06 Junho 2024
Na capital do estado, chuvas afetaram 22% do território.
A reportagem é de Bruno de Freitas Moura, publicada por Agência Brasil, 05-06-2024.
O maior desastre climático do Rio Grande do Sul, provocado por seguidos temporais nos meses de abril e maio, atingiu 298 dos 497 municípios gaúchos, em maior ou menor grau. Isso representa 60% das cidades do estado. Dessas, 73 tiveram ao menos 10% da área afetada por deslizamentos, enxurradas ou inundações.
Os dados fazem parte de um levantamento divulgado nesta quarta-feira (5) pelo MapBiomas, iniciativa que envolve universidades, organizações não governamentais (ONGs) e empresas de tecnologia, e faz análise de dados por meio de imagens de satélites.
De acordo com o estudo, enxurradas, inundações e alagamentos atingiram 15.778 quilômetros quadrados (km²), o que significa 5,6% do território gaúcho (281.748 km²).
Foram analisadas de forma complementar imagens de satélite obtidas por sensores óticos, que não conseguem informações de alvos encobertos por nuvens, e de radar, que captam dados mesmo com presença de nuvens. Para definir a extensão das consequências do desastre, os pesquisadores compararam as imagens recentes com arquivos de 2022.
Com as imagens sobrepostas, o estudo identificou 298 municípios com ao menos 1% do território afetado; 119 foram atingidos em 5%; 73 em 10% ou mais; e 34 em 20% ou mais.
Duas cidades tiveram mais da metade da área afetada, Nova Santa Rita (52,6%) e Esteio (50,1%). Charqueadas e Canoas completam a lista dos municípios mais atingidos, ambas com 49% do território afetado por enxurradas, deslizamentos ou alagamentos. A capital gaúcha, Porto Alegre, teve 22.6% da área atingida.
O estudo analisou também os efeitos dos temporais em áreas urbanizadas, e a conclusão aponta 5% de toda a área urbanizada do Rio Grande do Sul.
Dos 497 municípios, 158 ficaram com 1% ou mais da área urbanizada atingida; 47, com 5% ou mais; 22, com 10% ou mais e 6, com 20% ou mais. Eldorado do Sul figura na pior situação, com 66,7% do território afetado por deslizamentos, enxurradas e inundações. Em Porto Alegre, a marca foi de 14,5% da área urbana.
O levantamento do MapBiomas fez análises levando em consideração a cobertura e o uso da terra. As imagens revelam que a atividade agropecuária teve 1,012 milhão de hectares atingidos. Isso representa 64,2% do território usado pela atividade. Um hectare equivale a 10 mil metros quadrados (m²), ou seja, uma área com 100m de comprimento por 100m de largura.
O levantamento não tem elementos suficientes para apontar o tipo de cultivo, nem se as áreas já haviam sido colhidas.
Os pesquisadores notam ainda que alguns danos podem estar subestimados. "As imagens de satélite são obtidas em várias datas e contêm muitas nuvens. Então, algumas áreas afetadas podem não ter sido capturadas completamente no momento em que estavam com enchente, por exemplo”, explicou à Agência Brasil o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo.
Números
De acordo com boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul divulgado na manhã de hoje, o estado tem 572.781 pessoas desalojadas. Mais de 30,4 mil estão em abrigos. São consideradas desaparecidas 41 pessoas. O número de mortes é de 172.
O Lago Guaíba, que banha a região metropolitana de Porto Alegre, vem se mantendo abaixo da cota de inundação.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura de Porto Alegre tende a subir nos próximos dias, e os volumes de chuva no decorrer do mês serão pouco expressivos.
Leia mais
- O descontrole na urbanização das áreas úmidas do RS construiu a maior catástrofe climática do nosso tempo. Entrevista especial com Nina Moura
- Tragédia intelectual e ideológica é anterior e agrava a catástrofe ambiental no RS. Entrevista especial com André Moreira Cunha
- “Precisamos entender e respeitar a natureza, caso contrário, teremos mais desastres”. Entrevista especial com Moisés Rehbein
- Justiça climática é fundamental para que um desastre futuro seja menos sufocante que o anterior. Entrevista especial com Leonardo Rossatto
- A tragédia no RS surge do capitalismo desgovernado que domina a política nacional. Entrevista especial com Tiago Holzmann da Silva
- Novo Regime Climático. “Não podemos continuar fazendo mais do mesmo”. Entrevista especial com Marcelo Dutra da Silva
- Tragédia no RS: “Temos que exigir políticas públicas condizentes com o tamanho da encrenca em que estamos metidos”. Entrevista especial com Luciana Ferrara
- A catástrofe climática é, também, resultado de uma sociedade eticamente passiva e egoísta. Entrevista especial com Clóvis Borges
- “Colapso é a forma como estamos atuando diante das mudanças climáticas”. Entrevista especial com Paulo Petersen
- Presos em sua “bolha opaca”, governantes negligenciaram as previsões sobre a tragédia no RS. Entrevista especial com Heverton Lacerda
- Tragédia do Rio Grande do Sul. Um desastre previsto. Entrevista especial com Paulo Artaxo
- Subjugada no RS, crise climática está associada a maior enchente do Estado. Entrevista especial com Francisco Eliseu Aquino
- Maior enchente da história em Porto Alegre. RS está no epicentro dos eventos extremos de precipitação. Entrevista especial com Rodrigo Paiva
- "A extinção da FEE fará com que o Estado do Rio Grande do Sul economize menos de 0,08% do seu orçamento". Entrevista especial com Augusto Pinho de Bem
- “Não temos mais lágrimas pra chorar”: A cidade gaúcha destruída pela 3ª vez por enchentes
- O pós-desastre do RS à luz da Economia de Francisco
- A situação dramática do povo gaúcho e o papel do Estado na gestão da dívida pública do Rio Grande do Sul. Artigo de Rosa Angela Chieza e Cristiano Castro Forlin
- Rio Grande do Sul: governança para prevenir desastres climáticos
- RS. "Um evento extremo que sinaliza uma mudança para o novo normal" - X-Tuitadas
- Tragédia climática e ambiental no Rio Grande do Sul em 2024. Artigo de Paulo Brack
- Mesmo com desastres, adaptação climática ainda não é prioridade em municípios no Brasil
- Escoamento das águas pluviais pode ser uma grande fonte de microplásticos
- Porto Alegre, epicentro das enchentes no Brasil, é hoje uma cidade distópica
- Mudanças climáticas e economia: estudo revela impacto global de US$ 38 Trilhões
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Calamidade gaúcha: 73 cidades tiveram pelo menos 10% da área atingida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU