09 Janeiro 2025
Nesta quarta-feira, Facebook alterou o nome de temas dos chats do aplicativo Messenger, que fazem referência à comunidade LGBT+
A reportagem é de Carla Castanho, publicada por Jornal GGN, 08-01-2025.
Um dia após o anúncio das novas políticas da Meta e a aliança com o governo de Donald Trump, a empresa iniciou mudanças que, de acordo com o pesquisador Ergon Cugler, representam uma ameaça à democracia e “o nascimento de uma nova forma de autoritarismo digital”.
Nesta quarta-feira (08/01), o Facebook, uma das empresas do bilionário Mark Zuckerberg, alterou o nome de temas dos chats do aplicativo Messenger, que fazem referência à comunidade LGBT.
Até o momento, três temas foram modificados: “Orgulho” passou a ser chamado de “Arco-Íris”; “Transgênero” agora é “Algodão Doce”; e “Não-Binário” foi renomeado para “Pôr do Sol Dourado”.
Esses temas, anteriormente utilizados por usuários da ferramenta de conversa para customizar as cores dos chats dentro da temática LGBT+, chegaram à plataforma durante o Mês do Orgulho em 2022 como parte das ações de marketing da Big Tech
Ao GGN, o pesquisador Ergon Cugler, especialista em desinformação, mestre pela FGV e com MBA em análise de dados pela USP, classificou a mudança repentina dos temas do Messenger, que remove referências a termos ligados à comunidade LGBT+, como “um alinhamento explícito com pautas que restringem direitos e visibilidade de minorias”.
“Isso traz implicações que vão além da simples decisão de design. Isso se conecta a um padrão mais amplo de posicionamento político das Big Techs, como a retirada das checagens de fatos que ocorreram também nessa semana, demarcando um movimento mais ligado à ‘far-right’ estadunidense”.
Segundo ele, a renomeação dos temas, como a substituição de “Transgênero” por “Algodão Doce”, não apenas retira o significado simbólico de apoio às causas LGBT+, mas também pode ser interpretada como uma tentativa de apagar essas identidades no espaço digital.
“Com a desculpa de combater uma suposta agenda woke, a Meta vai além de apenas divergir, mas estimula a deslegitimação da própria existência das comunidades LGBT+”.
Ainda de acordo com o pesquisador da FGV, a mudança repentina ecoa uma transição preocupante no Vale do Silício, que parece se alinhar cada vez mais com práticas autoritárias e com a instrumentalização de desinformação para agendas políticas conservadoras.
“Esse episódio é um lembrete da importância de acompanhar criticamente as decisões das Big Techs e seu impacto nas sociedades democráticas. Estamos presenciando o nascimento de uma nova forma de autoritarismo digital”.
Nesta terça-feira (08/01), Mark Zuckerberg, dono da Meta, que controla o WhatsApp, Facebook e Instagram, anunciou o fim do mecanismo de checagem de fatos, em uma clara aliança com as políticas do governo do presidente Donald Trump, que tomará posse em 20 de janeiro. As mudanças anunciadas pelo empresário ocorreram menos de 24 horas após o Congresso americano certificar a vitória de Trump.
Através da publicação de um vídeo, Zuckerberg afirmou que as novas políticas visam defender a democracia global, que, segundo ele, sofre com uma crescente censura, dando ênfase para a atuação da “Suprema Corte” de um país latino-americano (vide Brasil).
De acordo com o empresário, o usuário terá mais voz, o que, na prática, não condiz com a realidade, já que o volume de opiniões é que seria privilegiado, e não a qualidade do conteúdo, explicou o pesquisador à TVT sobre o impacto da nova política liberal.
“Aos olhos de um cidadão comum, isso pode soar democrático, pois parece dar o poder de decidirmos o que deve ou não estar nas redes sociais. Mas, na prática, significa expor milhões de usuários diariamente a desinformações e até mesmo a crimes que somente serão removidos ou corrigidos após muitas pessoas decidirem que aquilo é negativo”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Nasce uma nova forma de autoritarismo digital”, diz Ergon Cugler sobre mudança anti-LGBT no Messenger - Instituto Humanitas Unisinos - IHU