21 Março 2024
A mensagem para o 11º aniversário do início do pontificado enviada pelo presidente Sergio Mattarella ao papa, no qual o pontífice é reconhecido por ter contribuído com seus incansáveis apelos pela paz na busca de uma solução para os conflitos fundada no direito internacional, representou uma pequena, mas significativa ajuda para a diplomacia do Vaticano.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 20-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O chefe de Estado escreveu ao pontífice: “Durante o último ano os seus incessantes apelos pela tutela dos necessitados, dos marginalizados, daqueles que sofrem devido a conflitos e violências, e pela paz ofereceram motivos de reflexão para aqueles que estão sinceramente empenhados na busca de soluções inspiradas nos princípios fundamentais do direito internacional e nos critérios de justiça e de equidade autêntica".
Em relação ao conflito na Ucrânia, as últimas e ousadas declarações de Francisco sobre as negociações de paz que Kiev deveria pedir, com bandeira branca a ser hasteada não como sinal de rendição, mas de paz e trégua, desencadearam as reações críticas de várias chancelarias europeias, recebendo aplausos apenas do Kremlin.
Um isolamento, o da Santa Sé, que se tornou mais palpável com as notícias vindas de Rússia, onde acabaram de ocorrer as eleições presidenciais.
A previsível vitória de Vladimir Putin, baseada na eliminação de qualquer credível candidato da oposição seja pelas vias burocráticas (como no caso de Boris Nadezhdin), ou recorrendo a meios extremos, como como demonstra o caso de Alexei Navalny, teve eco também no Vaticano.
Além disso, precisamente nesse ponto surge um problema de não pouca importância para a Santa Sé. O destino que coube a Navalny está ligado ao respeito pela dignidade humana – tema muito caro ao Papa – em pelo menos dois aspectos. Em primeiro lugar, aquele relativo à desumanidade do tratamento prisional. Depois, a limitação dos direitos humanos fundamentais pela proibição arbitrária de participar na vida política e democrática do seu país.
Portanto, a mensagem do governo tende a reconectar, para além das contingências políticas e das urgências do conflito, a mensagem de paz do Papa, que coloca sempre as vítimas civis das guerras no primeiro lugar, aos esforços necessários no plano diplomático para alcançar uma paz inscrita num projeto inspirado no respeito pelo direito internacional.
Nesse sentido, aliás, pode-se dizer que no texto do chefe de Estado também é possível ler uma reaproximação já clássica das relações institucionais desenvolvidas ao longo do último quarto de século: aquela entre a Santa Sé e a Presidência da República, em que a primeira vê a segunda como único verdadeiro garante da constituição republicana, da unidade do país e barreira insubstituível às possíveis pressões ideológicas daqueles que, em vez disso, querem questionar a estrutura constitucional.
“Poucas semanas atrás– pode ser lido na mensagem do palácio do governo – recordamos o 95º aniversário dos Pactos de Latrão e o 40º da concordata republicana. Na certeza de que a concretização de tais objetivos históricos consolidou ainda mais a colaboração frutuosa entre a Santa Sé e a Itália, desejo exprimir-vos a minha profunda gratidão pelo cuidado em relação ao povo italiano, testemunhado também pelas visitas apostólicas a Veneza, Verona e Trieste que estais prestes a fazer”.
Nas palavras de Mattarella também é possível perceber uma referência à autoridade moral do Papa, ao seu papel de personalidade de referência capaz de se dirigir a todos, crentes e não crentes, quando nos encontramos diante das questões cruciais da época que estamos atravessando: “Diante dos principais desafios do nosso tempo – não apenas as guerras, mas também as crescentes disparidades econômicas e sociais, os riscos ambientais e as repercussões éticas da utilização da inteligência artificial – crentes e não crentes são chamados a confrontar-se para identificar respostas coerentes com a proteção da dignidade humana e a promoção, em todo âmbito e circunstância, do bem comum”.
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Paz e “bandeiras brancas”, Mattarella vai em auxílio do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU