13 Março 2025
"É irônico que Musk, que quer cortar o orçamento federal e a força de trabalho, vá se beneficiar financeiramente da missão a Marte, que convenientemente não está na berlinda", escreve Thomas Reese, jesuíta, ex-editor-chefe da revista America, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 12-03-2025.
O planeta Marte tem desempenhado um papel descomunal na imaginação humana desde que olhamos para as estrelas pela primeira vez. O fato de que esse ponto vermelho e outros planetas vagavam pelo céu os tornava distintos das estrelas que ficavam no lugar. Seu brilho vermelho o fazia se destacar até mesmo entre os outros planetas, levando os sumérios e os romanos a nomeá-lo em homenagem ao deus da guerra.
No século XIX, telescópios conseguiram ver o que se acreditava serem canais em Marte, levando à especulação de que havia vida inteligente no planeta, o que forneceu rico material para escritores de ficção científica.
Foi somente no final do século XX que os sonhos de viagem espacial se tornaram realidade, quando os humanos primeiro orbitaram a Terra e depois pousaram na Lua. Ir para Marte parecia o próximo passo lógico, embora muitos acreditassem que primeiro deveríamos ter uma base permanente na Lua.
O presidente Barack Obama decidiu pular a base lunar e ir diretamente para Marte. Durante seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump reverteu essa decisão e se concentrou na lua, uma política continuada pelo presidente Joe Biden. Agora Trump, sob a influência de Elon Musk, reverteu a política governamental novamente para se concentrar em Marte.
Para gerações criadas em Star Trek e Star Wars, o sonho de ir ao espaço é inebriante. Os proponentes da missão a Marte argumentam que os desdobramentos tecnológicos dos programas da NASA foram enormes. Os satélites, por exemplo, nos trouxeram melhor comunicação e previsões do tempo, bem como GPS.
Mas tentar ir a Marte é em uma escala totalmente diferente. Será um buraco negro devorando todo o orçamento da NASA, bem como o financiamento para outros projetos científicos. Diga adeus ao dinheiro para futuros telescópios, para viagens não tripuladas a outros planetas e até mesmo para processar os dados que estamos recebendo atualmente dos telescópios e sondas da NASA.
É irônico que Musk, que quer cortar o orçamento federal e a força de trabalho, vá se beneficiar financeiramente da missão a Marte, que convenientemente não está na berlinda. Este é um conflito de interesses em uma escala de trilhões de dólares. Como Musk foi o maior doador de Trump, isso parece corrupção em um nível nunca visto na política americana.
De acordo com um relatório da NASA de 2016, a primeira missão humana a Marte pode custar meio trilhão de dólares. O custo do suporte de vida para a missão a Marte pode ser de US$ 2 bilhões ou mais.
Considerando que a NASA subestimou o custo de quase todos os projetos, eu não confiaria em nenhuma estimativa, especialmente uma feita em 2016.
A Estação Espacial Internacional custou cerca de US$ 150 bilhões, com US$ 3 bilhões adicionais por ano para operar. Comparada a Marte, a ISS está no nosso quintal. A missão a Marte provavelmente custará 10 ou 20 vezes o que a ISS custou.
Os desafios de engenharia são enormes se os humanos quiserem sobreviver à viagem, viver em Marte e retornar em segurança à Terra. Os desafios fisiológicos também são assustadores.
Durante a viagem de nove meses a Marte, a nave espacial terá que suprir todas as necessidades da tripulação, incluindo comida, oxigênio e proteção contra um ambiente hostil. A radiação no espaço é mortal. Sem gravidade, o corpo perde massa óssea e músculos. Além disso, há o estresse psicológico de viver em um espaço confinado. Se algo der errado, não há bote salva-vidas ou resgate possível.
Antes da tripulação chegar, suprimentos, equipamentos e alojamentos devem ser pré-posicionados em Marte para manter a tripulação viva. Aterrissar suprimentos será difícil, já que paraquedas funcionam mal na atmosfera rarefeita. A atmosfera também não é respirável, e os níveis de radiação acabarão matando você.
Comida e água terão que ser enviadas para Marte até que encontremos e exploremos recursos hídricos e cultivemos alimentos lá. Uma única colheita ruim pode acabar com a colônia. Pense em Jamestown.
E então há o retorno. Não conseguimos nem trazer amostras de rochas de Marte, muito menos uma tripulação que passaria pelos mesmos desafios que eles enfrentaram ao chegar ao planeta.
Elon Musk diz que precisamos ir a Marte porque se destruirmos a Terra, a humanidade precisará ter um lugar alternativo para viver.
Na verdade, Marte está atualmente em pior forma do que qualquer cenário possível para a Terra, exceto uma guerra nuclear total. Nem uma colônia em Marte poderia sobreviver no futuro previsível sem o apoio da Terra.
Faz muito mais sentido gastar dinheiro salvando a Terra das mudanças climáticas, da destruição ecológica e dos conflitos internacionais do que indo para Marte.
Sim, poderemos a Marte algum dia, mas não neste século. Marte ainda estará lá depois que nos organizarmos aqui na Terra.