20 Fevereiro 2025
“Tenho confiança no ânimo do Santo Padre”. O Cardeal Marcello Semeraro é um dos colaboradores mais próximos do Papa Francisco. Ele o conhece desde os tempos de Buenos Aires, quando Bergoglio veio a Roma como orador do Sínodo de 2001 e ele atuou como seu braço direito. Desde o início do pontificado até 2020, foi secretário do C9, o conselho de cardeais do Papa, e agora é prefeito do dicastério para as Causas dos Santos. O cardeal da Puglia enfatiza que, mesmo como paciente, Francisco nunca se esquece dos outros pacientes (“Ele não está fechado na doença”), é incansável e para mantê-lo em repouso é necessário o tom enérgico dos médicos.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicado por la Repubblica, 18-02-2025.
Eminência, quais são seus sentimentos neste momento em que o Papa está internado no Hospital Gemelli por causa de uma infecção do trato respiratório?
Em primeiro lugar, sentimentos de proximidade e grande afeto. Tive a oportunidade de enviar ao Papa meus votos de melhora, acompanho de perto as notícias, mas não escondo que tenho grande confiança em um bom resultado, por muitas razões.
Que razões?
Em primeiro lugar, o ânimo de Francisco. Quando alguém pergunta a ele como está sua saúde, ele tende a minimizar, mas seu ânimo é evidente. Aqueles que conhecem sua história sabem que sua saúde nunca foi excelente, mas mesmo quando jovem, ele não se surpreendia ao enfrentar alguns incidentes de doença. É claro que, fisicamente, o peso dos anos está presente em comparação com o passado, mas espiritual e psicologicamente ele é forte, e isso não é pouca coisa.
Para o Angelus de domingo, o Papa enviou uma mensagem ao jubileu dos artistas: “Eu gostaria de estar entre vocês, mas, como sabem, estou aqui na Policlínica Gemelli porque ainda preciso de tratamento”: parecem as palavras de um homem que não está de forma alguma resignado.
Eu disse brincando: felizmente há o tom enérgico dos médicos para mantê-lo em repouso por alguns dias. Agora que as audiências não são na Praça de São Pedro, mas dentro da Aula Nervi, os peregrinos chegam correndo porque o Papa já começou a falar. Ele não se poupa, precisa de contato e de estar com as pessoas. Essa tendência à relação é um aspecto muito importante. Por outro lado, as pessoas da minha idade se lembram da experiência de João Paulo II, um papa acometido por uma doença que lhe causava impedimentos de forma ainda mais evidente nos últimos anos. Quando, algumas vezes ele me perguntava como eu estava e eu respondia que estava tomando muitos remédios ou que tinha problemas no joelho, o Papa Francisco respondia lembrando-me de que é a cabeça que tem de estar bem. Esse é o critério que ele segue. Recentemente, quando já estava com bronquite, tive a oportunidade de vê-lo e devo dizer que sua lucidez de mente era mais do que evidente, e sua memória infalível, surpreendente.
Nos últimos dias, Francisco não abriu mão de ligar para a paróquia de Gaza, nomeou a irmã Raffaella Petrini para chefiar o Governorato: qual é o significado desses gestos?
A nomeação da Irmã Raffaella, na realidade, era esperada há tempo. O telefonema para Gaza mostra sua solicitude para com a população palestina neste momento de grande preocupação. Isso significa que o Papa não está fechado em sua doença, ele se preocupa com os outros. Os médicos cuidam do pontífice e ele está atento às necessidades dos demais.
Em hospitalizações anteriores, ele de fato visitou as crianças na ala de oncologia próxima ao seu apartamento.
“Passar perto das realidades e não fingir nada é contrário ao seu caráter e à sua espiritualidade. Uma das maneiras com que realmente nos revelamos é a forma como vivenciamos a doença. O Papa segue o exemplo do Evangelho do Bom Samaritano, aquele de Jesus que fica ao lado dos doentes. A maneira como vivemos os impedimentos físicos, a forma como os integramos em nossa vida, é muito importante. Vou lhes dizer uma coisa: conheço o Santo Padre desde que ele era arcebispo de Buenos Aires, e ele me dizia para telefonar para ele quando fosse meio-dia na Itália e para ele cinco horas da manhã, porque já estava acordado para rezar. O Papa dedica duas horas da manhã à oração e, agora que precisa de um pouco mais de tempo para cuidar de si mesmo, ele antecipa para as quatro. Mas ele não abre mão do tempo necessário para sua responsabilidade espiritual”.
O Papa está em boas mãos?
Sim, o Gemelli é o melhor que se pode ter, tanto em termos de competência quanto de cuidados. Já vimos isso com João Paulo II. É uma instalação equipada para esse tipo de situação. Mas o que me dá muita confiança é a força interior do Santo Padre, que é a que menos se vê, mas a mais decisiva nas situações difíceis.