15 Janeiro 2025
"É ainda um filme e como tal deve ser visto, dando a toda a intriga palaciana a sua justa medida cinematográfica, mas não está isento de ser um reflexo do que acontece e aconteceu na Igreja", escreve Vicente Luis Garcia Corres, jornalista basco, em artigo publicado por Religión Digital, 10-01-2025.
Acabei de ver o filme “Conclave” e saí do cinema encantado, com a sensação de ter visto um bom filme. Creio que não pretende ser nem a crônica de um conclave passado nem a profecia de um futuro conclave, embora seja uma reflexão, com as ferramentas da 7ª arte, do que é a Igreja e, talvez, do que o diretor, Edward Berger, acredita que deveria ser a Igreja.
A atuação do protagonista, cardeal Thomas Lawrence, interpretado pelo ator Ralph Fiennes, me parece muito boa, digna pelo menos de concorrer a alguns prêmios.
Alguns diálogos me parecem brilhantes (como quando se mostra como às vezes as pessoas na Igreja têm dúvidas de fé, mas não em Deus, mas na própria instituição) e alguns monólogos como o do cardeal Vincent Benitez, dignos de enquadramento. Aquele que começa dizendo “o que você sabe sobre a guerra?” e termina dizendo (não me lembro o texto literal) que a Igreja do futuro não depende tanto do que fizemos ou não, mas do que vamos fazer em diante.
O filme analisa a diversidade da Igreja e gostei porque o diretor dá um papel até ao Espírito Santo que, ausente ao longo do filme, aparece de forma muito sutil e gráfica no momento certo.
É ainda um filme e como tal deve ser visto, dando a toda a intriga palaciana a sua justa medida cinematográfica, mas não está isento de ser um reflexo do que acontece e aconteceu na Igreja.
O poder nas sombras exercido pelo “exército” das freiras que atendem os cardeais parece-me ser afirmado com muita precisão: “embora invisíveis, Deus deu-lhes olhos e ouvidos”. Bem como a realidade de uma Igreja africana que ainda não descobriu a sua verdadeira face na vida real.
Há cenas com grande simbologia como os guarda-chuvas que cobrem todos menos um, ou a tartaruga do papa.
E o resultado parece-me magistral, e para além do facto humano que se descobre, compreendo que por trás dele se procura fazer uma parábola da Igreja como ventre de Deus, uma Igreja na qual há lugar para “todos, todo mundo, todo mundo” e até aí eu consigo ler (embora alguns gostem de estripar filmes).
Convido você a ver.
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'Conclave', a parábola do ventre de Deus. Artigo de Vicente Luis Garcia Corres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU