20 Abril 2024
"A ideia moderna de poder, aliada ao capitalismo desenfreado, gerou os falsos mitos sobre os quais se sustentam as sociedades ocidentais atuais: eficiência, consumismo, aparência e desempenho máximo", escreve Roberto Oliva, presbítero da Diocese de San Marco Scalea, Itália, em artigo publicado por Settimana News, 16-04-2024.
O reverso da mundanidade espiritual, frequentemente apontado pelo Papa Francisco, está contido nessa espécie de força opositora a qualquer crítica ou ferida desestabilizadora a fim de garantir um desempenho excelente. Quase como se o cristão devesse manter em pé o seu próprio negócio em risco de falência ou infâmia.
A mundanidade eclesial mascara limites e quedas (às vezes até escândalos graves) para se mostrar sempre íntegra, saudável e impecável. Mas o centro da fé cristã não consiste talvez em sermos salvos e, portanto, em nos tornarmos portadores de alegria e gratidão? Nada, de fato, é mais insidioso do que o orgulho espiritual que lentamente transforma o cristianismo em um traje moral e cultural onde não há mais tempo para buscar a salvação, mas apenas espaço para medir rigidamente as fraquezas alheias.
A mundanidade eclesial, apesar de criticá-los, adota os critérios da mentalidade dominante, pintando-os com símbolos e linguagens religiosas. Referindo-se ao risco de uma Igreja muito eficiente e pouco evangélica, o Papa Francisco, em sua homilia aos religiosos e religiosas em 2 de fevereiro passado, afirmou:
"E o nosso é um mundo que frequentemente corre a grande velocidade, que exalta o «tudo e já», que se consome no ativismo e procura exorcizar os medos e as angústias da vida nos templos pagãos do consumismo ou da diversão a todo o custo. (...) A vida cristã e a missão apostólica precisam que a expetativa, amadurecida na oração e na fidelidade diária, nos liberte do mito da eficiência, da obsessão do lucro e, sobretudo, da pretensão de encerrar Deus nas nossas categorias, porque Ele vem sempre de modo imprevisível, vem sempre em tempos que não são os nossos e sob forma diferente da que esperávamos".
A ideia moderna de poder, aliada ao capitalismo desenfreado, gerou os falsos mitos sobre os quais se sustentam as sociedades ocidentais atuais: eficiência, consumismo, aparência e desempenho máximo. À luz das palavras do Papa Francisco, cinco atitudes alternativas à mundanidade espiritual parecem significativas, unindo o frescor evangélico às mais interessantes pesquisas dos estudos antropológicos, sociológicos e psicológicos atuais:
Mais do que a corrida desenfreada, aos cristãos pertence a capacidade de desacelerar. A lentidão vence toda ansiedade negativa que transforma o tempo em um adversário a devorar e o outro em um rival a superar.
A lentidão da caminhada permite ao cristão manter o olhar fixo no Reino a ser acolhido, como meta de esperança segura enquanto aprende a saborear o tempo e as coisas.
"A vida adoece quando alguém renuncia a ouvir a chamada do próprio desejo" (M. Recalcati). A força do Evangelho corresponde à realização da sede de autenticidade e plenitude inerente ao coração de todo ser humano.
Além dos resultados fáceis, a Igreja poderia educar o desejo pelas pequenas coisas para promover personalidades cheias de esperança e vida: quem deixa de desejar se refugia no hábito e no compromisso.
A tradição contemplativa querida à espiritualidade cristã sempre demonizou o ativismo. De fato, aprender a contemplar não é uma missão reservada aos monges, mas a todos aqueles que, mesmo fora do templo, sabem olhar com gratidão e admiração a beleza espalhada na criação e nas pessoas.
A contemplação abre para o valor do gratuito: não valho apenas quando faço algo, mas também quando aprendo a agradecer.
Em um tempo em que se evitam a morte e a doença, a Igreja é chamada a promover a primazia da realidade, composta por limites e contingências.
Acolher o real tornando-se, mistagogicamente, humanos revela-se uma oportunidade libertadora e gratificante sem fugas e alienações desumanizadoras: "A realidade é superior à ideia" (Papa Francisco).
A qualidade dos relacionamentos eclesiais expressa mais confiança do que o valor das estratégias e da eficiência. Os relacionamentos eclesiais tornam-se profecia de fraternidade além do dogma do "consumo, logo existo". Redescobrir que é possível nutrir-se também de amizades e afetos não direcionados para ganhar algo além da alegria de caminhar juntos e compartilhar as experiências mais íntimas e profundas.
Além da necessidade de parecer impecável, ao cristão interessa preservar relacionamentos estáveis e duradouros. A partilha abre para a primazia do relacionamento além de qualquer erro ou queda.
Essas cinco atitudes, com sabor evangélico, exigem ser vividas com coragem à luz da promessa de Deus, que na força revolucionária do Evangelho, nos convida a não sermos vencidos pelo medo. À medida que aumenta o risco de uma Igreja eficiente que obscurece o frescor evangélico, é necessário recuperar a perspectiva pela qual vale a pena acolher a boa notícia: apenas ela é capaz de humanizar, sem alienações, os limites humanos. A boa notícia é a força que vem da fraqueza:
"Portanto, eu me gloriarei ainda mais das minhas fraquezas, para que a potência de Cristo permaneça em mim. Portanto, me deleito nas minhas fraquezas, nos ultrajes, nas dificuldades, nas perseguições, nas angústias sofridas por Cristo; pois quando sou fraco, então é que sou forte (2 Cor 12,9-10)."
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Além do mito da eficiência. Artigo de Roberto Oliva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU