13 Novembro 2024
"A premissa teórica e o ponto de partida são precisamente a 'não violência', em italiano escrita tudo junto 'nonviolenza' de modo que não pareça uma resposta negativa à violência, mas uma proposta positiva, na qual os fins não justificam os meios, mas os fins e os meios coincidem", escreve Luca Kocci, jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, 07-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Combatente não violento”: à primeira vista, parece um oxímoro, porque o combatente, desde a antiguidade, é o guerreiro em armas, tanto que o pré-socrático Heráclito podia escrever que “Pólemo (ou seja, a guerra) é o pai de todas as coisas”. É esse "fundamental" que o filósofo e educador antifascista e não violento Aldo Capitini (1899-1968) tentou desmontar e derrubar, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, buscando recursos em um patrimônio cultural que começa com Buda e Jesus e chega até Gandhi e Martin Luther King.
A síntese desse trabalho de pesquisa é um pequeno livro publicado pela primeira vez em 1967 por Feltrinelli e merecidamente reproposto agora pela editora Manni: Le tecniche della nonviolenza (As técnicas da não violência), uma espécie de manual de treinamento para formar justamente o “combatente não violento” (introdução de Goffredo Fofi e posfácio de Giuseppe Moscati, 172 páginas).
Em uma época de guerra imparável como a nossa, esse texto pode parecer irrealista e inútil, bom apenas para as "belas almas", como diriam facilmente os pacifistas camuflados — este, sim, um oxímoro — que lotam os palácios do poder e os estúdios de televisão. No entanto, se levado a sério e lido com cuidado e honestidade intelectual, desarma o senso comum e propõe uma alternativa difícil e malvista pelo sistema capitalista armado, mas praticável.
Afinal, como escreve o próprio Capitini parafraseando Gandhi, "uma campanha não violenta provoca cinco reações: indiferença, ridículo, insulto, repressão e respeito. Chegar ao quinto ponto às vezes leve muito tempo”.
A premissa teórica e o ponto de partida são precisamente a "não violência", em italiano escrita tudo junto “nonviolenza” de modo que não pareça uma resposta negativa à violência, mas uma proposta positiva, na qual os fins não justificam os meios, mas os fins e os meios coincidem. "O fim da paz", escreve Capitini, "não pode ser realizado por meio da antiga lei de efeito tão instável ‘Se você quer a paz, prepare-se para a guerra’, mas por meio de outra lei: Durante a paz, prepare a paz".
O fim, então, não é a "vitória" de um lado (objetivo que ressoa repetidamente nestes últimos meses) mas a justiça para ambos. E o meio para alcançar isso é o método não violento, ou melhor, segundo Capitini, a “não violência ativa”, que é o exato contrário da violência, mas também da “resignação inerte”.
Que a não violência seja o método dos corajosos (“a não violência é o auge da coragem. Quem não superou todo medo não pode praticar a não violência com perfeição”, diz Gandhi) é demonstrado pelas dezenas de técnicas não violentas, tanto individuais quanto coletivas, que Capitini ilustra, haurindo da história, desde a revolução gandhiana na Índia até a resistência não violenta dos noruegueses aos nazistas e a luta dos negros nos EUA: jejuns, “não colaboração”, marchas (como a Perugia-Assisi, “inventada” por Capitini em 1961), greves variadas (“de zelo”, “intermitentes”, “surpresa”, “seletivas”, até a greve invertida de Danilo Dolci), “irmanamento”, “perseguição obsessiva”, “intromissão e obstrução não violentas”, boicotes, mas também sabotagem e desobediência civil, se infringirem a lei sem colocar as pessoas em risco.
Técnicas que, para serem praticadas, precisam de um verdadeiro treinamento, requerem muito tempo e exigem persuasão profunda e grande força interior para resistir às ações repressivas do poder. O que, de acordo com Capitini, continua sendo o problema principal: poucas pessoas decidem por todos os seres vivos (incluindo animais e plantas), enganando os indivíduos “a fim de criar um consenso público fictício por meio de uma enorme utilização dos meios de comunicação de massa”. Em vez disso, a perspectiva da não violência é a “onicracia”, o poder de todos a partir de baixo. Um radicalismo, aquele de Capitini, escreve Fofi no prefácio, “infinitamente utópico”, mas ao mesmo tempo “mais do que necessário”.