21 Junho 2024
A reportagem é de Jordi Pacheco, publicado por Religión Digital, 19-06-2024.
"O padre Lluís To era uma pessoa muito popular entre os jesuítas, professores e famílias. Ninguém acreditava nas denúncias que ele recebia. Como é que a cultura do silêncio não nos deixou ver o lado obscuro de um predador que tínhamos entre nós?"
Esta é a reflexão feita por Pau Vidal, delegado da Companhia de Jesus na Catalunha, em La huida, o documentário transmitido na TV3 esta terça-feira, 18 de junho na TV3 em que são analisados os abusos cometidos pelos jesuítas Francesc Peris, Lluís To e outros membros da Companhia entre os anos 60 e 90 em Barcelona e em Cochabamba, na Bolívia.
A análise baseia-se no testemunho de meia dúzia de pessoas que explicam como os abusos ocorreram e as consequências que tiveram nas suas vidas. Uma das vozes que aparece é a de Laura Calzada, moradora do bairro Poblenou e vítima do padre Francesc Peris na escola Jesuïtes Casp. "Era uma boa escola, eu era feliz lá, com meus amigos; tínhamos de tudo: fazíamos esqui, conexão com a natureza... mas também uma sombra: o padre Peris", diz Calzada, lembrando tutoriais individuais em que o religioso "sempre trancava a porta" enquanto cometia abusos contra os alunos.
Calzada descreve Peris, que atualmente está aposentado e vive longe de qualquer contato com menores em uma comunidade jesuíta, como alguém "muito legal". "Era uma pessoa cheia de animação", resume, referindo-se ao padre, que em 1984 foi enviado pela Companhia de Jesus para a Escola Juan XXIII, em Conchabamba, onde continuou a abusar de menores até ser denunciado e voltar a Barcelona um ano depois.
"Como instituição, eles não fizeram nada. Eles os realocaram. Protegeram-se e encobriram-se. Aqui eles te fisgaram, porque a gente te leva para outro lugar", diz uma das vítimas bolivianas no documentário. Uma declaração que Pau Vidal nega, alertando que, apesar de Peris – e depois Tó – terem sido enviados para a Bolívia "isso não significa que se tornou um lugar para estacionar pessoas que tinham problemas aqui na Catalunha".
To, que era diretor da escola Sant Ignasi de Sarrià e referência do centro, foi denunciado em 1992 pelos pais de Alessandra Martin. A sentença, considerada histórica, foi condenatória: dois anos de prisão, que To não cumpriu por falta de registro, e proibição de trabalhar com crianças por mais de mil dias.
"Naquele momento, o provincial da Companhia, equivocadamente, decidiu defender a reputação de Lluís To e da instituição sem colocar o reclamante, a vítima e sua família no centro", reconhece Pau Vidal. Em outro momento do filme, o padre confessa que os jesuítas, após abrirem os arquivos, descobriram que desde 1968 havia provas das ações de To. "Pedimos perdão por ter tido um predador sexual e não ter tomado as medidas necessárias para evitar que ele prejudicasse tantas pessoas", acrescenta o religioso.
O Fugitivo, uma produção da 3Cat em coprodução com a Prensa Ibérica e a Ottokar, é baseada na investigação de oito anos dos jornalistas Guillem Sánchez e Josep Morell Feixas e dirigida por Josep Morell Feixas, Guillem Sánchez e Marc M. Sarrado.
O documentário, que estreou em 6 de maio no festival DOCS Barcelona, conta com a participação da Companhia de Jesus da Catalunha e Bolívia e da Fundação Jesuïtes Educació. Além de Pau Vidal, conta com a participação do padre Pere Borràs, provincial da Companhia de Jesus na Catalunha entre 2001 e 2008; e do porta-voz da Companhia de Jesus na Bolívia. A instituição também facilitou o acesso para as filmagens das fachadas das escolas.
"Temos consciência de que a transmissão vai gerar dor, desconforto e tristeza. Por isso, estamos trabalhando para poder acompanhar as comunidades educativas na medida e intensidade que cada uma possa precisar, como parte do processo de reparação", disse a Jesuïtes Educació em nota em meados de abril.
O comunicado serviu à instituição para mostrar o seu "compromisso em esclarecer o passado" e transmitir à sociedade e às famílias uma "mensagem de confiança" garantindo que, atualmente, as escolas da ordem fundada por Santo Inácio de Loyola "são espaços seguros onde são rigorosamente aplicadas, além dos protocolos da Secretaria de Educação", o conjunto de medidas de proteção do Sistema Ambiente Seguro da Companhia de Jesus", que é um sistema que fornece "ferramentas para prevenir e identificar possíveis situações de abuso e violência de todos os tipos".
Os jesuítas recordaram ainda que há apenas um ano, no início de junho de 2023, foi lançada a colaboração com o escritório de advocacia Roca Junyent, para o qual foram enviadas todas as informações existentes sobre os casos do passado, bem como as diligências tomadas para a realização de uma investigação, cujos resultados serão revelados nas próximas semanas.
Reiterando sua "firme condenação dos abusos cometidos no passado" dentro de suas instituições, a Companhia colocou-se à disposição das vítimas para oferecer-lhes o apoio necessário e empreender um processo de reparação. Nesse sentido, possibilitou canais de atenção e atendimento por meio do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., gerenciado pela própria instituição, e Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., da Associação de Mediação, Encontro e Escuta, para aqueles que preferissem fazê-lo por meio de uma entidade externa.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Vítimas quebram o silêncio sobre abusos jesuítas em Barcelona e na Bolívia no documentário 'La Huida' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU