07 Fevereiro 2025
O padre jesuíta Sergio Bastianel, um dos nomes grandes da teologia moral católica contemporânea, morreu nesta quinta-feira, 6 de Fevereiro, em Gallarate (40 quilômetros a noroeste de Milão), na sequência de problemas oncológicos. Professor de muitas gerações, deixou marcas em muitos dos seus alunos, como testemunha este texto do padre José Manuel Pereira de Almeida, que reproduz o prefácio do livro Moralidade Pessoal na História, publicado em Portugal pela Cáritas Portuguesa.
Como forma de evocar o seu nome e o seu pensamento, o 7MARGENS reproduz aqui esse texto e, num outro texto, também uma entrevista feita em 2001, numa das suas vindas a Portugal.]
O artigo é de José Manuel Pereira de Almeida, publicado por 7Margens, 06-02-2025.
José Manuel Pereira de Almeida é padre católico, pároco de Santa Isabel e professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa; foi aluno de Sergio Bastianel.
Quando, numa manhã de outono, em Roma, o padre Nuno Gonçalves me apresentou ao padre Sergio Bastianel, estava longe de imaginar como o nosso encontro havia de ser tão determinante na minha vida.
Tinha acabado de chegar à Gregoriana, para onde o cardeal Ribeiro me tinha mandado no ano a seguir à minha ordenação. A ver se estudava teologia… A ver se não ficava aquém da diferenciação que tinha em medicina…
Recordo-me de que me custou muito deixar o Prior Velho onde tinha acompanhado, no meu primeiro ano de padre, com o então diácono Zé Vieira, o dinamismo crescente da pequena comunidade cristã. Na fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, a Ivette, a Susana e a Mónica viviam como “fermento na massa” e optavam, em 86-87, por se deslocarem da vila (ou pátio), em que moravam, para uma barraca construída com elas pelos vizinhos do bairro da Quinta da Serra. Vivíamos na certeza de que o Evangelho era de fato anunciado aos pobres. De que os pobres nos evangelizavam.
Os primeiros tempos de estudo de teologia moral foram a possibilidade de aliar um plano mais especulativo à minha experiência pessoal e traduziram-se, globalmente, num particularmente oportuno alargar de horizontes. Tendo partido com alguma mágoa para Roma, reconheço hoje que foi uma sorte para mim o meu bispo ter-me mandado estudar!
Nesses primeiros anos tive a possibilidade extraordinária de participar com alguns colegas [lá se estabeleceram os primeiros laços da profunda amizade com a Donatella Abignente, hoje professora emérita de teologia moral na Faculdade Teológica da Itália Meridional (Nápoles), Secção de S. Luís, numa série de colóquios com o padre Josef Fuchs, que tinha sido o orientador da tese do P. Bastianel] que, de maneira informal, complementavam, de forma muito harmônica, o curriculum mais sistemático e austero que nos cabia em sorte. Fui percebendo, ao vivo, o que o padre Sergio Bastianel tinha aprendido de Fuchs – no modo de refletir e de ensinar teologia, ao mesmo tempo exigente e próximo, atento à objetividade dos conteúdos e à coerência da argumentação, acreditando profundamente na possibilidade que a consciência de cada pessoa tem para conhecer e acolher o bem – e, ao mesmo tempo, da sua originalidade e maturidade, ao considerar categoria “encontro interpessoal” como lugar originário da moralidade.
A perspectiva ético-teológica de reflexão no âmbito das questões sociais surge intimamente ligada à teologia moral fundamental de Sergio Bastianel. E é assim que nos habituámos a pensar, os que com ele aprendemos. Durante muito tempo um pequeno grupo continuou a encontrar-se com uma fidelidade que não deixa de ser impressionante. Constituímos, assim, à volta de Sergio Bastianel, como que uma pequena comunidade de investigação de teologia moral, respeitando as diversas áreas de interesse pessoal, e partilhando os nossos caminhos, as nossas interrogações. Não deixarmos de formular perguntas tem sido a maneira de nos entendermos em teologia moral como busca, como procura.
Um Mestre.