22 Março 2025
A reportagem é de Micaela Alejandra Díaz, publicada por Religión Digital, 20-03-2025.
No contexto do processo de inculturação eclesial, a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) realizou o webinário "Rito Amazônico: uma Igreja amazônica com rosto próprio". Este espaço de reflexão, realizado no dia 18 de março, reuniu diversas vozes para compartilhar sobre a construção de um rito que integre as tradições, línguas e visões de mundo dos povos indígenas da Amazônia.
Durante a abertura do encontro, a Irmã Ana María, missionária Laurita, destacou a visão relacional que os povos indígenas têm da natureza: “Para os povos indígenas, a natureza não é algo externo e oposto ao conjunto de relações sociais que eles estabelecem, mas sim algo muito relacional, intimamente ligado à sua vida biológica e social”.
Nesse sentido, ele explicou que o Rito Amazônico busca que a liturgia responda à cultura desses povos, permitindo uma vivência de fé enraizada em sua cosmovisão e tradições.
O webinário contou com a presença de dom Miguel Ángel Cadena, coordenador da Comissão de Liturgia e Teologia da Ceama, que deu as boas-vindas a todos e expressou o valor de nos imergirmos nas tradições amazônicas para construir esse rito: “Usando uma imagem amazônica, acredito que é o momento de nos imergirmos no rio. A imersão tem a ver com o batismo, mas também com essas tradições amazônicas que são tão importantes para todo o planeta e, dessa forma, com estarmos imersos em Deus”.
Dom Eugenio Coter, bispo do Vicariato de Pando e representante do Ceama, explicou que esse caminho de inculturação tem suas raízes no Concílio Vaticano II e busca uma verdadeira integração da fé com a identidade amazônica. “O processo do Rito Amazônico é justamente o processo de chegar ao coração das pessoas que vivem na Amazônia, reconhecendo sua cultura, sua língua e sua história”, disse ele.
Ele também afirmou que o rito é mais do que uma simples adaptação litúrgica; é um esforço para construir uma estrutura eclesial que reflita a realidade amazônica: “ O novo rito se somaria aos já presentes na Igreja, enriquecendo o trabalho de evangelização e a capacidade de expressar a fé em uma cultura própria”.
“Um rito que quer ser mais que um rito litúrgico, quer configurar uma Igreja com rosto amazônico”, explicou o padre Agenor Brighenti, teólogo e representante do Ceama, que compartilhou que a elaboração do Rito Amazônico foi um trabalho de vários anos, estruturado em quatro partes: o rito na tradição da Igreja, onde se reconhece a diversidade de ritos na história do cristianismo e se propõe a inserção do Rito Amazônico nesta tradição. A segunda, as características singulares do Rito Amazônico, destaca sua conexão com a história dos povos amazônicos, suas referências antropológicas e culturais e sua riqueza em signos e símbolos.
Os fundamentos teológicos e pastorais, que destacam a centralidade do mistério pascal e a necessidade de uma Igreja inculturada no território. E a Igreja com rosto amazônico, que propõe uma Igreja sinodal missionária, marcada pelo protagonismo dos leigos, pela inclusão de ministérios próprios e pelo reconhecimento do papel fundamental da mulher.
Sobre este último ponto, Brighenti enfatizou que o rito, além de abranger a liturgia, abrange a organização eclesial: “Porque entre o povo há outra relação com a natureza, e aqui também se trata, evidentemente, da questão dos seminários com rosto amazônico, para que também ali possamos configurar ministros que promovam uma Igreja encarnada em seu contexto”.
O processo de construção do Rito Amazônico foi amplo e inclusivo, com a participação de mais de 130 pessoas em diversas comissões. O desafio agora é disseminar a estrutura geral do rito nas igrejas locais e avançar com o desenvolvimento de rituais específicos.
"Estamos em uma fase, no nível das igrejas locais, de avaliar essa estrutura e até que ponto esse texto pode servir de base para o Rito Amazônico. Enquanto isso, já estamos trabalhando nos rituais que vocês receberão depois do segundo semestre", concluiu Brighenti.
O Rito Amazônico representa uma valiosa contribuição à história da Igreja na América Latina e um reconhecimento da riqueza espiritual e cultural dos povos amazônicos. Sua construção é um testemunho do caminho sinodal que a Igreja está percorrendo em sua busca por uma verdadeira inculturação do Evangelho.
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