05 Abril 2025
Estudo indica que modelos econômicos subestimaram os impactos da crise climática sobre a riqueza das pessoas; PIB médio pode cair 16% com aquecimento de 2°C.
A informação é publicada por ClimaInfo, 03-04-2025.
O impacto das mudanças climáticas sobre a renda das pessoas pode ser bem maior do que o estimado anteriormente, alertou um estudo recente publicado na revista Environmental Research Letters. Em um cenário de aquecimento global de 4°C, a pessoa média pode ficar 40% mais pobre; já sob um aquecimento igual ou ligeiramente superior a 2°C, o patamar máximo definido pelo Acordo de Paris para este século, essa perda pode ser de 16%.
Publicado por pesquisadores australianos, o estudo reforça uma crítica recente aos chamados modelos de avaliação integrada (IAM), usados para orientar os governos sobre as necessidades de investimentos para redução das emissões nacionais de gases de efeito estufa. Segundo os críticos, esses modelos não conseguiram captar os principais riscos das mudanças climáticas, particularmente os eventos extremos, sobre a economia.
O estudo utilizou um desses modelos e o aprimorou com previsões de mudanças do clima para identificar os impactos dos eventos extremos nas cadeias de suprimentos globais. No pior cenário (aquecimento de 4°C em relação aos níveis pré-industriais), a perda média estimada pelos pesquisadores chega a ser quatro vezes superior àquela apontada em análises anteriores com o mesmo modelo.
O cientista Timothy Neal, da Universidade de New South Wales (UNSW) e autor principal do estudo, destacou que os modelos econômicos anteriores, que apontaram para impactos mais limitados da crise climática sobre a economia, tiveram “implicações profundas” para a política climática global junto aos formuladores e tomadores de decisão, que só consideraram os efeitos no nível local, ignorando as interconexões das cadeias de suprimentos.
“Em um futuro mais quente, podemos esperar interrupções em cascata na cadeia de suprimentos desencadeadas por eventos climáticos extremos em todo o mundo”, afirmou Neal ao Guardian.
“Reformular modelos econômicos para levar em conta os extremos em sua parte do mundo e seu impacto nas cadeias de suprimentos me parece algo urgente a ser feito para que os países possam avaliar totalmente suas vulnerabilidades econômicas e, então, fazer a coisa óbvia: cortar emissões”, ressaltou Andy Pitman, cientista da UNSW e coautor do estudo.
A VEJA também destacou os principais pontos da análise.
Em tempo: Se a crise climática vai impactar pesadamente a economia global no longo prazo, o enfrentamento dela no curto prazo pode aumentar o crescimento dos países, de acordo com uma nova análise divulgada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD). Segundo o estudo, a definição de metas ambiciosas de mitigação resultaria em um ganho líquido no PIB global até o final da próxima década, estimado em cerca de 0,23% até 2040. Esse ganho pode ser ainda maior em 2050 se os cortes de emissões se sustentarem dentro do necessário para evitar um aquecimento de 1,5°C - aumento de 60% no crescimento do PIB per capita entre as economias mais ricas e de 124% entre as nações mais pobres em relação aos níveis de 2025. Forbes, Guardian, Reuters, Valor, VEJA e Um Só Planeta, entre outros, deram mais detalhes.