13 Mai 2024
"O presidente Lula é o maestro da orquestra. O papel dele é coordenar. Agora... Ele fica, coitado, tem que apagar um incêndio a cada dia. E a composição do ministério depende de acordos políticos, de concessões, coalizões. A coisa não é fácil. Na política não existe o ideal. Existe o possível. O governo faz o que pode. O Lula governa com duas tornozeleiras eletrônicas, uma em cada perna: o Banco Central e o Congresso. Ele dá nó em pingo d'água, continua dando, é um gênio. Ele realmente é um cara que toca de ouvido a orquestra e faz funcionar a música, mas é muito difícil", constara Frei Betto, em entrevista a Joelmir Tavares, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-05-2024.
Segundo o escritor, "o que estraga o Brasil é a nossa elite, que é uma elite colonizada, que não saiu da casa-grande até hoje, voltada unicamente para os seus privilégios. É uma elite que tem ódio, raiva e nojo do povo. Só pensa em termos do seu paraíso fiscal, nunca pensou em criar uma nação com dignidade e decência"
Referindo-se ao artigo Cabelos brancos, de Frei Betto, ele foi perguntado sobre a "a conexão entre a falta de renovação da esquerda e a perda de popularidade da Igreja Católica", o frade dominicano afirma que é evidente a conexão. "Esse neoconservadorismo está impregnando a Igreja Católica, que hoje é um corpo esdrúxulo: tem uma cabeça progressista, que é o [papa] Francisco, mas a maioria dos padres e seminaristas da safra atual é de formação conservadora. Eles são mais voltados para a liturgia e a paróquia e alheios à opção pelos pobres. O fundamentalismo no catolicismo é tão forte quanto entre os evangélicos".
"O fato de o líder ser progressista faz então o sr. crer num processo que leve a uma nova igreja?", pergunta o jornalista.
"Não, eu ainda não tenho essa esperança - responde Frei Betto. A resistência do corpo eclesiástico ao próprio Francisco é muito forte e permanece o clericalismo, em que tudo é centrado na figura do padre. Numa igreja evangélica, as pessoas têm protagonismo e o culto é muito imagético. Numa igreja católica, os leigos são considerados seres de segunda classe e, em geral, a missa é aborrecida. A comunidade evangélica resgata a autoestima da pessoa, e a católica só fazia isso nas Comunidades Eclesiais de Base. Mas, como deixaram de ter importância para o episcopado, elas refluíram.
A íntegra da entrevista pode ser lida aqui.
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"O neoconservadorismo está impregnando a Igreja Católica, que hoje é um corpo esdrúxulo: tem uma cabeça progressista, que é Francisco, mas a maioria dos padres e seminaristas da safra atual é de formação conservadora", constata Frei Betto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU