03 Mai 2024
Como incentivo à ação diaconal, educadora e ilustrativa, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) lançou um guia explicando o que é a fístula obstétrica e como preveni-la, entendendo que se trata de um problema de saúde vinculado aos direitos humanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano entre 50 mil a 100 mil mulheres são afetadas por essa condição. Outra estimativa fala que de 2 a 3 milhões de mulheres vivam com fístula obstétrica não tratada, de modo especial na Ásia e na África.
A reportagem é de Edelberto Behs.
A fístula obstétrica é uma lesão física evitável que ocorre após trabalho de parto prolongado ou obstruído, sem acesso a cuidados de saúde adequados. Mas ela também pode ocorrer como consequência da violência sexual, estupro, às vezes incluindo o uso de objetos – especialmente em zonas de guerra civil e conflito. Ela provoca uma ruptura (fístula) entra a vagina e a bexiga ou o reto da mulher, ou ambos, explica o guia.
Se não for tratada, essa condição pode ter graves consequências médicas, emocionais, psicológicas e econômicas. A incapacidade de controlar a urina ou as fezes significa que as mulheres vivam com odor desagradável permanente, resultando daí o isolamento social, o enfrentamento do estigma e da rejeição. A principal solução é a cirurgia reconstrutiva realizada por cirurgião especialista em fístulas. A taxa de sucesso chega a 90% nos casos menos complexos.
Embora a fístula possa afetar todas as mulheres, as mais jovens e adolescentes correm risco maior porque seus corpos ainda estão em fase de formação. Esse risco aumenta se a mulher sofrer de desnutrição. A educação para a saúde pode ajudar mulheres a entenderem as causas, os perigos e possíveis formas de prevenir a fístula obstétrica. “Prevenir a fístula inclui também tratar as desigualdades, educar e empoderar as mulheres”, diz o guia.
As igrejas, enfatiza o CMI, são – ou deveriam ser – lugares onde cuidar do próximo é uma responsabilidade primordial. E o que é que elas podem fazer? Elas podem partilhar mensagens, também nas celebrações, relacionadas à prevenção da fístula obstétrica; realizar estudos bíblicos e encontros centrados no cuidado que Jesus prestou a pessoas mais vulneráveis e marginalizadas; podem enfatizar o papel crítico da educação – meninas chegam a largar os estudos para se casarem e são menos propensas a entender a importância da nutrição, de fazer o acompanhamento pré e pós-natal.
As igrejas podem trabalhar com profissionais na promoção da educação para a saúde, de modo particular em questões de saúde reprodutiva, maternidade segura e nutrição; oferecer transporte de emergência para que mulheres grávidas cheguem aos hospitais no momento do parto; demandar junto às autoridades locais e nacionais que haja recursos suficientes para o setor de saúde, a fim de assegurar às grávidas acesso a serviços adequados; encorajar visitas pastorais “de mulheres para mulheres” durante a gravidez para assegurar que elas tenham acompanhamento caso não reaparecerem na vida pública após o parto.
Existe um Dia Internacional para a Erradicação da Fístula Obstétrica – 23 de maio. A cada dois anos, a Assembleia Geral das Nações Unidas adota uma resolução que apela para que sejam empreendidos esforços para erradicar a fístula obstétrica até 2030.
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Fístula obstétrica, um problema de saúde que atinge mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU