16 Mai 2025
No coração dos Himalaias, o desaparecimento da geleira Yala é vivido como um luto. Localizado a mais de 5 mil metros de altitude no Vale de Langtang, este gigante de gelo já perdeu 66% de sua área desde 1974, recuando impressionantes 784 metros.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 15-05-2025.
Cientistas do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado das Montanhas (ICIMOD, da sigla em Inglês) alertam que, mantido o atual ritmo de aquecimento, o glaciar Yala pode desaparecer completamente até 2040, tornando-se uma das primeiras vítimas glaciais do Nepal.
A triste realidade foi marcada por uma cerimônia fúnebre singular, realizada na última 2a feira (12/5). Monges budistas se reuniram entre bandeiras de oração com os picos nevados dos Himalaias como testemunhas silenciosas.
“Nos 40 anos em que estudei este glaciar, vi ele reduzir pela metade com meus próprios olhos”, confessou Sharad Prasad Joshi, especialista em criosfera do ICIMOD, também presente à cerimônia.
Duas placas de granito foram desveladas, gravadas com mensagens em Nepalês, Inglês e Tibetano. Uma delas trazia palavras do escritor islandês Andri Snaer Magnason, cujo texto já havia marcado o primeiro funeral de glaciar do mundo, na Islândia: “Este monumento é para reconhecer que sabemos o que está acontecendo e o que precisa ser feito. Só vocês saberão se agimos”. O ritual ecoou cerimônias semelhantes realizadas no México, Estados Unidos e Suíça, uma nova tradição global.
Maheshwar Dhakal, do governo do Nepal, fez um apelo contundente: “O futuro de nossas reservas de água congelada está em jogo”. Com quase dois bilhões de pessoas dependendo dos glaciares himalaios, a situação assume proporções catastróficas. Em 2024, todas as 19 regiões glaciais do mundo registraram perda de massa pelo terceiro ano consecutivo – um total devastador de 450 bilhões de toneladas.
Se a invenção de novos ritos pode auxiliar na organização interna dos indivíduos que vivenciam mudanças tão drásticas, o mesmo não se pode dizer dos ecossistemas, severamente danificados por essas transformações. Um estudo recente publicado na Nature Reviews Biodiversity, que analisou mais de 160 pesquisas, revela que o recuo acelerado das geleiras está causando mudanças irreversíveis nos ecossistemas, ameaçando milhares de espécies adaptadas a esses ambientes.
Pesquisadores de instituições como University of Wollongong, British Antarctic Survey e Universidade de Cambridge destacam que o gelo glacial, com milhares de anos, é crucial para entender a história climática da Terra. Sharon Robinson, coautora do estudo, alerta que as geleiras são essenciais para monitorar a saúde do planeta, especialmente em um cenário de aquecimento global.
A cerimônia de despedida do glaciar Yala foi noticiada por Financial Times, AFP, Folha, entre outros.