28 Abril 2025
Nem crise climática, conflitos armados entre países, polarização social, espionagem cibernética e poluição, mas a desinformação é o maior problema, dentre 33 listados, que a humanidade terá pela frente nos próximos dois anos, segundo o Relatório de Riscos Globais 2025, do Fórum Econômico Mundial.
A reportagem é de Edelberto Behs.
A desinformação, com ou sem a intenção de prejudicar alguém, e a polarização social reforçam-se mutuamente, diz o documento. Em texto que analisa o Relatório, o pesquisador Marcos Schneider, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a doutoranda em Ciência da Informação Myllena Diniz, e a professora Taís Seibt, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), apontam que “nos últimos anos, a desordem informacional tem sido um recurso amplamente utilizado no xadrez da geopolítica para mobilizar eleitores, em todo o mundo, sendo mais suscetível a grupos radicais”.
A desinformação, entendida no seu sentido amplo, a partir de conteúdos que “poluem” o ecossistema de diferentes formas, engloba conteúdos retirados de contexto, teorias conspiratórias, narrativas distorcidas ou inventadas, opinião disfarçada de notícia, discurso de ódio, linchamentos virtuais, arrolam autoras da análise. “Isso possibilita que uma série de discursos potencialize a polarização, reforce a dicotomia ‘nós versus eles’ e contamine a opinião pública”, afirmam.
O projeto Cybersecurity for Democracy, da Universidade de Nova Iorque, apontado pelas pesquisadoras, indica que, desde 2021, as fontes de notícia da extrema direita são as mais envolventes para o seu público, e suas publicações engajam 65% a mais com comentários, “likes” e compartilhamentos ao publicarem conteúdos falsos.
“No Brasil, o Estudo Pulso da Desinformação, publicado pelo Instituto Igarapé, constatou que, nas Eleições de 2022, o número de postagens e interações de extrema direita foi superior a qualquer outra orientação política, com alcance 40% maior do que perfis da esquerda, que, inclusive, publicaram mais.”
O que chamou a atenção do pesquisador e das pesquisadoras foi a disseminação de campanhas de desinformação. De acordo com o estudo, “canais de extrema direita obtiveram engajamento recorde ao disseminar desinformação por meio de lives, entrevistas e mescasts (forma de conteúdo online que se assemelha a uma mesa redonda no debate de determinado tema)”. Quatro narrativas estiveram no foco (aliás, ainda estão): reduzir a confiança no sistema eleitoral, atacar as instituições democráticas, difamar e diminuir a influência de adversários políticos, influenciar apoiadores à ação.
“Contudo, esse não é um fenômeno inédito. Nota-se que uma estratégia clássica de propaganda de agitação nazifascista é explorar o medo e estimular o ódio, inventando inimigos perigosos, que precisam ser controlados ou eliminados”, anotam autores da análise do estudo brasileiro. Esse panorama mostra que as plataformas não são neutras e que precisam, portanto, ser responsabilizadas legalmente. Precisam ser normatizadas.
O relatório do Fórum Mundial destaca a importância da formação crítica no combate à desinformação, tarefa que cabe à Educação Midiática e Informacional (EMI), desde os anos fundamentais da educação, mas principalmente em nível universitário.
A EMI, frisam Marcos, Myllena e Taís, permite aos cidadãos e cidadãs distinguir informações verdadeiras das falsas; fortalece a cidadania com desenvolvimento de habilidades críticas e promove uma integração digital assertiva, inclusiva e equânime e socialmente justa; promove o diálogo e reduz os extremismos e prepara a sociedade para o futuro trazido pelas tecnologias digitais.