18 Setembro 2024
"O que nos leva a considerar o fato de que, como comunidade crente, em aliança com aqueles que compartilham o nosso horizonte antropológico, temos que habitar, em uma sociedade pluralista, o espaço de formação das consciências, para que elas cheguem a decisões coerentes com a vida", escreve Giuseppe Lorizio, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, em artigo publicado por Settimana News, 17-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Diante do dilema da escolha política e eleitoral entre um partido e um candidato que se declara a favor de uma legislação sobre o aborto e um adversário que, por outro lado, acredita que os imigrantes devem ser expulsos, na conversa com os jornalistas durante o retorno de sua recente viagem ao Extremo Oriente, o Papa Francisco convidou as pessoas a decidirem em consciência pelo “mal menor”.
A questão é dramática para o crente, precisamente porque ambas as posições, disse o papa, são contra a vida. A tentação de não participar da votação, devido ao fato de que não há nenhum partido que possa representar plenamente as posições católicas, pode ser forte e constituir um atalho fácil e conveniente. Entende-se também que, embora a pergunta tenha surgido por ocasião da atual campanha eleitoral nos EUA, também diz respeito aos eleitores crentes de toda a Europa.
Excluída, contudo, a possibilidade de abstenção, até mesmo o teólogo não pode deixar de se perguntar qual seria o mal menor, e não creio que possa se abster de oferecer sua própria contribuição, até mesmo pública, para o discernimento. Caso contrário, ele estaria falhando em sua missão como intelectual e em seu empenho na Igreja e na sociedade.
A reflexão a seguir nasce com essa intenção e pertence à opinião, que tentarei documentar, de quem escreve, com a intenção de que possa ser de ajuda para as escolhas pessoais de cada um, mesmo que apenas como um teste decisivo para escolher de forma diferente.
Embora dentro do horizonte da rejeição da vida que une as duas perspectivas citadas, parece-me útil destacar a diferença que diz respeito ao fato de que despenalizar a interrupção da gravidez não obriga ninguém a recorrer a ela. Seria uma legislação permissiva, mas não coercitiva. O que nos leva a considerar o fato de que, como comunidade crente, em aliança com aqueles que compartilham o nosso horizonte antropológico, temos que habitar, em uma sociedade pluralista, o espaço de formação das consciências, para que elas cheguem a decisões coerentes com a vida. Esse é um empenho nada pequeno que, em nível político, deveria ser expresso, nos fóruns apropriados, na recusa de considerar o aborto como um “direito”, pois o direito não pode ser baseado na morte.
Outra coisa é a despenalização de quem, muitas vezes em circunstâncias dramáticas, fez tal escolha e a possibilidade que ela não resulte em mais mortalidade ou danos à saúde da pessoa.
Diante dessa perspectiva “permissiva”, a expulsão dos migrantes assume uma forma coercitiva e fortemente prejudicial à vida e à dignidade da pessoa. Na campanha eleitoral dos EUA, foi usado o terrível termo “deportação”.
Por mais que os fluxos migratórios devam ocorrer o máximo possível dentro da legalidade, a recusa de socorrer no mar, de desviar as embarcações para portos mais distantes daquele de mais fácil acesso, a expulsão ou a detenção de migrantes em estruturas muito semelhantes a prisões assumem a aparência da imposição e, portanto, devem ser rejeitadas pelo cidadão crente.
Essas opções não deixam espaço para as escolhas individuais nem para a formação de consciências acolhedoras, porque estão nas mãos daqueles que detêm o poder político. O indivíduo, sob essa perspectiva, não pode fazer nada para se opor, a não ser evitar votar em quem defende tais objetivos.
A consciência crente e teológica de quem escreve, portanto, identifica assim o mal menor, com as razões aduzidas, expondo-se ao confronto e ao diálogo com aqueles que não compartilham dessa opinião, que não iguala as duas posições políticas diferentes, colocando-as no mesmo plano, mas, precisamente porque acredita que se deve escolher e votar, se empenha em buscar as razões para sua própria escolha eleitoral no caso de seu próprio país, consoante em relação a outros.
A referência do Papa Francisco à “consciência” é, portanto, fundamental em ocasião de escolhas importantes para o futuro das pessoas e da sociedade, e o desejo é que todos se coloquem à escuta dessa voz interior iluminada pela razão e pela Palavra.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Mal menor e bem comum. Artigo de Giuseppe Lorizio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU