02 Abril 2024
A voz dele está um pouco cansada, às vezes tem que pigarrear. Mas o Papa, na principal de todas as Vigílias na Basílica de São Pedro, está presente. Ele preside com tenacidade a liturgia mais longa de todas (quase três horas), na noite depois de ter seguido da Casa Santa Marta a Via Sacra até o Coliseu “para preservar a saúde” em vista das funções pascais. E Francisco também lê a homilia. Medita sobre essa noite em que se celebra a vitória da vida sobre a morte, “o triunfo da luz sobre as trevas, o renascimento da esperança dentre os escombros do fracasso”. É o “poder surpreendente da Páscoa”, a ressurreição de Cristo. É “o Senhor, Deus do impossível que, para sempre, removeu a pedra e começou a abrir os nossos sepulcros, para que a esperança não tenha fim”. Assim podem ser removidas as pesadas “pedras da morte”, como os dos “anseios de paz quebrados pela crueldade do ódio e pela ferocidade da guerra”.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 31-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Pontífice entra na Basílica empurrado numa cadeira de rodas. 6 mil fiéis o aguardam, segundo informa a Sala de Imprensa da Santa Sé. O Bispo de Roma começa o rito no átrio, com a bênção do fogo e a preparação do círio pascal. A procissão até o altar, com o círio pascal aceso e o canto do Exultet, será seguida pela liturgia batismal, durante a qual Bergoglio batiza oito neófitos: quatro italianos, dois coreanos, um japonês e um albanês.
As mulheres “vão ao túmulo aos primeiros raios do amanhecer, mas guardam dentro de si as trevas da noite", começa o Papa Francisco no seu sermão. Na verdade, elas se perguntam: “’Quem fará rolar para o lado a pedra da entrada?’. Ao chegarem ao local, porém, o surpreendente poder da Páscoa as assombra: ‘olhando para cima observaram que a pedra já havia sido rolada, embora fosse muito grande’”.
Aquela pedra, obstáculo “intransponível, era o símbolo daquilo que as mulheres carregavam no coração, o término de sua esperança: tudo se despedaçou contra ela, com o mistério sombrio de uma dor trágica que impediu que seus sonhos se tornassem realidade."
Bergoglio alerta que tudo isso pode acontecer “conosco também”. Às vezes “sentimos que uma pedra lapidar foi colocada pesadamente na entrada do nosso coração, sufocando a vida, extinguindo a confiança, aprisionando-nos no sepulcro dos medos e das amarguras, bloqueando o caminho para a alegria e a esperança. São ‘pedregulhos da morte’ e os encontramos, ao longo do caminho, em todas aquelas experiências e situações que nos roubam o entusiasmo e a força para seguir em frente”. Como nos “sofrimentos que nos atingem e nas mortes de entes queridos, que deixam em nós vazios insuperáveis; nos fracassos e nos medos que nos impedem de fazer o que de bom trazemos no coração”; em todos os fechamentos que “freiam os nossos impulsos de generosidade e não nos permitem abrir-nos ao amor; nos muros de borracha do egoísmo e da indiferença, que rejeitam o empenho em construir cidades e sociedades mais justas e à medida do homem; em todos os anseios de paz quebrados pela crueldade do ódio e pela ferocidade da guerra”.
No entanto, essas mesmas "mulheres que tinham as trevas nos seus corações testemunham-nos algo extraordinário: olhando para cima, observaram que a pedra já havia sido rolada, embora fosse muito grande".
Na direção de Deus, “então também nós devemos elevar o olhar - exorta o Pontífice -. Elevemos o olhar para Jesus: Ele, depois de ter assumido a nossa humanidade, desceu aos abismos da morte e atravessou-os com a potência da sua vida divina, abrindo para cada um de nós um vislumbre infinito de luz. Ressuscitado pelo Pai na sua, na nossa carne com a força do Espírito Santo, ele abriu uma nova página para a raça humana”. Bergoglio cita o teólogo alemão Karl Rahner: “A partir daquele momento, ‘nós, cristãos, dizemos que essa história… tem um sentido, um sentido que abrange tudo, um sentido que não está mais contaminado pelo absurdo e pelas trevas… um sentido que chamamos de Deus…
Todas as águas da nossa transformação fluem para ele; elas não afundam nos abismos do nada e do absurdo... pois o seu sepulcro está vazio e ele, que estava morto, mostrou-se como o vivente’". No Domingo, o programa do Papa inclui a Missa de Páscoa na Praça São Pedro, a Mensagem Pascal e a Bênção Urbi et Orbi da varanda central da basílica.
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As funções da Páscoa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU