03 Dezembro 2024
Aviso: este artigo contém spoilers.
Uma pessoa intersexo pode se tornar papa?
A reportagem é de Paul Carpenter, publicada por La Croix International, 04-11-2024.
Desde o lançamento de Conclave nos cinemas dos EUA em 25 de outubro, essa questão improvável tem gerado debates do outro lado do Atlântico. Dirigido pelo cineasta alemão Edward Berger, cujo trabalho anterior, All Quiet on the Western Front, foi indicado ao Oscar em 2022, Conclave se baseia no romance homônimo de Robert Harris de 2016. O filme, que deve receber várias indicações ao Oscar, acompanha Thomas Lawrence, o reitor do Colégio Cardinalício, interpretado por Ralph Fiennes, enquanto ele lida com as pesadas responsabilidades que se seguem à morte do papa.
O cardeal Lawrence enfrenta disputas de poder, tentativas de fraude e divisões ideológicas dentro da Igreja Católica. Até este ponto, o enredo é o padrão para um filme de Hollywood ambientado no Vaticano. É o final que gerou polêmica: um cardeal sul-americano retorna de uma missão no Afeganistão e é eleito papa após um discurso empolgante. Uma vez instalado, Lawrence descobre que o novo papa é uma pessoa intersexo, nascida com características fisiológicas masculinas e femininas.
As reações na imprensa americana foram rápidas. Ben Shapiro, chefe do canal de mídia conservador The Daily Wire, pediu a seus milhões de seguidores que boicotassem o filme antes mesmo de seu lançamento, uma resposta que reflete a posição de grande parte da imprensa de direita.
Entre os católicos, as respostas são mistas: o site de notícias National Catholic Reporter e a revista jesuíta America elogiam a qualidade estética do filme e consideram oportuna a exploração das mulheres no sacerdócio, dada a recente conclusão do Sínodo sobre a Sinodalidade.
Outros, no entanto, veem o final como uma provocação gratuita. Em entrevista aa Catholic News Agency, o padre Carter Griffin, reitor do Seminário Saint John Paul II, de Washington, explicou como a conclusão do filme reflete um mal-entendido do sacerdócio. Enquanto isso, o jornal The Daily Beast relatou que fóruns como o Reddit são dedicados à questão: "É moral assistir a este filme?"
Assista ao trailer oficial de Conclave
Apesar dessas críticas, o National Catholic Register não contesta os méritos estéticos do filme. Na imprensa católica, o debate se concentra principalmente no conteúdo do filme e sua reviravolta final. A mídia em geral concordou amplamente com sua qualidade também, com uma pontuação de 93/100 no Rotten Tomatoes, que agrega avaliações críticas. Revistas culturais como Rolling Stone e Vulture elogiaram sua sutileza e elementos transgressivos.
No entanto, revistas de cinema de destaque como Cineaste, Film Comment ou Little White Lies se recusaram a publicar resenhas. Para outras publicações que tendem a dar o tom na cultura americana, o filme é reconhecido por sua virtuosidade técnica, mas criticado como excessivamente "mecânico" ou mesmo "chato", com Richard Brody, da revista The New Yorker, sendo particularmente desdenhoso. Manohla Dargis, do New York Times, lamentou a gratuidade da reviravolta tardia na trama, observando paralelos com a atual eleição presidencial, particularmente no que diz respeito a acusações de trapaça e fraude, lançando dúvidas sobre a legitimidade do processo eleitoral.
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Por que o 'Conclave' está gerando polêmica entre os católicos americanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU