18 Setembro 2013
O que será que o "franciscano" Aldo Capitini diria sobre o Papa Francisco? Certamente, ele estaria mais perto das suas razões, da sua religião, da sua substância humana do que das de Pio XII, ao qual o pensador heterodoxo, filósofo e ativista da não violência e muito mais, em 1957, dedicou um livro destinado a causar escândalo e a ser banido pela Igreja.
A reportagem é de Paolo Di Stefano, publicada no jornal Corriere della Sera, 03-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O livro se intitulava Discuto la religione di Pio XII e é agora reproposto pelas Edizioni dell'Asino. A prosa afável e racional de Capitini (nascido em Perugia em 1898 e falecido em 1968) oferece ao leitor de hoje uma enorme quantidade de argumentos, além daqueles estritamente teológicos, que deveriam ser relidos à luz do novo diálogo aberto pela Igreja de Francisco.
O que é criticado ao Papa Pacelli é o fato de professar uma religião "fundada em dividir as pessoas entre si", de excluir o debate, de "raciocinar sem uma linguagem comum" com pessoas de diversas formações, de utilizar uma lógica do fechamento e de apenas se mover na direção dos outros no máximo "para atraí-los aos seus dogmas". Acusações duríssimas por trás daquele tom pacato e sem acentos polêmicos.
Capitini, acusado, por sua vez (até mesmo pelos amigos), de ser teimosamente otimista, acredita na "boa vontade interior" que permite compreender as quedas e "os diversos modos que pode haver para realizar a moralidade". O excesso de "mitologia, institucionalismo, sacralidade" inerente ao magistério de Pio XII não podia agradar ao teórico da não violência, que havia fundamentado a sua "persuasão" na resistência passiva gandhiana e em Francisco de Assis, na necessidade de "gastar a própria vida dia a dia", construindo "uma grande caixa de ressonância, de solidariedade e de ação, também para utilizar atos generosos de alguns".
É muito atual a lição política de uma desobediência civil de temperamento ressurgimental, mais adequado, como escreveu o seu amigo Gianfranco Contini, a "elaborar a resistência à tirania do que a administrar o cotidiano cinzento". Era 1985, o ano em que o filólogo, em Pisa, exortava desta forma à redescoberta de Capitini: "Mas é preciso que a Itália pós-fascista conservasse um pouco mais de memória ao antifascita da Perugia e se lavasse da ingratidão avara do silêncio excessivo em torno dele".
Exortação que continua válida, especialmente nestes dias em que se fala novamente de guerra e de paz. Não há muito coisa de Capitini que parece datado. Além disso, entre as tantas observações iluminadoras que podem ressoar utilmente ao ouvido do leitor de hoje, na página 92 do livro contra Pio XII, encontramos também esta: "A experiência da minha vida tem me ensinado que é preciso o velho e o novo, o velho revive no novo, o novo põe a prova a si mesmo utilizando o velho. Não digo que tudo se resuma a isso, mas, no entanto, é uma boa regra".
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O credo de Aldo Capitini censurado pela Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU