida.
“Todo o trabalho precisará ser aprovado pela Conferência Eclesial da Amazônia e pelas conferências episcopais nacionais”, disse Coter.