05 Julho 2024
Recente estudo publicado pela plataforma MapBiomas informa que a superfície de água no Brasil voltou a ficar abaixo da média em 2023, com destaque para os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Roraima e Rio Grande do Sul. Os dados ainda informam que, neste século, praticamente todos os anos apresentaram redução de superfície de água no País.
A reportagem é publicada por Jornal da USP, 03-07-2024.
Segundo o professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), os dados preocupam, já que indicam a perda constante de água na superfície. Isso ocorre devido ao descaso do País em relação às nascentes e matas ciliares, o que prejudica o solo e a percolação de chuvas na terra.
“Quando a água da chuva não penetra no solo, ela corre direto para os corpos d’água e vai escoando em direção ao mar, ou seja, não há um acúmulo significativo de água. Com isso, nós temos um prejuízo muito grande ao fluxo de diversos rios. Uma situação que se avizinha é de uma estiagem muito severa, exatamente porque o lençol freático está, muitas vezes, com o nível muito baixo, e ele não é capaz de manter esse fluxo d’água em períodos de estiagem mais prolongada”, comenta.
Além das mudanças climáticas e do desmatamento geral, o especialista destaca o desmatamento da Amazônia, já que as chuvas geradas na região abastecem, através da evapotranspiração, diversas regiões do Brasil. “Essas chuvas originárias da Amazônia vêm perdendo intensidade, ou seja, os ventos continuam soprando, entretanto, gerando um volume menor de chuvas”, conclui.
Além dos dados referentes ao Cerrado, com perda significativa de água na superfície de diversos Estados (com exceção de Minas Gerais e Goiás, que tiveram um aumento não natural do espelho d’água devido à criação de novos reservatórios, seja para geração de energia elétrica ou para irrigação de cultivos), Côrtes também destaca os dados da região do Pantanal. No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que contemplam o bioma, houve a diminuição do circuito de água, muito devido à diminuição de chuvas amazônicas na região.
Côrtes explica que, no Pantanal, além dessa redução de chuvas e, consequentemente, da área alagada, o tempo de permanência da água tem se reduzido, característica explicada pelo fogo excessivo na região. “Nós temos a sobreposição do fogo, que compromete a estrutura do solo, e essa temperatura excessiva ajuda a reduzir a quantidade de água disponível no lençol freático. Ou seja, quando ocorrerem novas chuvas, ela vai migrar para as partes mais profundas do solo, hidratando esse subsolo ao invés de cumprir a sua função natural, que era de alagar determinadas áreas”, finaliza.
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Cerrado e Pantanal: biomas que mais perderam superfície de água no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU