18 Março 2024
– O Japão já despejou 31.200 toneladas de água radioativa no Oceano Pacífico. Mais 54,6 mil toneladas serão descartadas no mar até abril de 2025, descargas que continuarão pelos próximos 30 anos.
– Para o Movimento Ibérico Antinuclear (MIA), do qual faz parte Ecologistas em Ação, este é um exemplo do perigo que representam as centrais nucleares e denuncia que a população mundial é obrigada a suportar os danos que elas causam.
– O MIA denuncia mais uma vez neste aniversário a ameaça representada pela continuidade da energia nuclear, especialmente depois das falsidades promovidas pelo lobby pró-nuclear.
A reportagem é publicada por Ecologistas en Acción, 11-03-2024. A tradução é do Cepat.
Treze anos se passaram desde o terremoto no Japão que causou três fusões de núcleos, três explosões de hidrogênio e a liberação de contaminação radioativa nas unidades 1, 2 e 3 da usina nuclear de Fukushima, entre os 12 e 15 de março. Ainda hoje, 1,3 milhão de m3 de água contaminada por resíduos altamente radioativos provenientes dos reatores danificados seguem armazenados na central.
A solução do governo japonês para este problema é descartá-la nas costas de todo o planeta, jogando-a na massa de água do oceano. Trata o mar como o seu depósito de lixo, aumentando o nível da radioatividade global em vez de manter o problema dentro das suas fronteiras, guardando os resíduos radioativos até que o seu nível de periculosidade seja reduzido. Tudo isso com o apoio da Organização Internacional de Energia Atômica, organização associada à ONU, criada em 1957 para promover o desenvolvimento de usinas nucleares.
As consequências do acidente de Fukushima, como as de Chernobyl e dos desastres nucleares anteriores, perdurarão por muitas décadas. As próximas gerações serão forçadas a lidar com elas. Contudo, a indústria nuclear pretende enterrá-los no esquecimento sob a bandeira da crise climática.
É uma aberração, porque a energia nuclear não chega sequer a 10% da produção global de eletricidade e gera emissões de CO2 muito superiores às das tecnologias renováveis (em média 66 gr/kwh em comparação com 32 da energia fotovoltaica ou os 10 gr/kwh da energia eólica em terra).
Novas centrais nucleares, sejam elas grandes ou pequenas como as SMR, exigem enormes investimentos (daí a razão pela qual a União Europeia teve de classificá-las como “verdes” para ter acesso ao financiamento). Além disso, levam mais de uma década para serem construídas: não seriam operacionais, a tempo de cumprir os prazos necessários para a redução das emissões. Pelo contrário, representam um desvio de recursos financeiros para enfrentar uma transformação energética adequada. No caso das usinas com mais de 40 anos de operação, que ultrapassaram o período para o qual foram projetadas e já estão amortizadas, o motivo de sua continuidade é a rentabilidade para seus proprietários. Um interesse econômico que se vê prejudicado quando têm que fazer investimentos significativos para resolver os problemas que surgem devido ao seu tempo de funcionamento. Ou investir na formação de novos trabalhadores para substituir os plantéis muito próximos da aposentadoria.
Estas centrais continuam a aumentar a quantidade de resíduos radioativos de alto nível para os quais cada país deve encontrar um lugar no seu território. No caso espanhol, esta solução definitiva será adiada para depois de 2070. Entretanto, os resíduos de alta atividade continuarão a ser armazenados às portas das fábricas durante mais de quatro décadas. O custo da gestão destes resíduos está provocando problemas às empresas elétricas espanholas, que se recusam a aumentar a contribuição que lhes cabe para que os seus resíduos possam ser armazenados e enterrados. Mas se a indústria nuclear demonstrou alguma coisa desde os seus inícios, é uma grande capacidade de fazer propaganda, e quer fazer com que a opinião pública e a classe política acreditem que se está à beira de um renascimento nuclear.
Para o MIA, na Espanha, trata-se de um impulso para que o governo não pague o que é necessário pelos seus resíduos radioativos e, no caso da UE, os graves problemas da França com a sua dependência nuclear. Por esta razão, é importante que os acidentes nucleares sejam levados em conta. Treze anos se passaram e ainda há 27 mil pessoas evacuadas que não podem retornar para suas casas.
Deve-se fazer a memória de Fukushima e todas as suas vítimas.
A central de Fukushima armazena 1,3 milhão de m3 de água contaminada por resíduos altamente radioativos provenientes dos reatores danificados. A água necessária para resfriá-los, além das águas subterrâneas e da chuva, mistura-se com a água altamente contaminada nos porões dos edifícios do reator. Apesar dos esforços para reduzir o fluxo, ainda são gerados cerca de 90 m3/dia, pelo que é necessário um novo tanque de 1.000 m3 quase a cada 10 dias. Quando os despejos de água contaminada no mar começaram, no verão passado, já havia 1.046 tanques acumulados. E haverá muitos mais.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou o acordo com o Japão para rever os despejos de água vários meses antes da sua primeira missão ao país. Não foi feita qualquer referência às implicações transfronteiriças. A única justificativa que apresentou foi que as descargas de água radioativa em rios e oceanos são uma prática comum e rotineira nas centrais nucleares. Outro impacto radioativo sistemático que se impõe aos países que optaram por não utilizar esse tipo de energia.
Apesar dos anos que transcorreram, persiste a oposição à poluição marinha, tanto por parte das cooperativas de pescadores locais como de grupos sociais no Japão e nos países vizinhos, com exceção da Coreia do Sul. A China continua a proibir produtos pesqueiros importados do Japão e não confia no processo de descontaminação da Tokyo Electric Power Company (TEPCO). O Fórum das Ilhas do Pacífico, uma organização de quase 20 países e regiões, incluindo a Austrália e a Nova Zelândia, apelou ao adiamento da descarga no oceano.
Os despejos não são a única solução possível. Em 2022, o painel de cientistas nomeados pelo Fórum das Ilhas do Pacífico propôs à TEPCO o “armazenamento” da água radioativa em terra na forma sólida: descontaminá-la, se possível, como se está fazendo e misturá-la com cimento para fixá-la no concreto, e utilizá-lo em funções com baixa probabilidade de contato humano, por exemplo no local da Fukushima Daiichi (paredes de contenção, contêineres, estabilização de pilhas de solo radioativo e similares). O concreto bloquearia a radiação do tipo beta do trítio durante os 60 anos necessários para que perdesse 97% de sua atividade. Esta proposta foi rejeitada sem uma avaliação adequada.
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Fukushima. 13 anos após a catástrofe, a ameaça radioativa aumenta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU