30 Setembro 2024
No centro de Beirute, Nivine se viu obrigada a passar a madrugada de sábado (28) na varanda da grande mesquita da capital libanesa. O local se tornou um abrigo improvisado, mas lotou após os bombardeios israelenses que já duram quase uma semana.
A informação é de Aabla Jounaïdi, Jad El Khoury e Laure Stephan, publicada por RFI, 29-09-2024.
Moradora da periferia sul de Beirute, Nivine deixou sua casa às pressas, após um ataque iminente de Israel. Em entrevista à RFI, ela contou como em questão de horas se tornou uma sem-teto. "Não podemos voltar para onde vivíamos, a situação é muito grave. Israel bombardeia toda a zona sul de Beirute. Temos família em outras cidades, mas não podemos ir até eles porque eles também estão sendo bombardeados", diz.
Apenas no sábado, os bombardeios israelenses deixaram ao menos 33 mortos e 195 feridos, o que eleva o balanço de óbitos a cerca de 750 desde segunda-feira (23). Há semanas, a população vive a intensificação do conflito entre Israel e o Hezbollah. Na semana anterior, as explosões de dispositivos digitais já haviam deixado dezenas de mortos e milhares de feridos.
Entre os penalizados pelo conflito, estão também cidadãos sírios e palestinos que se instalaram no Líbano para fugir de outras guerras no Oriente Médio. Esses refugiados eram milhares a viver na periferia de Beirute, onde há bairros mais populares e abordáveis.
O costureiro Khaled escapou do regime de Bashar al-Assad acreditando que poderia levar uma vida mais tranquila no Líbano. "Como refugiado sírio, não temos mais para onde ir. Não há mais segurança em nenhum lugar do mundo árabe", diz.
Em entrevista à RFI, ele descreve o ataque que presenciou na última sexta-feira (27). "Foi um bombardeio inimaginável em uma zona civil. Em uma guerra, em um front, talvez isso seja possível. Mas não contra pessoas em suas casas", aponta.
Além da consternação e medo com os ataques, a população da periferia sul de Beirute ainda digere a notícia da morte de Hassan Nasrallah, chefe do grupo Hezbollah. Foi nesta região, considerada o bastião do movimento xiita, que ele foi "eliminado" pelos bombardeios israelenses de sexta-feira. O falecimento deste que era considerado um dos homens mais poderosos do Líbano foi confirmado no sábado e chocou a população.
"Rezo para que ele apareça e que nos diga: 'como eu prometi para vocês, vamos rezar juntos em Jerusalém'", diz, aos prantos, a libanesa Rima à RFI. Para ela, Nasrallah era "um pai, uma honra, uma força". "Ele não pode nos deixar desta forma", lamenta.
Visto como um herói em sua comunidade, o homem que liderou o Hezbollah durante mais de três décadas era extremamente popular entre os libaneses, até mesmo entre os sunitas. É o caso de Mohamed, que diz não defender nenhum partido político. "Mas eu apoiava esse homem porque nós temos um inimigo em comum", explica.
A comoção com a morte de Nasrallah demonstra a importância que tinha essa figura na cena política libanesa. No entanto, suas ações estão longe de suscitar unanimidade. Para Marie, uma cristã moradora de Beirute, a resistência à Israel não justifica todas as ações do agora ex-chefe do Hezbollah.
"Para que fazer guerras que não são nossas?", diz. "Para que ir à Síria, Iraque, Irã, ou apoiar Estados que são muito mais potentes que o Líbano, militar e tecnologicamente?", questiona, em alusão às diferentes campanhas do movimento xiita durante a chefia de Nasrallah.
Amado ou odiado, o impacto da morte do dirigente na sociedade libanesa é inegável. Prova disso é que o governo decretou um luto nacional de três dias, a partir desta segunda-feira (30).
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'Não temos para onde ir': libaneses dormem nas ruas depois de terem casas destruídas por bombardeios israelenses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU