04 Mai 2024
"A sinodalidade é o caminho que Deus oferece à Igreja para aprender a ser Igreja profética, retomando o único caminho que é dado percorrer ao povo santo de Deus: o caminho do Êxodo", escreve Dario Vitali, em artigo publicado por Vita Pastorale, maio de 2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Dario Vitali é professor de eclesiologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, consultor da secretaria geral do Sínodo dos Bispos e coordenador dos especialistas em teologia na primeira fase sinodal.
A segunda sessão da Assembleia do Sínodo, que se celebrará no próximo mês de outubro, tem dificuldade para se firmar — pelo menos na Itália — como uma passagem eclesial que empenha toda a Igreja e todos na Igreja. Muitos parecem aguardar aquela data sem particulares entusiasmos; a devolução do Relatório de síntese às Igrejas particulares pela Secretaria Geral do Sínodo, com o pedido de aprofundar o tema da Igreja Sinodal em missão, não parece suscitar particular interesse. Vislumbra-se uma espécie de cansaço, se não de intolerância, em relação ao processo sinodal. Não se percebe no caminho sinodal a oportunidade de pensar de outra forma o modo de ser Igreja.
A dificuldade de romper com aquele modelo, tão enraizado por séculos, parece ser a causa de tanta resistência e dificuldade para entrar num estilo e numa forma sinodal de Igreja. Nessa lógica entende-se a resistência em receber o axioma de que “nas respectivas igrejas, formadas à imagem da Igreja universal, das quais e pelas quais existe a Igreja católica, una e única” (LG 23). A tese da precedência ontológica e temporal da Igreja universal sobre as Igrejas particulares foi o teste decisivo daquela dificuldade. Muitos hoje parecem ter perdido a memória e se esforçam para despejar sobre o atual pontificado as causas de uma situação tão comprometida que nem mesmo uma ação de reforma tão radical nos conteúdos e nos métodos conseguiu alterar. Continua-se a pensar a Igreja a partir do Papa, não o Papa a partir da Igreja. O que é o mesmo que pensar a Igreja a partir dos padres e não vice-versa.
Por isso, tem dificuldade para crescer a consciência de que a Igreja é “o corpo das Igrejas”, com um ministério petrino que tem a tarefa de “presidir à universal assembleia da caridade, proteger as legítimas diversidades e vigia para que as particularidades ajudem a unidade e de forma alguma a prejudiquem" (LG 13). Assim como tem dificuldade para se firmar a sinodalidade, que aplica esses princípios. Aqui reside o verdadeiro desafio que a sinodalidade coloca para a Igreja: que processos de decisão partilhados podem ser aqueles produzidos por sujeitos que sentem dificuldades em pensar em si mesmos como tais? Que tendem a seguir ordens ditadas pelo centro, em vez de assumir a responsabilidade de uma presença profética nos contextos em que vivem?
Nem se deve pensar que o pedido de maturidade seja apenas funcional para o sucesso do processo sinodal. Que outro caminho pode percorrer a Igreja num mundo profundamente mudado, onde os cristãos voltaram a ser uma minoria cada vez mais reduzida? Que futuro pode esperar a Igreja se as Igrejas nos seus contextos não forem sujeitos capazes de sustentar a diferença cristã? É possível ser uma minoria presa à memória dos bons e velhos tempos. Mas, também se pode ser uma minoria profética que assume com coragem o desafio de anunciar e testemunhar também hoje a salvação em Cristo. A sinodalidade é o caminho que Deus oferece à Igreja para aprender a ser Igreja profética, retomando o único caminho que é dado percorrer ao povo santo de Deus: o caminho do Êxodo.
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Conversão pastoral e reforma das estruturas. Artigo de Dario Vitali - Instituto Humanitas Unisinos - IHU