14 Mai 2024
"Em 2021, nem o documento preparatório nem o vade-mécum da Comissão Metodológica falaram sobre eles. Nos relatórios nacionais houve raras menções, como na Bélgica; mas também nos relatórios continentais de 2022 não houve nada, exceto uma vez no relatório para a Oceania ('As pessoas sabem reconhecer um bom padre pastoral quando o têm'). Em 2023, não se fala de pároco nem no Instrumentum laboris nem no relatório de síntese da Assembleia Sinodal", escreve Arnaud Join-Lambert, professor de teologia da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, em artigo publicado por La Croix, 06-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os párocos serão os grandes ausentes do atual Sínodo? O seu papel no Sínodo foi destacado como decisivo, tanto positivamente em termos de encorajar a participação das comunidades cristãs, como às vezes negativamente devido à sua passividade ou mesmo à sua atitude crítica.
Essa é provavelmente uma das razões pelas quais a secretaria do Sínodo organizou um "encontro internacional dos párocos", de 28 de abril a 2 de maio, em Roma. Contudo, a questão é mais fundamental do que a boa ou má vontade de uns e de outros. De fato, não são os párocos que estão “ausentes” do processo, mas a sua missão concreta, ou mais precisamente o ofício curial. Vamos olhar os documentos de 2021. A palavra “pároco” não aparece em lugar nenhum. Isso é muito significativo, uma vez constatada essa invisibilidade.
Em 2021, nem o documento preparatório nem o vade-mécum da Comissão Metodológica falaram sobre eles. Nos relatórios nacionais houve raras menções, como na Bélgica; mas também nos relatórios continentais de 2022 não houve nada, exceto uma vez no relatório para a Oceania ("As pessoas sabem reconhecer um bom padre pastoral quando o têm"). Em 2023, não se fala de pároco nem no Instrumentum laboris nem no relatório de síntese da Assembleia Sinodal.
No entanto, todos esses textos falam muito sobre de padres (no plural). Mas analisando mais detalhadamente, muitas vezes se referem a párocos, isto é, sacerdotes com responsabilidade pastoral territorial. Contudo, os párocos não são a maioria dos padres, longe disso. De quem estamos falando quando falamos de padres? Existem, obviamente, os vigários paroquiais, os capelães dos jovens, os capelães dos movimentos e os capelães dos hospitais. Existem padres idosos, padres em posições de responsabilidade, como os vigários episcopais ou os vigários gerais, professores, formadores, etc. Em suma, estamos falando de todos os sacerdotes, ou especialmente dos párocos sem nomeá-los?
Referir-se apenas à figura do padre pareceria certamente mais favorável a uma inversão sinodal, porque escapa a qualquer estrutura de governo. Mas aqui está o problema. Não usar a palavra “pároco” prejudica a reflexão em curso.
O princípio teológico da sinodalidade refere-se a um modo de vida na Igreja, e também ao governo em todos os níveis, à delimitação precisa e distribuição do poder pastoral essencial para a vida da Igreja. Se seguirmos o direito canônico da Igreja, o ofício curial é uma função, um ministério, que cobre muitos âmbitos. É um poder muito amplo que, no papel, pode ser compartilhado bem pouco.
É, portanto, urgente chamar as coisas pelo seu nome. Há uma lacuna no processo sinodal atualmente em curso, que poderia gerar confusão no imaginário, nos discursos e nas ações de pessoas. A figura do padre é valorizada como sacramental, enquanto aquela do pároco é vista como um poder decorrente de uma nomeação. No Sínodo foi, portanto, fundamental o papel de especialistas competentes, como o eclesiólogo canadense Gilles Routhier, que falou no encontro romanos dos párocos e o canonista belga Alphonse Borras, também especialista no Sínodo.
Usar o termo “pároco” significa ter a coragem de correr o risco de enfrentar de frente as dificuldades de uma sinodalidade cotidiana diante de uma estrutura de poder tradicional. Esse encontro de párocos não é um evento marginal no Sínodo sobre a sinodalidade. A sua dimensão simbólica vai além do envolvimento dos indivíduos. É um reconhecimento do papel central dos párocos na vida da Igreja e da necessidade de repensar as várias dimensões do ofício curial no Código de Direito Canônico.
É importante ouvir os próprios párocos, pois foi anunciado que isso ajudará a preparar o Instrumentum laboris para a Assembleia de outubro de 2024. Seria oportuno, e na minha opinião urgente, se não se falasse mais de padres em geral, mas se colocasse a questão do ministério do pároco, em vista de reformas baseadas no princípio teológico da sinodalidade.
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Os párocos são os invisíveis do Sínodo. Artigo de Arnaud Join-Lambert - Instituto Humanitas Unisinos - IHU