16 Mai 2024
Vemos tantas teologias: da prosperidade, do domínio, do arrebatamento… Elas frutificam sobre pessoas que buscam conforto e segurança – e seus padres e pastores galgam cargos públicos. Assim, elas alimentam a ultradireita de uma forma que o neoliberalismo nunca conseguiu.
O artigo é de Roberto Malvezzi (Gogó), músico e escritor católico, graduado em Estudos Sociais e em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena e em Teologia pelo Instituto Teológico de São Paulo. Foi coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) por seis anos. Reside em Juazeiro (BA) e atua na equipe CPP/CPT do São Francisco. O texto é publicado por Outras Palavras, 24-04-2024.
“Cuidado com essas teologias de rama”, nos dizia um professor de teologia ainda na década de 70. Ele nos alertava sobre essas teologias que fundamentam os movimentos católicos que costumam aparecer vez em quando. Referia-se a teologias desorganizadas, baseadas em textos bíblicos isolados, sem uma hermenêutica segura, sem exegese, com espiritualidades delirantes, distantes dos empobrecidos, mas que movimentam grupos por determinado tempo e depois desaparecem.
Hoje, quando vemos tantas teologias como a da Prosperidade, ou do Domínio, ou do Arrebatamento, me recordo das teologias de rama. Agora elas não estão somente nos grupos católicos fundamentalistas, mas também nos meios evangélicos. É até interessante ver alguns vídeos com pastores subindo literalmente em pilastras, ou no altar, ou dando bicuda na cara do cão, ou dançando um forró amuado com sapato de fogo. Primeiro, se fosse num terreiro de candomblé, iriam dizer que era uma possessão demoníaca. Como acontece em templos evangélicos, é obra do Espírito Santo. A mesma realidade nesses grupos católicos oracionais que desmaiam diante do Santíssimo, falam de forma exaltada, claramente momentos de transe religioso que cada um atribui a quem quiser conforme seus interesses.
A teologia do Domínio é uma dessas teologias de rama, mas que não pode ser desprezada. Ela visa ocupar os cargos no Executivo, no Judiciário e Legislativo, em todos os níveis. Busca controlar a educação, a cultura e a comunicação. Ocupa os conselhos e, sobretudo, as redes sociais. Não tem vergonha e nem escrúpulo em buscar o poder e impor ao restante da sociedade seu viés autoritário. É a ideologia perfeita da extrema-direita no acesso ao controle da consciência dos mais frágeis e necessitados.
O capital é inteligente, ninguém pode negar. Você não vai ver um faria-limer subindo pelas paredes num templo evangélico, ou num grupo exaltado de católicos, mas vai ver pastores e padres convencendo suas comunidades que essa ideologia é vontade de Deus. Enfim, onde a ideologia doutrinal da extrema-direita não pode chegar, a religião pode. Como dizia a inteligência dos Estados Unidos ainda na era Reagan: “religião se combate com religião, não com política”. Enfim, essa religião alimenta a extrema-direita nos meios mais pobres, o que a ideologia neoliberal não sabe fazer e não sabe como chegar.
Como já disse o Papa Francisco, “a direita é centrípeta”, isto é, gira ao redor de si mesma e não enxerga o resto do mundo. Num mundo caótico e cada vez mais líquido e inseguro, essas teologias têm muito espaço para crescer e influenciar as pessoas que buscam alguma forma de segurança. Quando uma se esgotar, surge outra no seu lugar. E sempre haverá fiéis para segui-las! Mas, é útil ajudar o povo a pensar um pouco sobre essa realidade.
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Teologias de rama num mundo caótico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU