13 Agosto 2024
"A impressão que guardamos é que a atual composição do ICSTA deixou de lado a promoção de uma Cultura Superior Cristã e se contenta em reafirmar para seus associados a Doutrina Católica anterior ao Concílio Ecumênico Vaticano II".
A carta é de Pedro de Assis Ribeiro de Oliveira, sociólogo, membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política, e Faustino Luiz Couto Teixeira, teólogo.
Eis a carta.
"Olhem bem para a pedreira de onde vocês foram tirados, reparem bem o talho de onde vocês foram cortados" (Is 51,2).
Escrevemos esta carta devido ao apreço que nossos pais – respectivamente Joaquim Ribeiro de Oliveira e Mozart Geraldo Teixeira – sempre tiveram pelo Instituto Cultural Santo Tomás de Aquino – ICSTA, do qual foram fundadores. Ambos nos incentivaram a dar continuidade à sua obra. Embora morando fora isso fosse difícil, em diferentes oportunidades participamos de suas atividades tendo em vista colaborar para a promoção da Cultura Superior Cristã em Juiz de Fora, sua finalidade maior.
O resultado dessas tentativas, porém, foi frustrante. Embora fôssemos sempre acolhidos com demonstrações de atenção e respeito, sentíamos que essa participação não resultou em qualquer avanço para o debate intelectual nem para o diálogo com a sociedade local. A impressão que guardamos é que a atual composição do ICSTA deixou de lado a promoção de uma Cultura Superior Cristã e se contenta em reafirmar para seus associados a Doutrina Católica anterior ao Concílio Ecumênico Vaticano II.
Se essa impressão corresponde à realidade do ICSTA, como nos parece, só nos resta lamentar que a dedicação de nossos pais e de seus primeiros colegas de Instituto tenha resultado nisso que hoje se vê: uma instituição irrelevante no contexto cultural de Juiz de Fora. Isso apesar de contar com a necessária autonomia financeira e institucional para promover em nossa cidade a reflexão sobre o cristianismo em nível cultural efetivamente superior.
Diante do que escrevemos acima, só nos resta lamentar os rumos tomados pelo ICSTA na última década e fazer um alerta a quem, participando deste Instituto, quer recuperar a missão imprimida por seus fundadores e fundadoras: ser um Instituto de Cultura Superior, apto a dialogar com outros pensamentos. Se seguir sua vocação original, ele ainda poderá desempenhar um papel relevante no ambiente cultural de nossa cidade e propor respostas aos desafios da realidade atual.
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