19 Setembro 2024
Marçal quer consolidar-se como figura de renovação, por isso aposta em narrativa antissistema e em modelos autoritários.
A reportagem é de Carla Castanho, publicada por Jornal GGN, 18-09-2024.
O propósito do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, é claro, mas precisa ser reforçado como um alerta para o futuro democrático: consolidar-se como uma figura de renovação no cenário político brasileiro, com a meta de alcançar o cargo mais alto na hierarquia política — a presidência da República.
Para isso, Marçal se autodeclara um candidato “genuinamente evangélico” adotando uma postura religiosa recheada de símbolos bíblicos, e que não precisa do apoio institucional de líderes maiores, posicionamento que o coloca em contraste com o “velho”, representado por figuras como o pastor Silas Malafaia e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A análise é do cientista político Pedro Costa Júnior, em entrevista à jornalista Lourdes Nassif, no programa TVGGN 20H [assista abaixo].
O diferencial religioso pode atrair eleitores evangélicos que Bolsonaro não conseguiu conquistar completamente. Embora Bolsonaro tenha participado de um batismo simbólico no Rio Jordão, em Israel — local onde, segundo a Bíblia, Jesus foi batizado — ele nunca se declarou explicitamente evangélico, preferindo identificar-se como um seguidor de valores cristãos.
Pedro Costa Júnior argumenta que Marçal é um novo fenômeno político, com um discurso alinhado à direita global, cuja fonte de inspiração parece estar em modelos autoritários como o de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, conhecido por suas políticas que desafiam os direitos humanos e enfraquecem as liberdades civis.
“Ele [Bukele] é um açougueiro dos direitos humanos, e Pablo Marçal mira em Bukele. Esse é o projeto dele em escala nacional. O que está acontecendo agora na prefeitura é apenas um laboratório para ele ganhar visibilidade no cenário nacional”, destaca Costa Júnior.
A estratégia de Marçal de fomentar caos e polarização é central em seu modus operandi, explica o cientista político, tática comum entre líderes da extrema-direita global. Assim como Trump e outros líderes autoritários, Marçal constrói uma narrativa de enfrentamento ao “sistema”, a fim de posicionarem-se como a solução para os problemas que, muitas vezes, são exacerbados ou criados por suas próprias retóricas.
“Eles não são contra a política, isso é algo do passado; eles são contra o sistema. O que todos eles dizem, o que Trump afirmou em 2016 e 2020, é que, se perderem a eleição, é porque houve fraude. O antissistema não aceita o resultado das urnas. O objetivo deles é destruir e descredibilizar as instituições”, explica Costa Júnior.
Assista a entrevista completa:
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