23 Setembro 2024
Ultradireitista AfD conquistou maior fatia entre eleitores de 16 a 24 anos na eleição estadual de Brandemburgo, desbancando verdes. Vencedores do pleito, social-democratas conseguiram melhores resultados entre idosos.
A reportagem é de Jean-Philip Struck, publicada por DW, 22-09-2024.
Eleitores do estado de Brandemburgo, no Leste alemão, foram às urnas neste domingo (22/09) para escolher a nova composição do Parlamento local e consequentemente a liderança do novo governo estadual.
Na contagem final, o Partido Social Democrata (SPD), a sigla do chanceler federal Olaf Scholz garantiu a primeira posição na disputa, com 31% dos votos, pouco à frente da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que obteve com 29%. Na sequência, veio a Aliança Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça (BSW), um partido de esquerda com viés socialmente conservador criado em janeiro, com 14%.
Mas, se dependesse apenas dos eleitores jovens, os ultradireitistas da AfD terminariam em primeiro lugar, bem à frente de qualquer rival.
Segundo uma pesquisa divulgada pela emissora ARD após o fechamento das urnas, a AfD garantiu os votos de 31% dos eleitores entre 16 e 24 anos; e 33% entre aqueles de 25 a 34 anos.
São percentuais bem à frente de outras siglas.
Em 2019, a AfD havia conquistado 18% votos dos eleitores entre 16 e 24 anos.
O SPD, o segundo partido mais bem posicionado nesses dois grupos na eleição deste domingo, obteve 19% dos votos entre os eleitores entre 16 e 24 anos e 20% daqueles entre 25 e 34 anos.
O resultado nesses dois grupos é especialmente desalentador para o Partido Verde, que na última eleição estadual de Brandemburgo, em 2019, havia terminado em primeiro lugar na preferência do eleitorado entre 16 e 24 anos, com 27% da fatia desse voto. Desta vez, os verdes amargaram apenas 6% entre o eleitorado mais jovem.
Os verdes, que perderam votos entre todas as faixas etárias, garantiram apenas 4% dos votos gerais no pleito deste domingo, abaixo da cláusula de barreira de 5% para garantir uma bancada no Parlamento de Brandemburgo.
O crescimento da AfD entre os jovens foi mencionado pelo colíder do diretório nacional da sigla, o deputado federal Tino Chrupalla, após a divulgação das primeiras projeções em Brandemburgo.
Ele lamentou que o partido não tenha conseguido terminar a disputa em Brandemburgo em primeiro lugar, mas celebrou o crescimento. "Obtivemos um apoio significativo e, acima de tudo, tivemos grandes ganhos entre os eleitores jovens", disse ele.
Na Alemanha, o voto é facultativo. Nas eleições federais (que escolhem o Parlamento do país e consequentemente o chanceler federal) podem votar todos os cidadãos alemães acima de 18 anos.
Em eleições estaduais, no entanto, a regra varia. Na maior parte dos 16 estados o voto é reservado para cidadãos acima de 18, mas alguns permitem o voto a partir de 16 anos em pleitos estaduais. Entre eles estão Brandemburgo, Schleswig-Holstein, Bremen, Baden-Württemberg, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e Hamburgo.
Vencedores da eleição, os social-democratas ficaram atrás da AfD entre todas as faixas etárias abaixo dos 60 anos.
É somente a partir do recorte do grupo de 60 a 69 que os social-democratas começam a aparecer à frente dos ultradireitistas. Neste grupo, o SPD garantiu o voto de 35% dos eleitores que compareceram, enquanto a AfD aparece com 29%. Entre os eleitores com mais de 70 anos, o SPD se saiu ainda melhor, garantindo 49% dos votos. Neste grupo, a AfD ficou bem atrás, com apenas 17%
Brandemburgo é considerado um bastião do SPD. O partido lidera o governo estadual há 34 anos, desde a reunificação da Alemanha em 1990. O estado era parte do território da antiga Alemanha Oriental, e, portanto, os eleitores acima de 35 anos que nasceram na região ainda viveram sob o antigo regime comunista.
No momento, o governo do estado é liderado pelo social-democrata Dietmar Woidke, de 61 anos, que está no cargo desde 2013.
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias ou racistas, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas.
Em abril, uma pesquisa mostrou que os jovens alemães estão hoje mais propensos a apoiar a AfD do que nos dois últimos anos. Os autores do estudo Youth in Germany 2024 (Juventude na Alemanha 2024) afirmaram que os jovens com menos de 30 anos estão cada vez mais insatisfeitos com sua situação social e econômica, e que os temores sobre sua prosperidade futura têm feito eles se inclinarem à direita.
O tema mais emblemático da AfD é o discurso anti-imigração, e os dados mostraram que a migração está entre as principais preocupações dos jovens. Cerca de 22% de 2.000 jovens alemães com idade entre 14 e 29 anos que responderam à pesquisa disseram que votariam na AfD se pudessem votar em eleições parlamentares naquele momento.
Esse percentual foi mais do que o dobro do registrado dois anos antes. Em 2022, apenas 9% dos jovens disseram que votariam na AfD, e em 2023, 12%.
Após os efeitos da pandemia, os autores disseram que as preocupações econômicas e políticas, por exemplo devido à inflação, aos altos aluguéis, às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio ou à divisão da sociedade, assumiram o centro das atenções.
A preocupação com as mudanças climáticas diminuiu, segundo o estudo, mas os temores cresceram quando se trata de questões como inflação, economia e pobreza na velhice.
A pesquisa mostrou que os jovens estavam especialmente preocupados com a inflação (65%), moradias caras (54%), pobreza na velhice (48%), a divisão da sociedade (49%) e o aumento dos fluxos de migrantes e refugiados (41%).
"Podemos falar de uma clara mudança à direita na população jovem", disse o autor Klaus Hurrelmann. "Enquanto os partidos do governo [de coalizão] continuam a cair em popularidade, a AfD é particularmente popular." O atual governo federal alemão é governado por uma coalizão entre o SPD, os Verdes e liberais.
Outro fator que costuma ser creditado como responsável pelo avanço da AfD entre os jovens é o uso sistemático de redes sociais pela máquina de propaganda do partido, especialmente o TikTok. O uso do aplicativo pela sigla ganhou destaque na última eleição europeia, em junho, que também permitiu o voto a partir de 16 anos.
Na ocasião, o partido triplicou seus votos entre eleitores abaixo de 24 anos.
Inicialmente a AfD havia recebido mal os planos de reduzir a idade para votar para 16 anos nas eleições europeias e em alguns pleitos estaduais. Mas, depois de tentar barrar sem sucesso a medida, a AfD se voltou estrategicamente para os jovens como nenhum outro partido alemão. Por meio de campanhas direcionadas nas redes sociais, principalmente no TikTok e no Instagram, conseguiu atingir esse grupo com mensagens emotivas, diretas e fáceis de entender.
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Ultradireita avança entre eleitores jovens no Leste alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU