26 Novembro 2024
O Papa Francisco visitará Ajaccio em 15 de dezembro, confirmou o Vaticano em 23 de novembro. O Papa, que recusou o convite para comparecer à reabertura da Catedral de Notre-Dame em Paris, aceitou um convite do cardeal François Bustillo, bispo de Ajaccio, onde concluirá um simpósio sobre religiosidade no Mediterrâneo.
A reportagem é de Mikael Corre, publicado por La Croix International, 23-11-2024.
O papa parece ter o cardeal François Bustillo em alta conta. Depois de nomear o bispo franciscano para liderar a Diocese de Ajaccio em maio de 2021, Francisco o elevou ao posto de cardeal em setembro de 2023, e agora ele aceitou o convite de Bustillo para visitar a ilha mediterrânea francesa de Córsega em 15 de dezembro. O papa participará da conclusão de um simpósio diocesano sobre um assunto particularmente caro a ele: “Religiosidade popular no Mediterrâneo”.
“Sua viagem a Marselha em 2023 nos deu uma bela inspiração sobre o Mediterrâneo”, explicou o Cardeal Bustillo. “Eu queria estender a reflexão, extraindo do que vivenciamos em Córsega com confrarias, procissões e piedade popular...” Isso representa um catolicismo profundamente enraizado ainda visível na esfera pública, personificado pelo cardeal de 55 anos que regularmente comparece aos eventos religiosos, cívicos e esportivos da ilha, usando seu distinto hábito marrom e cinto de corda.
Em Ajaccio, o Papa pode se juntar a uma procissão de rua carregando estátuas de santos e se misturando à multidão. “Aceitando o convite das Autoridades civis e eclesiásticas, o Papa Francisco fará uma Viagem Apostólica a Ajaccio em 15-12-2024”, anunciou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em 23 de novembro. Para entender completamente o significado desta breve viagem, vale a pena relembrar suas visitas anteriores à França.
O Papa Francisco tecnicamente já esteve na França antes — em Estrasburgo em 25-11-2014 e em Marselha em 22–23 de setembro de 2023 — mas não "visitou a França", de acordo com sua frase incomum. Essa distinção parece refletir sua preferência por evitar formalidades de visita de Estado, mantendo-se consistente com sua "diplomacia de países pequenos" e minimizando o protocolo tipicamente reservado para visitas oficiais.
Essa aversão à pompa também pode explicar sua recusa em comparecer à reabertura de Notre-Dame de Paris em 8 de dezembro. “Vir a Notre-Dame seria uma forma de expiar a humilhação infligida a Pio VII”, gracejou um alto funcionário do Vaticano, referindo-se às tensões históricas entre a Igreja e Napoleão. O Papa deixou sua posição clara durante uma coletiva de imprensa em 13 de setembro, afirmando duas vezes: “Não irei a Paris”.
Da perspectiva de Roma, a Catedral de Notre-Dame permanece indelevelmente associada a Napoleão coroando-se imperador na presença de Pio VII — um papa que ele mais tarde aprisionaria. Entre as celebrações do Te Deum e os funerais presidenciais, a catedral parisiense é vista como "muito política", de acordo com um funcionário do Vaticano, que temia seu uso como uma ferramenta para ganho político por um presidente politicamente enfraquecido.
Em contraste, uma viagem a Córsega carrega um simbolismo mais simples, livre do drama político parisiense ou da história turbulenta dos séculos 19 e 20. Embora Francisco pouse no Aeroporto Napoleão Bonaparte de Ajaccio — o imperador francês nasceu lá em 1769 — é improvável que referências imperiais dominem a visita.
“Esta viagem a Córsega é uma extensão da visita a Marselha, uma maneira de reforçar seu significado”, confirmou um associado papal próximo. Entre os moradores da ilha, Francisco não deve ter problemas para fazer sua voz ser ouvida. Mas qual será sua mensagem?
“Não podemos tolerar que o Mediterrâneo se torne um vasto cemitério!”, disse ele aos membros do Parlamento Europeu em Estrasburgo, um sentimento que ele ecoou em 2023 de Marselha: “Estamos em uma encruzilhada. De um lado, fraternidade; do outro, indiferença, que mancha o Mediterrâneo com sangue”.
Ele repetirá essa mensagem em Córsega? Ele se concentrará em acolher migrantes, desafiar o nacionalismo ou enfatizar o combate à corrupção e ao crime organizado? “O foco principal será a fé popular”, especulou um insider, observando que esse tema se alinha com sua encíclica mais recente, Dilexit nos, publicada em 24 de outubro.
Na América Latina, acredita Francisco, a piedade popular preservou a fé diante dos excessos e da violência da modernidade. Em Dilexit nos, o Papa argentino — moldado pela teologia do povo — argumentou que isso também poderia ser o caso em outros lugares. E talvez, até mesmo no Mediterrâneo.
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Papa Francisco em Córsega: razões por trás de uma viagem surpreendente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU