23 Setembro 2024
A informação é de Amaia Echevarria, publicada por Religión Digital, 22-09-2024.
A diminuição da prática religiosa, a falta de padres e o encerramento de igrejas, somados aos escândalos sobre abusos sexuais, são as características mais marcantes que Francisco encontrará na próxima semana na Bélgica e que nada têm a ver com 1995, quando Bruxelas recebeu a última visita de um sumo pontífice: João Paulo II.
A viagem de Francisco à Bélgica acontecerá entre os dias 26 – com parada prévia de algumas horas em Luxemburgo – e 29 de setembro, após uma viagem de 12 dias pela Ásia, e ocorre num momento delicado para a Igreja Católica belga.
Segundo o mais recente relatório anual publicado pela Igreja belga para 2022, a frequência à missa aos domingos é 40% inferior à de 2017 e em seis anos perdeu 915 sacerdotes diocesanos, o que equivaleria a uma diminuição de 33%, embora o o clero religioso diminuiu 22%.
Os batismos, confirmações e casamentos também estão em constante declínio, mas de forma menos significativa: entre 2017 e 2022, o número de batismos diminuiu 15%, os casamentos 12% e as confirmações 21%.
Rebecca Charlier-Alsberge, delegada episcopal do Vicariato de Brabante Valão, destacou em entrevista à EFE que para ela a delicada situação da instituição religiosa é “a oportunidade de voltar ao coração (...) daquilo que é ser cristão”.
Em março deste ano, o Vaticano retirou o estatuto clerical de 18 religiosos belgas depois de a justiça comum os ter considerado culpados em casos de abuso sexual. Meses antes, um documentário sobre abusos sexuais na Igreja Católica causou alvoroço no país, abrindo um debate sobre o financiamento da religião na Bélgica.
“A Igreja belga está abalada há vários anos neste sentido”, disse o delegado episcopal, que admite que, embora comissões e locais de escuta tenham sido criados desde 2010 em todas as dioceses, “devemos continuar a aumentar o apoio ao povo. (...) Precisamos melhorar a prevenção, formando os nossos sacerdotes, os nossos diáconos, os nossos animadores pastorais”, acrescentou, depois de reconhecer que os abusos são uma das razões que levam as pessoas a abandonar a Igreja, “mas não toda”.
“Podemos transformar crises em oportunidades”, disse Charlier-Alsberge, que acredita que, com o tempo, assistir à missa perdeu aquela parte do “costume” e que as pessoas que assistem hoje o fazem “porque Cristo é importante para nós”.
O relatório observa que “a Igreja questiona a sua forma de funcionamento”, especialmente entre os jovens, que duvidam da sua credibilidade e a consideram “ultrapassada, rígida e alheia ao mundo”. Por isso, adaptar a linguagem aos tempos atuais é “um verdadeiro desafio” para Charlier-Alsberge.
Charlier-Alsberge é psicóloga de profissão e a primeira leiga na Bélgica a aceder ao cargo de delegada episcopal do vicariato, anteriormente ocupado por um bispo. Além dela, existem apenas mais 4 casos na Suíça, onde 2 mulheres e 2 homens leigos têm posição semelhante.
“Os nossos novos papéis são um exemplo de uma possibilidade de evolução, do lugar das mulheres e dos leigos na Igreja”, destacou, depois de defender que “eles [leigos e leigas] têm coisas a oferecer em complementaridade com os sacerdotes”.
E concluiu: "Estamos em vias de inventar e também estamos a agitar um pouco a liturgia (…) Não sei para onde vamos, mas espanta-me pensar que estamos a avançar, e para um cristão é lindo dizer que o Espírito sopra e é Ele quem nos guia”.
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Da falta de cura à ferida do abuso: a Igreja Belga que Francisco verá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU