06 Janeiro 2025
Uma mensagem de esperança, um novo começo para o cristianismo de hoje que ‘está passando por uma grave crise’; a nova vida na Casa della Madia, depois da experiência de Bose, e sua relação com o Papa, ‘nunca rompida’. Francisco é um “grande profeta para a Igreja de hoje”.
A reportagem é de Serena Sartini, publicada por Il Giornale, 03-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Fala ao Il Giornale o irmão Enzo Bianchi, monge e ensaísta, autor do livro Rinascere (Edizioni San Paolo 2024, pp. 190, 18,00 euros), que traz nas entrelinhas um convite: “O cristianismo sempre recomeça e abre um futuro inédito diante de nós”.
Livro "Rinascere" de Enzo Bianchi
“Acredito que, mesmo nesta crise que o cristianismo está vivendo, um novo começo é possível. No livro, indico alguns caminhos concretos para um cristianismo que possa superar o momento de crise que o mundo ocidental está vivendo”.
Em que ponto está o cristianismo hoje?
O cristianismo está passando por uma grave crise, vemos isso em todos os níveis. Há um descontentamento dos crentes com relação às denominações religiosas tradicionais, há um abandono das igrejas, há uma falta de prática religiosa, há sobretudo uma fraqueza ou mesmo um desaparecimento da fé cristã que faz dos cristãos mais que uma minoria. Hoje eu diria que chegaram a uma condição de diáspora. Estão espalhados aqui e ali, mas certamente não são mais capazes de determinar as tendências do mundo, sua cultura.
O que sugere?
Em primeiro lugar, a Igreja Católica deve voltar a viver a fraternidade. Se as paróquias continuarem tão desgastadas, se as missas continuarem tão apagadas, tão anônimas, tão não-comunidade, então o descontentamento toma conta, as pessoas não vão mais à igreja; os fiéis querem ir à missa e encontrar vida, fraternidade, compartilhamento, esperança. E também precisamos voltar à centralidade do Evangelho, da Palavra de Deus, que não pode ser confinada como a Igreja atualmente continua a fazer a eventos que organiza, a eventos extraordinários, mas para que na vida cotidiana haja o Evangelho que chama cada crente à fé e a uma vida cheia de sentido.
Que ocasião o Ano Santo pode representar para os cristãos?
Não acho que será algo que realmente mudará a situação, porque o Jubileu corre o risco de se tornar um evento no qual o turismo, o comércio e a economia poderiam assumir o papel principal. Seria necessário que o Jubileu fosse vivenciado como um evento de conversão, mas nunca - nem mesmo no passado - os Jubileus foram isso.
Você foi obrigado a deixar a Comunidade de Bose. Como é sua vida agora?
A minha vida continua a ser monástica, feita de acolhida, de escuta daqueles que vêm em busca de silêncio, de paz, de fraternidade. Nada mudou e, felizmente, tenho a graça de poder permanecer fiel à minha vocação até a morte. Aliás, estou feliz por ter conseguido, aos 80 anos, recomeçar e renovar uma experiência de vida que era longa e talvez precisasse de uma renovação.
Agora moro em Albiano D'Ivrea, aos pés de montanhas maravilhosas. Fundei uma nova comunidade, La Madia, uma casa onde costumavam fazer as madias, armários para fermentar pão. A comunidade oferece hospitalidade, a oportunidade de desfrutar de uma boa mesa, de ficar em silêncio, de rezar, de escuta.
Que mensagem tem para 2025?
Estamos em um momento sombrio, pela guerra que existe nas fronteiras da Europa, no Oriente Médio, pelas muitas situações trágicas do mundo, mas devemos ter esperança, porque a humanidade tem os recursos para se levantar e recomeçar, para ter esperança num futuro melhor, um futuro de paz, de justiça, de fraternidade.
Irmão Bianchi, muito se tem falado sobre seu relacionamento com o Papa. Como está sua relação com o pontífice?
A relação nunca se deteriorou, ele sempre me viu, me recebeu e me quis bem. Ele é um homem que me ama e também é correspondido porque eu o considero um grande profeta para a Igreja de hoje.
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“O Jubileu? Mais turismo do que verdadeira fé. Aos 80 anos, recomeço da nova comunidade”. Entrevista com Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU