08 Março 2024
Fenômeno natural tem sido turbinado pelo aquecimento causado por ações humanas.
A reportagem é de Priscila Pacheco, publicada por Observatório do Clima, 05-03-2024.
Análise da Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicada nesta terça-feira (5) aponta que o El Niño atingiu o pico entre novembro e janeiro, mas mesmo em ritmo de enfraquecimento ainda tem 60% de chances de contribuir para temperaturas acima do normal em quase todo o planeta entre março e maio. A instituição ressalta que o El Niño não age sozinho. O calor intensificado é causado pelos gases de efeito estufa emitidos por atividades humanas.
“Todos os meses desde junho de 2023 tiveram recordes de temperatura e o ano passado foi o mais quente já registrado. O El Niño contribuiu para essas temperaturas, mas os gases de efeito estufa são inequivocamente o principal culpado”, diz a argentina Celeste Saulo, secretária-geral da OMM. Saulo também chama a atenção para as anormalidades da temperatura nos oceanos. “A temperatura da superfície do mar em janeiro de 2024 foi de longe a mais alta já registrada no mês. Isso é preocupante e não pode ser explicado apenas pelo El Niño”, completa. É possível que a superfície do mar também continue mais aquecida que o normal nos próximos meses.
O El Niño é um fenômeno climático natural que aquece a superfície do oceano no Pacífico tropical central e oriental, que influencia no clima e na formação de tempestades em diferentes partes do mundo. “Mas isso tem ocorrido no contexto de um clima sendo alterado pelas atividades humanas”, diz a análise.
Segundo a OMM, no pico, o El Niño atingiu cerca de 2°C acima da temperatura média da superfície do mar de 1991 a 2020 no oceano Pacífico tropical central e oriental, o que o tornou um dos cinco El Niños mais fortes, embora menos intenso do que os ocorridos em 1997, 1998, 2015 e 2016.
A OMM lembra que o El Niño contribuiu para fortes chuvas no Chifre da África e no sul dos Estados Unidos, e condições secas e quentes no Sudeste Asiático, Austrália, África Austral e norte da América do Sul. Um exemplo é a seca que atingiu a Amazônia e deixou comunidades isoladas por causa do baixo nível dos rios no Brasil.
Um estudo recente publicado na revista Scientific Reports também indica continuidade da influência do El Niño. O artigo, no entanto, diz que há uma probabilidade de 90% de a temperatura do ar superar os registros históricos até junho em todo o planeta por causa do fenômeno. Porém, há regiões mais suscetíveis a recordes, caso da Amazônia, áreas costeiras da Ásia, como a Baía de Bengala e o Mar da China, Alasca e Caribe.
Leia mais
- Amazônia sob extremos climáticos: temporais no Acre, seca e fogo em Roraima
- Acre é castigado por inundações três meses após seca severa na Amazônia
- Casa de Chico Mendes, símbolo da luta pela Amazônia, pode sofrer danos estruturais por cheias constantes
- Super El Niño: Brasil já enfrenta a nona onda de calor antes mesmo do início do verão
- Sob influência do El Niño, verão deve ter temperaturas acima da média
- Influência da mudança do clima foi maior do que El Niño na onda de calor de setembro, diz estudo
- Planeta viveu setembro mais quente da história e 2023 caminha para recorde de calor
- Quanto mais quente pior: o que dizem ambientalistas sobre onda de calor
- Fim da onda de calor vai provocar “gangorra” nas temperaturas
- Ondas de calor, queimadas e seca: os efeitos das mudanças climáticas na Amazônia
- Onda de calor anormal e potencialmente letal vai tomar conta do Brasil
- “Os oceanos nunca estiveram tão quentes como neste ano. O planeta mais quente altera a circulação oceânica e a circulação atmosférica”. Entrevista especial com Francisco Eliseu Aquino
- Mudanças climáticas pioraram seca na Amazônia, mostra estudo
- Amazônia extrema: seca recorde de 2023 pode ser sucedida por fortes cheias que ameaçam moradores
- Os sem água e sem peixe
- Como a ciência explica a seca histórica na Amazônia
- Seca catastrófica na Amazônia ameaça produção sustentável que mantém floresta em pé
- Seca amazônica “desliga” linhão do Madeira e hidrelétricas e faz governo acionar termelétricas
- Seca na Amazônia: a outra face dos eventos climáticos extremos
- Seca na Amazônia deve deixar meio milhão de pessoas sem água e comida
- Tragédia anunciada: destruição da Amazônia será 'catastrófica', alertam cientistas
- Seca no Amazonas deixa cidades isoladas e com escassez de alimento
- Seca na Amazônia faz quarta maior hidrelétrica do país suspender geração de energia
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
El Niño enfim arrefece; planeta não - Instituto Humanitas Unisinos - IHU