20 Julho 2024
Com a escolha do candidato à vice-presidente, firma-se a frente tradicionalista cristã em apoio ao magnata, do outro lado está o católico Biden. A tração evangélica da campanha de Trump. As questões-chave do aborto e da migração podem ser decisivas na disputa pela Casa Branca.
O artigo é de Francesco Peloso, jornalista, publicado por Domani, 17-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O fator religioso sempre foi um dos aspectos centrais na disputa pela Casa Branca, e poderia ser assim também desta vez. A escolha feita por Donald Trump de nomear James David Vance para vice-presidente é importante por esse motivo, entre outros. Vance, 40 anos, é um católico convertido em 2019 e representa a peça que faltava para a grande aliança conservadora-tradicionalista que apoia o candidato republicano à presidência dos EUA.
A força de choque do eleitorado que está empurrando Trump, de fato, é constituída pelo bloco dos evangélicos brancos; no entanto, estava ausente nessa onda - forte, mas circunscrita - uma voz do catolicismo conservador, que pudesse ser considerado um ponto de referência para a direita católica e para o movimento pró-vida (os antiabortistas), historicamente bem enraizado nos setores conservadores da Igreja Católica estadunidense.
Agora, porém, com o candidato "enviado por Deus", de acordo com um dos slogans da campanha presidencial de Donald Trump, inspirado pela galáxia evangélica, e o jovem católico convertido como seu possível vice, a união de fato já existente entre católicos tradicionalistas e identitários e evangélicos se transforma em uma realidade política capaz de empunhar a Bíblia e o fuzil, defender as fronteiras nacionais a qualquer custo contra os fluxos migratórios, promover com força total a família tradicional - desconfiando dos solteiros e detestando as pessoas LGBT - e, acima de tudo, dizer um alto e sonoro não ao aborto.
Do outro lado está - por enquanto - o democrata Joe Biden, o idoso presidente, que também é católico, mas filho da orientação do Concílio Vaticano II. O presidente não é a favor do aborto, mas defende o direito de escolha das mulheres (pró-escolha), ainda mais depois da decisão da Suprema Corte, dominada por juízes nomeados por Trump, que em junho de 2022 anulou o pronunciamento histórico da Corte de 1973, com o qual se afirmava o direito ao aborto em nível federal.
O tema é um dos mais importantes para a próxima campanha eleitoral: embora muitos bispos católicos tenham saudado a vitória histórica, a própria base católica parece bastante dividida sobre a questão e, em geral, a proibição absoluta ao aborto propagandeada pela ala mais intransigente do movimento pró-vida parece ter sido, até hoje, mais um fator de mobilização dos opositores de Trump, a começar pelas mulheres, do que um elemento capaz de gerar consenso. Além disso, desde que a decisão que cancela o direito ao aborto foi tornada pública, foram realizados referendos em vários estados nos quais prevaleceram aqueles que lutam para introduzir ou fortalecer o direito ao aborto (incluindo o estado de Ohio do senador Vance).
O resultado deu origem a um país com legislação disforme, com o risco de que aconteçam migrações internas, de um estado para outro, apenas para poder fazer um aborto.
Tanto é assim que, mais recentemente, Trump e o próprio J.D. Vance suavizaram um pouco o tom. Principalmente depois que a Suprema Corte decidiu que as mulheres podiam ter acesso à pílula abortiva. Primeiro o magnata, depois seu candidato a vice-presidente, deram seu aval para o uso do fármaco.
Por outro lado, Vance havia dito à CNN algum tempo atrás: "Temos que aceitar que as pessoas não querem proibições generalizada sobre o aborto. Simplesmente não o querem. Digo isso como alguém que quer proteger o maior número possível de crianças não nascidas. Temos que prever exceções para a vida da mãe, o estupro e assim por diante".
Embora o aborto seja, sem dúvida, um tema fundamental, o fato é que geralmente quem ganha a maioria dos votos católicos, ainda que por uma margem estreita, ganha a Casa Branca.
Nesse sentido, a candidatura de J.D. Vance poderia até resultar a jogada decisiva, também em vista das dificuldades que a campanha de Biden está enfrentando.
É claro que ainda não se sabe como se orientará a forte e articulada comunidade dos "latinos", grupo em que a influência católica é maior (mas não exclusiva, de fato a parte evangélica também está crescendo ali) e no qual uma abordagem diferente das políticas migratórias poderia ter seu peso.
Cabe dizer, no entanto, que mesmo nessa frente os democratas estão passando por um momento bastante complicado, pressionados entre as exigências de conter o fluxo humano vindo da fronteira mexicana e a exigência de não abrir mão de uma tradicional política de acolhimento, especialmente em relação a refugiados e solicitantes de asilo.
De um lado, em suma, encontramos muitos bispos e um catolicismo identitário, centrado nas questões bioéticas - em primeiro lugar, a rejeição do aborto - e familiares; do outro, uma igreja comprometida com o acolhimento, a promoção dos excluídos, dos pobres e a expansão dos direitos.
Não parece, portanto, que a tentativa de Francisco de indicar que a doutrina social da Igreja deve ser aceita em sua totalidade tenha sido muito bem-sucedida no país, pelo menos a julgar pelo tom da campanha eleitoral, onde cada um dos candidatos parece ter sua própria lista de princípios não negociáveis.
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J.D. Vance, o católico de assalto: assim Donald Trump une evangélicos e tradicionalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU