25 Março 2025
Até 2.000 novas infecções por HIV podem ser registradas por dia no mundo caso os financiamentos para o combate ao vírus, congelados pelos Estados Unidos, não sejam restaurados ou substituídos, afirmou nesta segunda-feira (24) a agência da ONU para a luta contra a AIDS (UNAIDS na sigla em inglês).
A reportagem é publicada por rfi, 24-03-2025.
A agência da ONU, financiada em 35% pelos Estados Unidos em 2024, também especificou que as mortes relacionadas ao vírus poderiam ser multiplicadas por dez, já que a prevenção e o combate ao HIV foram impactados pelos cortes orçamentários decretados pelo presidente americano Donald Trump contra os programas humanitários no exterior.
Embora o programa norte-americano “Plano presidencial de emergência para ajuda à luta contra a AIDS” (PEPFAR) continue suas ações contra o vírus ao redor do mundo, o congelamento de financiamentos mais amplos ordenado por Donald Trump teve um efeito devastador para as pessoas vivendo com HIV/AIDS, declarou Winnie Byanyima, diretora executiva da UNAIDS, a jornalistas em Genebra.
“Essa retirada repentina do financiamento norte-americano levou ao fechamento de várias clínicas e à demissão de milhares de trabalhadores da saúde (...). Tudo isso significa que esperamos um aumento nas novas infecções. A UNAIDS estimou que poderiam ocorrer 2.000 novas infecções por dia”, acrescentou ela.
Destacando que esses números foram baseados em uma modelagem da ONU, ela não forneceu mais detalhes sobre como as estimativas foram obtidas. Solicitada pela Reuters, a delegação norte-americana em Genebra não respondeu até o momento.
Winnie Byanyima afirmou que, caso o financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) não seja retomado em abril, após o término da pausa de 90 dias decretada por Donald Trump, ou caso não seja garantido por outro governo, "haverá, nos próximos quatro anos, 6,3 milhões de mortes adicionais causadas pela AIDS."
A UNAIDS, que coordena a resposta global à prevenção e ao tratamento do HIV/AIDS, recebeu US$ 50 milhões (cerca de R$ 288 milhões na cotação atual) em financiamento básico no ano passado dos Estados Unidos.
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