06 Novembro 2024
Será lançada, nesta segunda-feira (4/11), a segunda temporada do podcast “Depois da Cancela”, que traz histórias sobre prisões injustas. Apresentada por Lu Paladino – mulher que teve seu sobrinho de 19 anos preso injustamente e lutou para provar sua inocência – essa temporada também conta com episódios sobre prisões injustas a partir de reconhecimento facial equivocado como o caso do violoncelista da Orquestra de Cordas da Grota, de Niterói Luiz Carlos Justino; e do auxiliar administrativo, Danilo Felix, preso por reconhecimento fotográfico inadequado.
A reportagem é de Camila Marins, da assessoria do podcast "Depois da Cancela", enviado por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Durante as conversas, Lu e as pessoas entrevistadas questionam o racismo estrutural no método de reconhecimento fotográfico que vem sendo questionado internacionalmente. “O que eu ouvi e não importa o tempo, se foram quatro dias ou 2 anos, causa alguma coisa. O Luiz Justino falou de quatro dias, mas parece que foram 40 anos. Para cada um, a prisão causa um impacto. E eu fico refletindo sobre como isso vai deteriorando a pessoa e a forma como a pessoa vai se reinserir na sociedade após ser presa por crime que não cometeu”, disse Lu Paladino que reforça: “uma coisa que eu aprendi foi falar e, a partir do momento que a gente tem oportunidade de falar, a gente constrói o nosso futuro. Uma situação é quando você passa da cancela para o presídio e outra situação é quando você passa para o caminho da liberdade. De tudo, no geral, eu sou mais feliz depois da cancela".
De acordo com relatórios produzidos pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) e pelo Colégio Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), entre 2012 e 2020 ocorreram 90 prisões injustas por reconhecimento fotográfico, sendo 73 na cidade do Rio de Janeiro. Do total, 79 encarceramentos traziam informações sobre o perfil racial dos acusados, revelando que 81% deles eram pessoas negras. Devido a recorrência de casos de prisões injustas, em 2023, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) aprovou uma lei que impede que o reconhecimento fotográfico seja usado como única prova em pedidos de prisão, baseada na Resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 448/22.
A segunda temporada ainda traz entrevista com Kelly Castrioto e Gabriela Castriotto, respectivamente tia e prima de David Nobio da Silva, aluno de odontologia da UFF que foi baleado em um tiroteio entre policiais e traficantes de drogas. David foi acusado de participar da troca de tiros, e mesmo sendo inocentado posteriormente, faleceu meses depois em decorrência das complicações dos tiros.
O podcast “Depois da cancela” conta com a direção de Juliana Vinuto e Juliana Sanches. A produção foi realizada por Fabrício Basílio e Marcus Vinícius. A gravação, criação de trilha sonora original e a mixagem foram feitas por Rodrigo Solidade do Estúdio Koralab. As duas temporadas estão disponíveis gratuitamente em plataformas de streaming como o Spotify e o Deezer. O projeto conta com patrocínio da Secretaria Municipal Culturas de Niterói (SMC) por meio da Chamada Pública de Fomento Direto às Artes - Fomentão, de 2023.
O lançamento presencial da segunda temporada do Podcast "Depois da Cancela" ocorrerá no dia 07/10, às 18h, no auditório do Bloco P (Segundo andar) do ICHF (Instituto de Ciências Humanas e Filosofia) - R. Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, S/N, campus Gragoatá, Niterói, RJ.
Lu Paladino é mulher de 51 anos, casada e mãe de três filhos. Lu teve seu sobrinho de 19 anos preso injustamente e lutou para provar sua inocência. Um desfile de bate-bola no Carnaval de 2018 no Rio de Janeiro resultou em uma briga com um disparo de arma de fogo. Nenhuma morte, mas algumas prisões arbitrárias. Júlio César, seu sobrinho, foi um dos detidos, acusado de roubo com emprego de arma de fogo, mas ele sequer estava envolvido na briga.
A história de Lu Paladino, descrita com mais atenção na primeira temporada do Depois da Cancela, permite conhecer a dura vida de milhares de outros familiares de presos que precisam se responsabilizar pelas demandas do preso que deveriam ser garantidas pelo Estado. Sua trajetória fala de racismo, estigmas e criminalização, mas também de superação e, principalmente, de amor.
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No mês da consciência negra, segunda temporada de podcast traz casos de prisão injusta por reconhecimento facial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU