20 Dezembro 2024
Ser sentinela de esperança não é fácil, e isso não significa ignorar as dificuldades que enfrentamos. Mas significa confiar que Deus está conosco na tensão: nos passos à frente e nos momentos em que nos sentimos paralisados. Trata-se de escolher acreditar que, se abrirmos nossos carismas e dermos espaço para que eles cresçam, continuarão a florescer, mesmo sem nós.
O artigo é de Helga Leija, publicado por Global Sister Reporter, 19-12-2024.
A Sra. Helga Leija é uma tradutora treinada e experiente e uma irmã em transição para as Irmãs Beneditinas de Mount St. Scholastica em Atchison, Kansas. Ela se juntou ao Global Sisters Report como representante em espanhol em julho de 2022 e tornou-se editora de Colunas em julho de 2023. Obteve um bacharelado em estudos de tradução na University of Texas em Brownsville e um mestrado em estudos religiosos na University of the Incarnate Word. Ela já trabalhou como professora em creches, escolas de ensino fundamental e ensino médio em salas bilíngues e de dois idiomas. Volunta-se para Translators without Borders. Gosta de fazer arte em diários e cozinhar comida mexicana.
Muito tempo após o encerramento do V Congresso Latino-Americano e Caribenho da Vida Religiosa (ou CLAR), realizado de 22 a 24 de novembro em Córdoba, Argentina, as palavras poderosas da Sr.ª Liliana Franco permaneceram comigo:
"Há um forte chamado a aceitar que o conflito e a tensão fazem parte da jornada. Nosso caminho não é pelas estradas suaves e já traçadas; ele é por novos caminhos, expostos aos elementos, à maneira do reino, à maneira da Encarnação. E isso significa abraçar a cruz. Significa, às vezes, ser atingido pelo sofrimento, pelo mal-entendido e pela impotência. Não devemos temê-lo."
Durante o congresso, senti o peso dos desafios que os religiosos enfrentam hoje, especialmente na América Latina. Com 400 participantes presenciais e 600 online, de mais de 20 países, o encontro da CLAR foi um chamado coletivo a abraçar os caminhos difíceis, muitas vezes dolorosos, que temos pela frente. Como religiosos, nosso compromisso com a justiça e a solidariedade será testado.
Franco, irmã da Companhia de Maria, nos lembrou que não somos chamados a caminhar sozinhos: seu convite a abraçar a cruz fala diretamente ao coração da nossa vocação. O trabalho pela justiça exige que aceitemos que o caminho que escolhemos nem sempre é o mais confortável. No entanto, ela nos instou a "abraçar essa tensão entre a morte e a vida, entre passos que nos movem para frente e a paralisação que nos impede de caminhar, entre intuições e chamados do Espírito que nos impulsionam além, e a miopia que nos mantém presos ao conforto do familiar".
Pe. Luis Fernando Falcó Pliego, Missionário do Espírito Santo do México, destacou mais desafios enfrentados pelos homens e mulheres religiosos na América Latina: menos recursos, vocações declinantes e comunidades envelhecidas. Ele nos encorajou a ver este momento não como uma crise, mas como uma oportunidade de esperança.
Ele falou sobre a necessidade de uma readequação estratégica na vida religiosa, nos incentivando a nos concentrar onde realmente podemos fazer a diferença. Suas palavras ecoaram o chamado de Franco para abraçar as realidades difíceis e abandonar caminhos que já não servem ao bem maior.
Durante o Congresso, ouvimos vozes diversas — afrodescendentes, povos indígenas e jovens — compartilhando suas lutas e esperanças por uma vida religiosa mais inclusiva. O Pe. Luis Alberto Gonzalo Díez, um sacerdote clareano, nos exortou a aprofundar a compreensão do valor da comunidade, onde cada pessoa consagrada se sente verdadeiramente vista e valorizada — não porque alguém lhes oferece um lugar, mas porque é inherentemente seu.
É doloroso reconhecer que, muitas vezes, em nossas comunidades, investimos mais tempo e energia nas pessoas que servimos do que nas próprias irmãs, tudo em nome do ministério. Díez nos lembrou que está na hora de "reconhecer que dedicamos mais energia à salvação de estruturas do que ao cuidado, reconhecimento e valorização das pessoas."
Essa verdade foi difícil de ouvir, mas impossível de negar. Nos últimos três anos, testemunhei mudanças significativas nas congregações e na vida religiosa como um todo. Como jovem religiosa, tive que enfrentar muitas dores com o falecimento de anciãs, e, embora a dor delas não seja menor, a minha mistura de dor e incerteza é distinta. Também vi muitos colegas deixarem a vida religiosa, o que torna o chamado de Franco para "ser radicalmente humano" ainda mais ressonante. Ela nos incentivou a não trair a esperança que as pessoas esperam encontrar em nós. No entanto, às vezes, é difícil não se sentir sobrecarregado.
Minha comunidade, como muitas outras, enfrenta um envelhecimento dos membros, a diminuição de vocações e edifícios muito grandes para nós. Somos desafiados a imaginar espaços mais criativos para o ministério e a vida comunitária como monásticos. Não é fácil, e o caminho à frente parece longo. Mas a mensagem de Franco me desafiou a pensar sobre como posso abraçar esse desconforto e continuar sendo um sentinela de esperança. Não uma esperança ingênua, mas uma esperança enraizada na promessa da presença de Deus entre nós.
O que levo deste Congresso é o convite a "ser radicalmente humano". Esse chamado me desafia a reconhecer minhas próprias dores e dificuldades enquanto permaneço fiel à esperança que os outros esperam encontrar em mim. Ser radicalmente humano é ser vulnerável. Eu não sou uma pessoa extraordinária, então, o que isso pode significar em minha vida cotidiana? Em minha comunidade monástica, sinto-me chamado a trazer esperança por meio de ações simples e cotidianas.
Pode significar estar plenamente presente a uma irmã que está enfrentando os desafios do envelhecimento e dedicar tempo para ouvi-la, sem pressa de consertar tudo. Trata-se de notar os pequenos sinais da vida ao nosso redor — a risada compartilhada em uma refeição, a alegria da oração em conjunto, a beleza da criação de Deus em nosso entorno — e ajudar os outros a vê-los também.
Ser sentinela de esperança não é fácil, e isso não significa ignorar as dificuldades que enfrentamos. Mas significa confiar que Deus está conosco na tensão: nos passos à frente e nos momentos em que nos sentimos paralisados. Trata-se de escolher acreditar que, se abrirmos nossos carismas e dermos espaço para que eles cresçam, continuarão a florescer, mesmo sem nós.
Nesses tempos de diminuição, não podemos perder de vista quem somos. Nossa vocação não se mede por números, edifícios ou estruturas; ela se refere a pessoas. Trata-se de aparecer, permanecer presente e confiar que, juntos, podemos encontrar o caminho a seguir. Este é o futuro da vida religiosa: não perfeito, não fácil, mas vivido com fidelidade ao Deus que caminha conosco por tudo isso.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A CLAR convoca os religiosos a serem 'radicalmente humanos' diante dos desafios. Artigo de Helga Leija - Instituto Humanitas Unisinos - IHU